Eutanásia em cães: o que você deve saber
Escrito e verificado por veterinário e zootécnico Sebastian Ramirez Ocampo
Dizer adeus não é fácil. Muito menos se for para um ser leal e amoroso que o acompanhou durante muitas fases da sua vida. No entanto, certas condições levam a tal deterioração da qualidade de vida que a eutanásia em cães se apresenta como uma alternativa viável para evitar o prolongamento da dor e do sofrimento.
É normal que surjam muitas preocupações e sentimentos em torno dessa prática. Por isso, conhecer seus aspectos éticos, legais e emocionais permitirá que você tome uma decisão melhor em momentos difíceis. Não hesite em continuar lendo este artigo e descobrir tudo o que você precisa saber sobre esse procedimento.
Primeiro passo: entendendo a eutanásia canina
Em sua diretriz de eutanásia de 2020, a American Veterinary Medical Association (AVMA) define a eutanásia como “o término humanitário da vida de um animal de forma a minimizar ou eliminar a dor e o sofrimento”.
De acordo com essa definição, a eutanásia poderia ser considerada uma técnica compassiva que busca aliviar o sofrimento de um animal de estimação, concedendo-lhe uma morte suave e pacífica.
No entanto, sua prática deve ser levada a sério. Deve ser considerada apenas nos casos em que a qualidade de vida do cão esteja gravemente comprometida e o tratamento médico seja insuficiente ou a doença não tenha cura.
Conforme declarado pelos autores do guia, esse procedimento deve atender a duas condições para ser qualificado como válido:
- Deve ser feito por um profissional e apenas por questões de saúde e bem-estar animal.
- Técnicas humanas devem ser empregadas para induzir uma morte rápida, indolor e sem sofrimento.
Portanto, se a morte assistida não for realizada dentro desses parâmetros, não pode ser considerada eutanásia, e sim sacrifício.
Diferenças entre eutanásia e sacrifício
Ao contrário da eutanásia, o sacrifício não leva em consideração o estado de saúde do animal, sendo a morte realizada por motivos alheios ao seu bem-estar. Por exemplo, como diz um artigo da revista The Veterinary Record, nos Estados Unidos e no Reino Unido, todos os anos são sacrificados cães em abrigos devido à superpopulação e porque não se consegue encontrar uma pessoa para adotá-los.
No entanto, deve-se notar que, em países como a Espanha, a Lei de Proteção dos Direitos e Bem-Estar Animal proíbe explicitamente o abate de animais em centros de proteção e clínicas veterinárias pelos seguintes motivos:
- Superpopulação.
- Questões econômicas.
- Falta de vagas em abrigos.
- Incapacidade de encontrar um adotante.
- Abandono do tutor.
- Velhice.
- Doenças com possibilidade de tratamento.
- Problemas de comportamento.
O que diz a lei sobre a eutanásia em cães?
De acordo com o disposto na Lei de Proteção dos Direitos e Bem-Estar dos Animais da Espanha, a eutanásia “só se justifica a critério e controle veterinário, com o único objetivo de evitar sofrimento por causas irrecuperáveis que comprometam a qualidade de vida do animal”.
Além disso, um profissional deve respaldar e realizar esse procedimento, com métodos que garantam a condição humanitária e que correspondam aos autorizados pelas disposições legais.
Por esse motivo, não é aceitável que um proprietário ou indivíduo sacrifice cães. Muito menos por motivos não relacionados à saúde. Caso contrário, o sujeito estará envolvido em um crime, e incorrerá em uma das infrações classificadas como gravíssimas.
Como sabemos quando é a hora de optar pela eutanásia?
Embora possa ser difícil, existem certos comportamentos que ajudam a identificar quando é hora de tomar essa decisão tão complexa. Neste sentido, poderemos observar as seguintes manifestações, que podem ocorrer nos cães:
- Incapacidade de experimentar a vida como antes.
- Resposta diferente do habitual.
- Mais expressões de dor do que de prazer.
Nesses casos, é necessário se fazer a seguinte pergunta: “Meu cachorro tem mais dias ruins do que dias bons?” A resposta a essa questão servirá de base para ponderar se recorrer a essa alternativa é uma opção. Embora seja normal querer a companhia do seu animalzinho ao longo da vida, o apego à sua presença pode ser prejudicial, pois significa sofrimento prolongado tanto para o pet quanto para seu tutor.
Portanto, é possível qualificar a eutanásia como uma opção moral e ética aceita, pois sua finalidade é compassiva e humanitária.
Em quais doenças a eutanásia é justificada?
Como bem descrito, a eutanásia em cães só deve ser considerada como última opção nos casos em que o bem-estar do animal esteja altamente comprometido. Especificamente, como afirmado em dois artigos da revista Scientific Reports e Animals, podemos encontrar entre as patologias nas quais a eutanásia é mais recomendada:
- Câncer: especialmente se tiver se espalhado para diferentes órgãos e/ou quando o prognóstico com a quimioterapia é desfavorável.
- Doenças cardiovasculares: quando não há resposta ao tratamento e a deterioração da saúde é incompatível com uma boa qualidade de vida.
- Falência de múltiplos órgãos: nos casos em que a doença compromete diversos sistemas vitais do animal. Por exemplo, insuficiência renal crônica terminal.
- Distúrbios da medula espinhal: incluem defeitos congênitos, doenças degenerativas e traumas graves que afetam a correta mobilidade do animal.
Como é realizada a eutanásia em cães?
De acordo com o que foi exposto em uma publicação da World Society for the Protection of Animals (WSPA), o método mais eficaz para uma morte rápida, indolor e irreversível é a injeção de drogas intravenosas. O objetivo é provocar uma parada cardiorrespiratória no animal acometido.
Segundo esse documento, a droga de escolha é o pentobarbital a 20%, que tem ação rápida e não apresenta efeitos colaterais preocupantes. Da mesma forma, recomenda-se a sedação prévia do paciente com medicamentos como acepromazina, xilazina ou cetamina.
Mesmo, como relata um estudo no Journal of Veterinary Emergency and Critical Care, anestésicos como o propofol funcionam bem para levar o cão a um plano calmo, antes da injeção letal.
Para confirmar a morte do animal, os seguintes sinais devem ser observados e confirmados:
- Ausência de movimentos respiratórios.
- Ausência de batimentos à ausculta.
- Nenhum pulso sentido.
- Perda do reflexo de piscar.
- Olhos vidrados.
- Rigidez muscular.
Quanto custa?
Existem vários fatores que determinam o valor da eutanásia. O seu custo é estimado entre 200 a 400 euros, que são determinados pelos seguintes serviços:
- Consulta veterinária: entre 20 e 30 euros.
- Medicamentos: de acordo com o protocolo utilizado, o seu valor será entre 50 e 70 euros.
- Cremação do corpo: depende do peso e se a cremação for individual ou coletiva, o preço pode ser de 150 a 300 euros, respetivamente.
Eutanásia em cães: uma decisão baseada no amor
Se o seu animal de estimação sofre de uma doença terminal, cujo prognóstico é desfavorável, conceder uma pausa ao seu sofrimento é o último ato de bondade que pode fazer por ele. No entanto, lembre-se de consultar um veterinário para saber se sua condição pode melhorar com tratamento médico ou se existem outras opções.
Da mesma forma, a preparação emocional e a discussão da decisão com todos os membros da família podem tornar essa situação difícil mais suportável. Além disso, tente garantir que seus últimos momentos de vida sejam de puro prazer, dando-lhes o que eles quiserem comer, por exemplo. Por fim, é importante que o animal se sinta acompanhado, pois assim também será mais fácil para ele.
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