É possível conversar com macacos?
Escrito e verificado por o veterinário Eugenio Fernández Suárez
É possível conversar com macacos? Esta é uma das perguntas mais comuns relacionadas aos primatas, feitas por muitas pessoas.
É impossível falar português, inglês, espanhol ou qualquer outro idioma com outro primata que não seja o ser humano.
Mas verdade é que podemos nos comunicar de maneira surpreendente com outros primatas.
Primatas usam gestos naturalmente
De fato, recentemente uma equipe de cientistas descobriu que chimpanzés e bonobos usam gestos de maneira natural para se comunicar, e estes são muito semelhantes.
Alguns chegaram a supor que um chimpanzé poderia se comunicar com um bonobo de maneira gestual.
Naturalmente, o que parece é que seus ancestrais comuns usaram gestos semelhantes. Mesmo alguns gestos têm semelhanças com aqueles que usamos na espécie humana.
Isso é surpreendente e é uma das primeiras indicações de que é possível conversar com macacos e outros primatas.
Língua de sinais, uma maneira de conversar com macacos
A partir dos anos 70, ainda havia muitos enigmas sobre a origem da inteligência e da linguagem humana. Já sabíamos que não viemos do macaco e que o ser humano não era o único a usar ferramentas.
Os primatas não dominam a fala humana, embora possam se comunicar com as pessoas através da linguagem de sinais.
Além disso, através de diferentes experimentos, foi observado que eles entendem e associam palavras a coisas.
Os primeiros estudos foram baseados em criação conjunta com bebês humanos, para ver se eles poderiam aprender a linguagem humana.
Enquanto, foi revelado que eles podiam entender muitas palavras, e até mesmo imitar algumas. Mas muitos rejeitaram o uso da linguagem por esses primatas.
Logo após isso, a atual realidade foi levantada: que eles não possam falar, não significa que não podem se comunicar.
Assim, várias investigações cientificas surgiram para ensinar a esses primatas a língua de sinais americana, e eles aprenderam!
O caso do chimpanzé Washoe
Um dos estudos mais conhecidos foi o de Washoe. Os psicólogos Beatrix e Allen Gardner fizeram toda a sua comunicação com este jovem chimpanzé através da língua de sinais durante anos.
Embora existam outros casos, como o de Nim, provavelmente Washoe é o primata que mais revolucionou a linguagem através dos experimentos desses psicólogos.
Washoe conseguiu aprender cerca de 150 palavras e se comunicava perfeitamente com seus cuidadores.
Ele até fez esses gestos enquanto dormia, o que indicou que outros primatas também têm sonhos que produzem sensações conflitantes.
Washoe aprendeu a se desculpar e expressar sentimentos, como alegria e tristeza. Mais tarde, ele foi capaz de inventar novas palavras para se referir a objetos e até mesmo ensinar essa língua para outro chimpanzé e ter conversas com este.
Koko e Chantek, outros macacos falantes
Um experimento semelhante foi realizado com a gorila Koko, que depois de 30 anos aprendeu mais de 1,5 mil palavras.
A grande diferença é que os chimpanzés se tornam muito agressivos na adolescência. Por isso, este experimento foi um dos mais longos de todos os tempos.
Como em outros casos, ela entende inglês falado e responde em linguagem de sinais. Ela também é capaz de se reconhecer em um espelho e expressar suas emoções.
Chantek é outro dos casos mais conhecidos. Este orangotango também foi criado como uma criança e foi um grande inventor de palavras.
Ele criou expressões complexas, como “pássaro vermelho”, entre outras.
Lexigramas, outra maneira de conversar com os macacos
Estudos foram realizados com ferramentas diferentes da linguagem de sinais. O uso de léxicos pela Chimpanzé Lana foi incrível: ela conseguiu fazer sequências gramaticais e inventar novas palavras.
Os lexigramas são basicamente símbolos que representam palavras, e que permitem dar um significado a uma imagem sem a necessidade de uma linguagem específica. Através de telas, os animais podem selecionar o léxico que eles quiserem.
Nos anos 80, foi iniciado um projeto com Kanzi, um bonobo que aprendeu o uso de lexigramas com a mãe.
Kanzi era bom em criar palavras, ferramentas ou mesmo esculturas e percussão. Além disso, ele também tem habilidades matemáticas.
A ética dos experimentos para conversar com macacos
A verdade é que, embora essas experiências tenham nos permitido descobrir coisas muito interessantes, devemos nos perguntar se esse tipo de projeto deve ser realizado.
A ideia de ter um macaco como animal de estimação é muito prejudicial para eles. Assim como a ideia de criar um desses animais para ensiná-los uma língua estranha.
Para muitos desses primatas serem dóceis e aprender, eles devem ter sido separados da mãe muito cedo, e isso gera um trauma. A extrema humanização que sofreram torna impossível a reintegração com a espécie.
Especialmente os chimpanzés podem se tornar agressivos e, além disso, muitos dos experimentos citados terminaram aos seis anos; a idade em que um chimpanzé entra na adolescência e se torna perigoso.
Um exemplo é o caso de Nim, um chimpanzé parecido com Washoe, que participou de uma pesquisa e acabou morrendo com 26 anos de ataque cardíaco.
Alguns desses animais, que confiaram em nós, vivenciaram o pior do ser humano; assim como aqueles que eram animais de estimação.
Outros, como Koko, permaneceram com todos os confortos da vida de um humano. Surpreenderam o mundo, mas se conhecessem outra vida, talvez preferissem estar com sua espécie, na natureza.
Um tema polêmico, cujos protagonistas revolucionaram a ciência, pagando um alto custo.
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