O oceano contém pelo menos 200 000 novos tipos diferentes de vírus, segundo a ciência
Escrito e verificado por a bióloga Ana Díaz Maqueda
Uma expedição científica percorreu o mundo em um veleiro recolhendo amostras de água, com o objetivo de analisar a biodiversidade de micróbios existentes nela. Assim, os cientistas descobriram cerca de 200 000 novos tipos de vírus, o que pode ajudar a entender os processos que ocorrem nesses tipos de ecossistemas.
Nessas águas, que cobrem mais de 70% da superfície do planeta, ocorrem processos biogeoquímicos fundamentais para a regulação dos ecossistemas e para a existência de vida fora do mar. A expedição busca analisar o genoma desses microrganismos, a fim de descobrir a funcionalidade desses seres e seu papel nos ecossistemas aquáticos.
Coleta de amostras durante a expedição
O objetivo dessa grande expedição foi conhecer um pouco melhor a biodiversidade dos vírus nos oceanos e como eles se distribuem. No passado, uma das maiores desvantagens quando se trata de analisar amostras desses tipos de organismos é que era impossível cultivá-los em condições de laboratório e, assim, extrair seu DNA.
Hoje, graças aos avanços da bioinformática e do sequenciamento massivo de genomas de organismos, é possível conhecer o material genético dos seres sem ter o organismo em si.
Isso é feito graças à metagenômica ambiental. Os pesquisadores coletaram amostras de água onde pode haver ou não material genético de uma infinidade de organismos, seja DNA ou RNA. Por meio de um processo bastante complexo, esse material genético pode ser replicado e comparado com os genomas de referência que existem hoje.
Uma vez sequenciado todo o material, sobraram as sequências que potencialmente poderiam pertencer a vírus e teve início a identificação. Assim, eles concluíram que havia pelo menos 195 728 novas populações virais em águas marinhas.
Onde estão os novos tipos de vírus?
Apesar do pequeno tamanho dos vírus, eles desempenham um papel fundamental nos ecossistemas marinhos e nas redes tróficas. Anteriormente, para medir a biodiversidade microbiana, apenas 3 zonas eram estudadas: a série temporal do Oceano Havaiano, a série temporal do Atlântico das Bermudas e a série temporal do Oceano San Pedro.
Nesses pontos oceânicos ocorrem eventos naturais muito importantes para a conservação de todas as espécies. No entanto, aqui a biodiversidade de vírus é concisa, pelo menos quando comparada com o que se conheceu após a expedição.
Depois de coletar amostras de todos os mares e oceanos, foram delimitados 5 pontos com extraordinária biodiversidade viral. Dois desses pontos estão no Ártico, outro na Antártica e outros dois são meridionais. Especificamente, 40% dos novos tipos de vírus estão localizados no Ártico.
Essa descoberta é surpreendente, pois a distribuição da biodiversidade planetária mostra que, quanto mais próximo do equador, uma maior a concentração de seres vivos pode ser esperada. Com os vírus oceânicos ocorre o contrário, pois é nos polos que se encontra a maior biodiversidade.
O papel dos vírus nos oceanos
Como já foi mencionado, os vírus têm uma função muito importante dentro do ecossistema e, em última instância, no planeta. Esses microrganismos são a base de todas as cadeias alimentares marinhas. No entanto, eles não estão recebendo a atenção que merecem.
Nos últimos anos, têm sido realizadas muitas campanhas para a conservação da biodiversidade dos oceanos. O objetivo principal desses projetos é garantir que o mar continue sendo o biótopo mais produtivo do mundo e do qual dependem todos os organismos vivos do planeta.
O problema é que, em todos os casos, esses projetos visam a preservação de animais em níveis muito “superiores” na cadeia alimentar. Dessa forma, o principal objetivo costuma ser a regulamentação da pesca, de modo a não chegar a um ponto em que as espécies comerciais não possam mais ser exploradas.
No entanto, os vírus permanecem lá. Certamente, eles são afetados pela poluição e pelo aumento da temperatura global e não se sabe quais efeitos isso pode ter em toda a cadeia. A situação se agrava quando se percebe que a maior biodiversidade de vírus se encontra no Ártico, a região do planeta mais prejudicada pelas mudanças climáticas.
Agora, algumas organizações como a Tara Oceans pedem que as futuras decisões relacionadas ao gerenciamento dos oceanos sejam tomadas levando em consideração os vírus. Essa gestão será crucial se quisermos que os humanos e o sistema terrestre como se conhece continuem a existir.
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