Os gatos também podem sofrer de problemas de separação
Os problemas de separação em cães são um tópico bem estudado, mas não foram investigados tanto no mundo felino. Sua reputação de animais independentes e distantes disseminou a sensação de que a ansiedade não existe em gatos, mas não é assim.
Está mais do que provado que os gatos domésticos criam um vínculo com seus tutores, por isso não é surpreendente que eles também possam desenvolver problemas relacionados ao apego. Isso é exemplificado pelos quadros de ansiedade de separação em gatos, recentemente estudados em profundidade por um grupo de cientistas. Aqui vamos falar mais sobre isso.
O que é a ansiedade de separação?
A ansiedade de separação é o sentimento de angústia e preocupação excessivas na ausência de outro animal. Pode ocorrer em qualquer espécie social, sendo mais comum nas domesticadas, como cães e gatos.
No caso específico dos gatos, o felino sente ansiedade toda vez que se separa de seu tutor ou de outro animal com o qual convive, coespecífico ou não. Os cães que tendem a passar o dia todo com seu humano e mostram intensa afeição são geralmente mais propensos à ansiedade de separação.
Como a ansiedade se manifesta em gatos?
Reconhecer os sintomas de ansiedade em gatos não é útil apenas para identificar o distúrbio em questão. Sua identificação pode ser aplicada a muitos outros contextos, como o estresse de uma mudança ou a inquietação de entrar na casa de outro animal. A seguir você encontra os sinais mais comuns de que seu gato pode estar sentindo ansiedade:
- Vocalizações exageradas e contínuas: choro, miado e gemido, entre outros.
- Fezes anormais e vômitos fora da caixa de areia: tapetes, objetos pessoais ou sofás são alguns dos locais que os felinos com esse transtorno podem escolher para se aliviarem.
- Comportamento destrutivo: não é que o gato afie as unhas no sofá, ele o destrói de propósito. Esse comportamento também pode ter como alvo outros móveis.
- Higienização excessiva: os gatos liberam sua tensão lambendo, mas quando o fazem por muito tempo ou ocorre alopecia, é motivo de preocupação.
Ansiedade de separação em gatos
No caso específico da separação gato-tutor os sinais de ansiedade são um pouco mais específicos. Os comportamentos descritos acima ocorrem em 2 momentos diferentes:
- Quando o tutor se prepara para sair: o gato sabe quais são os sinais que precedem a saída de seu humano, como vê-lo trocar de roupa ou colocar os sapatos. Nesse momento, predominam os comportamentos de apego, como vocalizações e gestos afetuosos.
- Quando o gato é deixado sozinho: nesse momento, aparecem as fezes anormais e os comportamentos destrutivos. As vocalizações excessivas também são comuns (embora ninguém possa ouvi-las).
Um estudo publicado em 2020 investigou essa questão devido ao período de quarentena necessário por causa da COVID-19, uma vez que muitos animais de estimação se acostumaram a ficar com seus tutores em casa permanentemente nessa situação excepcional. Aproveitando esse cenário, foram avaliados os comportamentos de apego e ansiedade de 223 gatos domésticos.
Os resultados foram reveladores: comportamentos como destrutividade, vocalização excessiva e micção ou defecação inadequada foram encontrados em 13,45% dos gatos na ausência dos tutores. Nesse grupo, os sinais de ansiedade de separação foram significativos.
No entanto, considerou-se que nesse estudo os tutores poderiam dar respostas tendenciosas no questionário e que uma validação observacional do comportamento dos animais seria necessária.
Como ajudar seu gato a superar a ansiedade?
O que fazer se você estiver nessa situação? Muitos tutores saem de casa com medo do que possam encontrar quando voltarem e sofrem com o desconforto do gato. Se o problema ainda for pequeno no seu caso, aqui estão algumas dicas para ajudar seu felino com ansiedade:
- Coloque uma música tranquila antes de sair: de preferência sons criados especificamente para gatos e que se mostraram eficazes em acalmá-los.
- Tente associar os objetos que desencadeiam a ansiedade do seu gato com coisas positivas: por exemplo, se o felino ficar chateado ao vê-lo calçar os sapatos, deixe-os com antecedência ao lado de uma guloseima ou brinquedo.
- Dessensibilize os estímulos estressantes: se o gato ficar ansioso quando você pegar as chaves, pegue-as e solte-as várias vezes ao dia. Dessa forma, você fará com que ele pare de associá-las à sua saída.
- Simule falsas saídas: abra, saia, entre e feche a porta de sua casa em momentos aleatórios. Esse é outro exercício de dessensibilização, mas tem melhor efeito depois de ter trabalhado os sinais prévios à sua saída.
- Distraia-o antes de sair: antes de sair, espalhe comida seca ou petiscos pela casa. Isso garantirá que o gato se concentre em procurá-los e não perceba que você saiu de casa. Jogos de inteligência também são uma boa opção.
- Peça a outro membro da família que preste atenção no bichinho ao sair: assim você diminui a sensação de abandono que a sua saída gera no gato. Além disso, mimos e jogos acalmarão sua ansiedade.
- Passe momentos de qualidade com o seu gato: se o amor e a brincadeira estiverem presentes no dia a dia, será mais fácil para o felino sentir que você sempre voltará, na medida em que demonstrar seu carinho.
- Crie rotinas: seguir horários rígidos para refeições, limpeza ou brincadeiras ajudará o gato a sentir que sua saída faz parte dessa rotina, assim como seu retorno. Subtrair a incerteza da vida do seu gato é sempre uma ajuda para a sua saúde mental.
Por último (mas não menos importante), não castigue o seu gato. Os comportamentos alterados que ele tem são produto da sua ausência. Embora seja uma situação difícil de lidar, uma bronca nunca vai resolver o que a paciência e o reforço positivo fazem. Se você descobrir que não consegue lidar com esse quadro sozinho, não hesite em consultar um profissional.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- de Souza Machado, D., Oliveira, P. M. B., Machado, J. C., Ceballos, M. C., & Sant’Anna, A. C. (2020). Identification of separation-related problems in domestic cats: A questionnaire survey. PloS one, 15(4), e0230999.
- Solis-Moreira, J. Cats Are Calmed by Cat-Specific Music.
- Edwards, C., Heiblum, M., Tejeda, A., & Galindo, F. (2007). Experimental evaluation of attachment behaviors in owned cats. Journal of Veterinary Behavior, 2(4), 119-125.
Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.