Síndrome vestibular em cães: tudo o que você precisa fazer
Escrito e verificado por o biólogo Cesar Paul Gonzalez Gonzalez
A síndrome vestibular é uma patologia de relativa frequência em cães que afeta os sentidos de equilíbrio e propriocepção. Embora nem todos os casos sejam tão graves a ponto de incapacitar o cão, é importante aprender a detectá-la e conhecer a fundo seus efeitos. Dessa forma, você pode salvar seu animal de estimação de muitos problemas adicionais desnecessários.
O sistema vestibular possui vários componentes que estão distribuídos no crânio e na medula espinhal. Quando algum deles é acometido, gera-se um quadro clínico específico, conhecido como síndrome vestibular. Continue a leitura e descubra tudo o que você precisa saber sobre essa patologia em cães.
O sistema vestibular dos cães
De acordo com um artigo publicado na revista Veterinary Clinics: Small Animal Practice, o sistema vestibular canino é dividido em duas partes:
- Sistema vestibular periférico: formado pelos canais semicirculares, pelos órgãos otolíticos, pelos gânglios vestibulares e pelo nervo vestibulococlear, localizado no ouvido interno.
- Sistema vestibular central: constituído pelos núcleos vestibulares que têm contato com o cerebelo, a medula espinhal e o córtex cerebral.
Embora pareça complexo, o mecanismo de ação desse sistema é relativamente simples. Em primeira instância, o ouvido interno recebe estímulos do ambiente e envia as informações através dos gânglios e nervos para o sistema vestibular central. Este último se encarregará de processar, analisar e enviar os pedidos adequados para que o órgão possa manter o equilíbrio.
Como é possível para o ouvido interno detectar a posição espacial do corpo canino?
Além da cóclea (que percebe o som), o ouvido interno também possui cavidades preenchidas com fluido viscoso (endolinfa) que são revestidas com células ciliadas sensíveis.
Quando a posição do corpo muda, o fluido se move e estimula os cílios das células. É assim que o sistema vestibular periférico obtém a posição espacial do corpo.
O que é a síndrome vestibular em cães?
De acordo com o portal veterinário Davies Veterinary Specialists, o grupo de doenças que afetam o sistema de equilíbrio dos cães é chamado de síndrome vestibular. Embora cada patologia tenha um impacto diferente no cão, todas elas produzem um quadro clínico semelhante. Essa é a razão pela qual são conhecidas como síndrome vestibular.
Como o sistema vestibular também envia sinais para os músculos e olhos, os problemas gerados pela síndrome podem se tornar incapacitantes para o seu cão.
Claro que isso depende de cada caso, mas a recomendação geral é levar o animal ao veterinário ao menor sinal de alerta.
Como essa doença neurológica se manifesta em cães?
Quando qualquer parte do sistema vestibular é afetada, diversos sintomas relacionados ao desequilíbrio são gerados no cão. Estes podem variar em intensidade dependendo da patologia que está sendo enfrentada. Alguns dos sinais clínicos mais comuns são os seguintes:
- Perda de equilíbrio ao caminhar.
- Inclinação da cabeça (permanente).
- Desorientaçao.
- Movimentos oculares involuntários (nistagmo).
- Dificuldade para se levantar.
- Vômito ou ânsia de vômito.
- Recusa ou relutância em andar.
- Giros sobre si mesmo (rolling).
- Marcha em círculos (circling).
- Paralisia facial.
Embora o quadro clínico pareça semelhante na maioria dos casos, a realidade é que existem certas diferenças únicas em cada um deles. Segundo artigo publicado na revista Compendium on Continuing Education for Veterinarians, é graças a isso que é possível distinguir se a patologia afeta a porção periférica ou central do sistema vestibular. No entanto, o diagnóstico do seu cachorro só pode ser feito pelo veterinário.
Causas da síndrome vestibular em cães
Existem diversas patologias ou complicações capazes de alterar ou danificar qualquer parte do sistema vestibular canino. O site The People’s Dispensary for Sick Animals lista algumas das causas mais frequentes:
- Infecções no ouvido médio ou ouvido interno (otite).
- Idade (pacientes geriátricos).
- Problemas no cérebro (tumores, infecções ou inflamações).
- Uso de medicamentos diferentes (efeitos colaterais indesejados).
- Origem idiopática (sem causa conhecida).
A lista completa de patologias que causam essa doença neurológica em cães é mais longa. De fato, um artigo publicado no The Veterinary Journal compila as condições ou problemas de saúde que podem ou não afetar o sistema vestibular:
- Problemas congênitos: associados à surdez.
- Problemas degenerativos: abiotrofia cerebelar.
- Neoplasias: carcinoma de células escamosas, fibrossarcoma, meningioma, linfoma e osteossarcoma, para citar alguns.
