Cuidado parental: vale a pena o esforço?
Escrito e verificado por o biólogo Samuel Sanchez
Os ninhos nas árvores e as aves caçando alimentos para seus filhotes são uma imagem típica da primavera. Pode parecer um comportamento adorável, mas, por trás disso, esconde-se um mecanismo evolutivo complexo, cheio de nuances. O cuidado parental representa um gasto de energia devastador para os pais e pode até mesmo reduzir drasticamente sua sobrevivência.
Na natureza, toda força se baseia em um trade off, ou seja, uma troca. Uma balança invisível determina o comportamento dos animais, uma vez que tudo é governado pela necessidade de alcançar a próxima fase reprodutiva para dar origem a mais filhotes.
Então, o que compensa mais para os pais? Sacrificar a própria saúde para cuidar dos filhotes ou deixá-los à própria sorte e, assim, maximizar a própria chance de sobreviver até o ano seguinte?
Sem dúvida, a questão do cuidado parental é apaixonante e recomendamos que você continue lendo se quiser descobrir o porquê.
Pais ao resgate
Cuidado parental é definido como qualquer comportamento dos pais que aumente a viabilidade de sua descendência. Por exemplo:
- Preparação de ninhos ou tocas.
- Cuidado com os filhotes dentro ou fora do corpo dos pais.
- Aprovisionamento e alimentação dos filhotes após o nascimento.
- Nutrição dos filhotes até que alcancem a independência alimentar.
Simples, não é mesmo? Existe ainda uma distinção essencial dentro do conceito de cuidado parental:
- O gasto parental se refere aos recursos gastos pelos pais (incluindo tempo e energia) para cuidar de um ou mais descendentes. É quantificável, pois se baseia em uma proporção de recursos.
- O investimento parental é qualquer ação dos pais que aumente a sobrevivência dos filhotes implicando algum custo em relação à própria sobrevivência.
- Por exemplo: se um dos pais se expõe a predadores para encontrar comida para o filhote, suas chances de sobreviver diminuem. Por outro lado, as do filhote aumentam, porque ele não poderia se alimentar sozinho ou teria muito mais dificuldade para fazer isso.
Até onde vai esse custo?
Alguns estudos comportamentais mostraram que o cuidado parental pode ser devastador para os pais. Em uma espécie de andorinha (Delichon urbicum), verificou-se que a sobrevivência das fêmeas diminuía se elas tivessem duas ninhadas de filhotes ao ano.
Esse custo não se relaciona apenas com pôr os ovos: também envolve incubá-los e alimentar os filhotes até sua emancipação. Todo esse gasto de energia enfraquece a mãe e talvez seus reflexos fiquem diminuídos para se esquivar de um predador oportunista.
Outro estudo mostrou que, em uma espécie de chapim (Poecile Montanus), a sobrevivência dos pais nos três meses seguintes à época de reprodução estava negativamente associada ao número de filhotes. Ou seja, quanto mais filhotes, mais bocas para alimentar e menos tempo para encher a própria boca.
Uma dança numérica
A reprodução no mundo animal parece arriscada, não é mesmo? Felizmente, a matemática governa até mesmo os comportamentos mais primitivos.
O investimento parental ideal por filhote é aquele que maximiza a sobrevivência do filhote com o mínimo custo para os pais. Ou seja, benefício – custo = número positivo. Duas questões que os pais devem enfrentar são:
- Quanto investir em cada filhote: mais filhotes e menos investimento por filhote ou menos filhotes e mais investimento por filhote.
- Quanto investir na reprodução atual versus reprodução futura.
Tudo isso pode parecer complicado, mas, na verdade, existem funções matemáticas que explicam essa troca entre pais e filhos. No fim das contas, o esforço é quantificável (energia medida nos pais e porcentagem de filhotes que sobrevivem, por exemplo).
O número perfeito de filhotes é aquele que menos coloque os pais em risco para que possam sobreviver até a próxima estação reprodutiva.
Cuidado parental: altruísmo animal ou puro benefício próprio?
Falar que os pais dão a vida pelos filhotes incondicionalmente é distorcer a realidade. Afinal, embora seja triste olhar dessa maneira tão fria, os pais estão buscando apenas o benefício próprio.
No mundo selvagem, o motor da vida é a transmissão da própria informação genética. Ou seja, ter filhotes. Não se trata de uma atitude desinteressada como tal e, por isso, existem muito poucas espécies nas quais os adultos cuidam de filhotes que não sejam seus.
Vamos além: em muitas espécies nas quais os pais não conseguem se certificar de que os filhotes sejam realmente seus (fertilização externa de ovos de peixes por vários machos, por exemplo), os machos não cuidam da prole diretamente.
Assim, como podemos ver, o mundo do cuidado parental é complexo e se baseia em um jogo numérico. Trata-se de transmitir com sucesso o máximo de material genético possível, para que os filhotes possam seguir a linhagem no futuro.
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- https://esajournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1890/0012-9658(2001)082[2948:EOLHAE]2.0.CO;2
- https://www.jstor.org/stable/4185?seq=1
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