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Golfinhos e humanos: uma equipe para a pesca

4 minutos
A cooperação humano-animal não se limita apenas às espécies domésticas. Descubra neste artigo um comportamento excepcional entre dois dos mamíferos mais inteligentes do planeta.
Golfinhos e humanos: uma equipe para a pesca
Sebastian Ramirez Ocampo

Escrito e verificado por veterinário e zootécnico Sebastian Ramirez Ocampo

Última atualização: 07 julho, 2023

Embora os humanos tenham domesticado um certo número de animais ao longo de sua história, a relação interespecífica provou não se limitar apenas às espécies domesticadas. Esse é o caso dos habitantes de uma pequena região do sul do Brasil e de um grupo de botos selvagens, que se unem para obter melhores resultados na pesca.

Continue lendo e descubra mais sobre esse interessante fenômeno natural.

Golfinhos-nariz-de-garrafa, os melhores aliados

Na cidade litorânea de Laguna, no sul do Brasil, humanos e golfinhos da espécie conhecida como nariz-de-garrafa se unem com o mesmo objetivo: pescar o tão esperado peixe liso. Embora essa prática esteja documentada há vários anos, a comunidade científica não sabia como funcionava a cooperação entre essas duas espécies de mamíferos.

De fato, um estudo recente publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences lançou mais luz sobre esse fenômeno natural. Segundo a referida pesquisa, na qual drones e gravações subaquáticas foram utilizadas para monitorar o movimento dos cetáceos, o trabalho colaborativo funciona em várias etapas.

Primeiro, os golfinhos localizam cardumes usando seu sistema sonoro de ecolocalização, depois os agrupam e os levam para áreas costeiras, onde é mais fácil capturá-los. Isso é de grande ajuda para os pescadores, pois devido à turbidez da água, localizar os cardumes é quase impossível.

Então, quando as pessoas veem os golfinhos fazendo esse trabalho, preparam suas redes, esperando um sinal para fazer o próximo movimento. Por fim, no momento em que os cetáceos batem com a cabeça e a cauda nas ondas ou saltam sobre a água, os pescadores lançam as redes, pois é o sinal do sucesso da pescaria.

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Golfinhos e moradores da cidade de Laguna pescando em equipe.

Uma relação muito produtiva

Segundo o estudo citado, essa relação ancestral gera grandes benefícios para ambas as espécies. Por um lado, os habitantes que trabalham com golfinhos obtêm 17 vezes mais sucesso na pesca do que aqueles que o fazem sozinhos.

Noutro sentido, os golfinhos aproveitam quando os peixes ficam nas redes para comê-los dali. Além disso, os pesquisadores afirmam que os cetáceos que cooperam com os humanos têm uma chance 13% maior de sobrevivência.

Um mutualismo com muitas dinâmicas

Ao contrário do que se possa pensar, nem todos os golfinhos de Laguna participam da pesca cooperativa com os humanos. De fato, apenas 45% dessa população marinha o faz, enquanto o restante caça por conta própria.

Embora não se saiba a razão desse comportamento, existem alguns fatos interessantes sobre como a relação com os humanos influencia a vida social dos golfinhos. Segundo pesquisa publicada na revista Biology Letters, os golfinhos que participam da pesca com humanos têm maior afinidade com os que fazem o mesmo. Ou seja, há uma conexão maior entre golfinhos que realizam as mesmas atividades.

Em concordância com o exposto acima, os pesquisadores sugerem que a cooperação com os seres humanos intervém de alguma forma na organização social dos golfinhos-nariz-de-garrafa com seu ambiente. Da mesma forma, o estudo  The structure of a bottlenose dolphin society is coupled to a unique foraging cooperation with artisanal fishermen (A estrutura de uma sociedade de golfinhos-nariz-de-garrafa acoplada a uma cooperação única de forrageamento com pescadores artesanais, em tradução livre) aponta que os golfinhos transmitem e ensinam esse tipo de comportamento às novas gerações, garantindo, assim, a sobrevivência dessa prática ao longo dos anos.

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Os golfinhos são considerados o segundo animal mais inteligente do planeta.

Pesca de golfinhos, em risco de desaparecimento

As relações mutualísticas entre humanos e animais começaram há mais de 10.000 anos com a domesticação dos primeiros lobos selvagens durante o período Mesolítico. Graças a esse tipo de interações biológicas, pela primeira vez dois indivíduos de espécies diferentes puderam obter benefícios em troca do trabalho em equipe.

Mas, como acontece com outros fenômenos naturais, a poluição e a destruição dos ecossistemas ameaçam a pesca cooperativa entre humanos e golfinhos. Somado a isso, a pesca industrial tem causado a redução do número de pessoas dedicadas a essa atividade.

É importante lembrar que a cooperação valiosa entre diferentes espécies se tornou uma tradição cultural. Portanto, merece ser conservada acima do benefício econômico.

Está nas nossas mãos e nas das gerações futuras garantir não só a existência dos golfinhos-nariz-de-garrafa, mas também a preservação de uma interação tão fantástica que, infelizmente, está cada dia mais escassa.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


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