Leão hispano, um grande esquecido
Escrito e verificado por o advogado Francisco María García
O leão é um felino que está presente na simbologia da Espanha desde a união dinástica dos Reis Católicos. Junto com o touro, é a alegoria ou a personificação nacional animal do país ibérico. Isso pode parecer estranho, já que na Espanha não há leões. No entanto, nem sempre foi assim. Eles existiam por lá, e a presença do leão hispano ficou guardada no imaginário coletivo.
O leão, rei indiscutível dos animais, despertou desde o começo dos tempos a admiração e respeito dos seres humanos. Desde a época pré-histórica, o leão provocava terror em nossos antepassados. A seguir, veremos alguns elementos para entender melhor a história do leão hispano, esse grande esquecido.
Primeiras representações do leão na Espanha
Na península ibérica, as primeiras representações do leão surgiram com as tribos íberas. Nesse tempo, usava-se o rei dos felinos como inspiração para fazer esculturas de pedra. Um dos leões de pedra mais famosos é o de Pozo Morto, em Albacete, que é parte de um monumento funerário.
Entre as provas da existência física de leões na península está o descobrimento de um esqueleto de leão das cavernas em excelente estado de conservação na caverna de Arrikrutz (Guipúzcoa).
Houve também outra descoberta dos restos de um leão devorado por um grupo de Homo heidelbergensis. Nos ossos do animal, podem ser vistos claros sinais de esfolamento e traços de utensílios humanos. Isso aconteceu há aproximadamente 350.000 anos.
O leão em tempos gregos e romanos
O leão sempre esteve presente nos mitos e lendas dos gregos. Trata-se de uma questão que parece muito natural, se levarmos em conta que, na época de Aristóteles (século IV a.C), os rugidos dos leões eram ouvidos em Atenas.
Os romanos foram, sem dúvida, a civilização que mais interagiu com os leões da região mediterrânea. Junto com outros animais selvagens, os leões eram protagonistas dos espetáculos que aconteciam nos anfiteatros da Roma Antiga.
O pior uso dado a esses felinos foi o de instrumentos de execução. A imagem dos primeiros cristãos sendo devorados por leões perdura no imaginário coletivo.
Mesmo quando o leão já havia desaparecido da Europa, três séculos depois de Aristóteles, os romanos seguiam usando-os em suas atividades de lazer. Uma forma curiosa de utilizar leões consistia em amarrá-los nos carros dos vencedores das batalhas.
O leão hispano nos reinos cristãos
Quando chegou a Idade Média, a imagem dos leões herdada dos romanos foi adotada por vários reinos cristãos. Um dos casos mais representativos é o do reino de León, com seu felino de cor roxa. Esse leão apareceu pela primeira vez nas moedas cunhadas pelo Imperador Afonso VII, em 1126.
Esse símbolo é considerado um dos primeiros elementos heráldicos da Europa. No entanto, o uso do leão hispano não foi exclusivo dos reis cristãos. Uma prova disso são os 12 leões talhados na conhecida fonte principal do pátio de Alhambra.
O “leão da Espanha” nos tempos de Felipe II
Durante o reinado de Felipe II, o uso do leão se espalhou como símbolo da Monarquia Hispânica. Em 1580, quando Portugal foi anexado ao Reino de León, esse era o símbolo que voltava a unir dois irmãos que haviam sido separados de forma legal.
Um dos episódios que se repetiu muitas vezes na heráldica dessa época foi o do enfrentamento entre um leão coroado e um dragão, esse último símbolo de Portugal. O dragão evidentemente era vencido por um leão, rei dos animais.
O leão hispano como símbolo democrático
Na idade contemporânea, o leão se transformou no guardião das instituições democráticas. Prova disso são os dois leões situados nas portas do Congresso dos Deputados em Madri.
Por fim, depois da Guerra Civil, o leão ficou definitivamente afastado da simbologia espanhola. Isso aconteceu devido a sua associação com o bando republicano.
Atualmente, o touro ibérico, entre outros animais, roubou o protagonismo do leão na representação icônica da Espanha.
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