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Carta a você, que resgata animais de rua

4 minutos
Carta a você, que resgata animais de rua
Última atualização: 31 julho, 2018

“Você pode ser chamado de várias coisas: protetor(a), cuidador(a), defensor(a), louco(a) por animais, ou apenas, simplesmente… de louco(a).

Sabemos quem você é. Sabemos como é passar por um animalzinho doente, abandonado, ferido, sangrando, apodrecendo ou morrendo de fome nas ruas, nas beiras de estrada, no meio-fio, nos estacionamentos, perto do lixo, nos terrenos baldios, e simplesmente não conseguir fingir que não viu.

Sabemos como é. Arrumar aquela caixinha de papelão (ou aquela caixona, ou várias caixas), encontrar aquele lençol ou pano velho, correr de volta para o lugar onde está o animal, colocá-lo na caixinha. Pensar em como explicar pra família que arrumou “mais um animal pra cuidar”.

Passado esse momento, em que o olhar de gratidão do cachorro ou gato faz tudo valer a pena, começa a parte difícil.

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Sabemos o que é chegar acabrunhado numa clínica veterinária. Primeiro, tentamos a mais próxima de casa, ou do local em que foi feito o resgate. Chegamos desconfiados, meio tímidos, segurando nossa caixa de papelão.

Os atendentes da clínica sabem o que tem na caixa. Um resgate. De novo, um animal de rua resgatado. Sujo, infectado, cheio de carrapatos, sarna e pulgas, fedendo a xixi, imundo, faminto, abandonado. Não podemos mais atender nenhum.

Já atendemos demais, temos contas a pagar, os remédios são caros, os exames também, o centro cirúrgico não pode mais comportar. O internamento também não. E pra quê, se, no final, quase sempre, eles morrem, ou precisam ser eutanasiados.

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Sabemos quais são os seus medos. Eles têm nomes. Cinomose, Doença do carrapato, Leishmaniose, Raiva, Câncer, TVT, Infecção generalizada. Sabemos qual a palavra que você não suporta ouvir: eutanásia.

Sabemos como é. É ruim. É difícil. É sofrido, é desacreditado, é criticado, é mal-visto.

Será que vão me atender?

Você está sentado na clínica veterinária, com a sua caixinha de papelão no colo como se fosse uma preciosidade e rezando para tudo dar certo, enquanto espera uma cliente com um cachorro saudável ser atendida, sorridente e feliz. Ela finge que não te vê. A atendente demora mais do que o normal.

Mas, finalmente, a cliente tem que ir. E chegou a sua vez. Um homem de jaleco branco vem do corredor e olha pra sua caixa. Não olha pra você, olha pra caixa. E volta o olhar para a atendente, conversa assuntos cotidianos – qual paciente virá, qual remarcou, pede para encomendar alguma coisa.

Sai novamente e desaparece corredor adentro. Nesse ponto, você já está nervoso, pensando se não era melhor ter ido em outra clínica, mais popular, que tem “fama” de aceitar animais de rua, os resgatados, os que ninguém quer. E por que iriam querer?

Mas você vai confiante até o balcão de recepção, mesmo sem ser chamado. Deixa sua caixinha na cadeira ou leva-a para mostrar à atendente, explica que é um resgate. “Tadinho”, ela diz.

Então, explica que o Dr. Fulano está numa cirurgia e pode demorar. Você tem que explicar mais uma vez no trabalho ou em casa que vai se atrasar. Aceitou outro resgate.

O último resgate

Sentado naquela cadeira, solitário, pensando em como você se meteu naquela situação de novo, você sente frustração, desamparo, medo, e então, raiva.

“Por que fui resgatar mais um animal?” Depois que meu último resgate morreu, prometi nunca mais resgatar nenhum.

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Sabemos como é a dor de perder um animalzinho de rua, apesar de sabermos que fizemos a coisa certa. Apesar das medicações, das transfusões, das internações, dos tratamentos, das cirurgias, de todo o investimento e das nossas orações, das campanhas na internet, no whatsapp, no Facebook, apesar das rifas e das vakinhas, o animalzinho morreu.

E nos perguntamos se vale a pena continuar.

Vale a pena sim!

Se você acha que seu trabalho é inútil e se às vezes se sente um idiota por resgatar animais de rua, enquanto o mundo inteiro parece não se importar, gostaríamos de dizer que muitos de nós se importa sim!

Somos muitas pessoas ao redor do mundo que amam os animais e simplesmente não consegue deixá-los sofrendo sem ao menos tentar ajudá-los.

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Mas também sabemos que não se faz nada sozinho. É bom aproximar-se de outras pessoas e sobretudo de abrigos e associações sérias, que cuidam dos animais resgatados com amor e compromisso ético.

Você verá que não está sozinho(a), e que pode contar com ajuda para restaurar as vidas e a alegria de seus amigos peludos. Eles merecem uma chance e você é o anjo que quer lhes proporcionar isso.

Só temos uma coisa a dizer: Obrigado! Seu gesto nunca será esquecido e fará a diferença no coração de muitos seres… humanos também”.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.