- Infecções ou inflamações: labirintite, criptococose e pólipos nasofaríngeos.
- Trauma: fraturas ou golpes fortes na cabeça ou perto do ouvido externo.
- Problemas hormonais: hipotireoidismo.
- Problemas vasculares: acidentes vasculares cerebrais.
- Deficiências nutricionais: baixos níveis de tiamina.
Antes de se alarmar, lembre-se de que muitas dessas últimas causas não são tão frequentes ou comuns. Por isso, procure um veterinário o quanto antes para que ele faça o diagnóstico e descarte as possibilidades.
Diagnóstico
Para diagnosticar a síndrome vestibular em cães, os profissionais costumam dividir o processo em várias fases. Em primeiro lugar, opta-se pela análise do histórico, seguida pela tomada de sinais vitais e pelo exame físico.
Com isso, pretende-se entender a gravidade dos sintomas e sua possível origem.Por isso, é normal que nesse momento sejam realizados testes de locomoção e sensibilidade, bem como checagens auriculares.
Se o veterinário não conseguiu determinar a possível origem do quadro clínico do seu animal de estimação, é provável que solicite exames complementares, como radiografias, tomografias e química do sangue. No entanto, lembre-se de que isso depende do critério do especialista. Portanto, não são exames necessários em todos os casos.
Embora o quadro clínico da síndrome vestibular seja fácil de distinguir, nem sempre é possível determinar sua origem. Esses cenários são conhecidos como “casos idiopáticos” e, segundo um estudo publicado na BMC Veterinary Research, é uma das causas mais comuns dessa doença neurológica em cães.
Cães geriátricos com síndrome vestibular
Cães mais velhos têm alguma suscetibilidade à síndrome vestibular idiopática. Essa é a razão pela qual também é conhecida como “síndrome vestibular do cão geriátrico”. De acordo com um estudo publicado no Journal of Small Animal Practice, a idade média em que esse problema aparece é a partir dos 10 anos, embora varie um pouco dependendo da raça.
É claro que nem todos os casos de cães geriátricos com síndrome vestibular são idiopáticos, mas esses animais podem sofrer de outra patologia que causa o quadro clínico. Por isso, um diagnóstico profissional deve ser feito para descartar outras patologias. Sobretudo porque nessa idade é comum que ocorram outros problemas no organismo, como doenças metabólicas ou neoplasias.
Tratamentos disponíveis
O tratamento dessa doença neurológica em cães concentra-se em eliminar ou controlar a causa que origina o quadro clínico. Nos casos mais graves, é possível que, antes de iniciar o tratamento central, o cão precise ser estabilizado por meio de terapia de suporte. Isso inclui o uso de sedativos e antieméticos para combater os sintomas produzidos pela síndrome.
Conforme mencionado em artigo publicado no The Veterinary Record, o veterinário deve lidar com o problema com várias abordagens, dependendo das necessidades do caso. Algumas das opções existentes para tratar a síndrome vestibular em cães incluem o seguinte:
- Administração de antibióticos: para eliminar infecções bacterianas, como otites.
- Administração de corticosteroides: para controlar vários tipos de inflamações.
- Quimioterapia: em caso de neoplasias.
- Intervenção cirúrgica: em casos de traumas ou neoplasias.
- Mudança de dieta: para resolver deficiências nutricionais.
- Administração de medicamentos hormonais: para controlar problemas como o hipotireoidismo.
Para o caso específico da síndrome vestibular idiopática, é usual optar-se por um tratamento de suporte paliativo (medicamentos que aliviam os sintomas). Não sabendo a origem do problema, é impossível corrigi-lo. No entanto, muitos cães que apresentam esta patologia recuperam-se espontaneamente, ao fim de alguns dias ou meses.
Prognóstico
O prognóstico da síndrome vestibular em cães é reservado, pois cada caso é único e não é possível generalizar os cenários. Embora seja verdade que muitos cães se recuperam completamente e não apresentam sequelas, isso se aplica apenas aos casos mais comuns, como otites e alguns casos idiopáticos.
Quando o dano do nervo é grave ou a causa da síndrome não pode ser eliminada, os cães mantêm vários dos sintomas a longo prazo. Estes podem ser tão simples quanto a inclinação da cabeça ou mais graves, como a incapacidade de andar.
De acordo com o portal VCA Animal Hospitals, mesmo que os cães se recuperem totalmente, alguns podem continuar a cambalear por toda a vida. Tudo depende do caso e do tipo de patologia que o paciente enfrenta.
Intervenção precoce
Como você pode ver, a síndrome vestibular em cães é um problema que deve ser levado a sério e rapidamente. Se você observar algum dos sintomas descritos acima, é melhor consultar um veterinário o mais rápido possível. Lembre-se de que, se a doença for detectada precocemente, há uma chance maior de que seu parceiro se recupere totalmente.
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