Piometra em cadelas: mais um motivo para considerar a castração
Escrito e verificado por veterinário e zootécnico Sebastian Ramirez Ocampo
A piometra é uma das doenças reprodutivas mais comuns em cadelas. De fato, um artigo da revista Reproduction in Domestic Animals afirma que cerca de 20% das cadelas – que não são castradas – sofrem com isso antes dos 10 anos de idade.
Devido às graves complicações que gera na saúde animal, a piometra em cadelas é considerada uma emergência. Por isso, deve o animal ser atendido o mais rápido possível.
Ao longo deste artigo, serão detalhados os principais aspectos da doença, como as causas, os tipos de piometra, os sintomas que ocorrem, bem como a melhor forma de tratá-la e preveni-la. Se você deseja saber mais sobre essa relevante patologia canina, não hesite em continuar lendo o conteúdo a seguir.
O que é piometra e quais são seus tipos?
Piometra é a inflamação e o acúmulo de material purulento no interior do útero, decorrente de uma infecção bacteriana. Embora possa ocorrer em fêmeas de qualquer raça ou idade, uma publicação na Revista Brasileira de Patologia Veterinária revela que cadelas entre 6 e 10 anos de idade estão mais predispostas a ela, assim como as seguintes raças:
- Boiadeiro de Berna.
- Collie.
- Retriever dourado.
- Rottweiller.
Da mesma forma, como referem os seus autores, podem ocorrer dois tipos de piometra nas cadelas:
- Piometra aberta do colo do útero: nesses casos, o exsudato purulento drena pelo colo do útero. Como resultado, observa-se um corrimento vulvar sanguinolento, acompanhado de pus e um cheiro muito ruim.
- Piometra de colo do útero fechado: pelo contrário, o colo do útero é fechado e o exsudato purulento é retido dentro do útero. É considerado o tipo mais grave, pois há risco de desenvolvimento de sepse. Essa condição pode levar à morte do animal, já que é uma infecção generalizada de todo o organismo.
Ao contrário da anterior, a piometra de colo do útero fechado é mais difícil de identificar, pois o corrimento vaginal é escasso ou ausente.
Quais são as causas da piometra em cadelas?
Embora a patogênese da piometra não seja totalmente clara, um artigo da revista The Veterinary Clinics of North America sugere que suas causas incluem fatores hormonais e bacterianos.
Por um lado, após a fase de estro ou cio —período conhecido como fase lútea ou diestrual— a progesterona gera certas alterações no sistema reprodutivo das cadelas. Estas incluem o seguinte:
- Crescimento e proliferação das glândulas endometriais.
- Aumento das secreções intrauterinas.
- Fechamento do colo do útero.
- Supressão das contrações do miométrio.
Embora essas mudanças ocorram naturalmente para promover o crescimento do feto em cadelas grávidas, o útero —das que não estão grávidas— está exposto à colonização de bactérias oportunistas e o posterior acúmulo em seu interior.
Além disso, durante a fase lútea, a resposta local das células de defesa diminui, além da diminuição da resistência do útero às infecções bacterianas.
Por outro lado, de acordo com uma revisão publicada no The Indian Journal of Veterinary Sciences and Biotechnology, entre os microorganismos envolvidos na piometra em cadelas podem ser encontrados:
- Escherichia coli.
- Klebsiella spp.
- Streptococcus spp.
- Staphylococcus spp.
- Pseudomonas spp.
Em geral, essas bactérias ascendem da vagina ao útero e proliferam se existirem as condições ideais para o seu crescimento.
Entre outras coisas, os tratamentos para evitar o cio e a gravidez com hormônios esteroides, como progesterona e estrogênio sintético, aumentam o risco de desenvolver a doença. Além disso, patologias reprodutivas, como hiperplasia endometrial cística, aumentam a suscetibilidade do útero à infecção. Isso é afirmado em um artigo na revista Theriogenology.
Quais sintomas estão presentes?
Como evidenciado em linhas anteriores, o desenvolvimento da doença ocorre durante a fase lútea, de modo que os sintomas geralmente aparecem entre 3 a 5 semanas após o cio. Entre os sinais mais comuns que se apresentam estão os seguintes:
- Perda de apetite.
- Depressão.
- Febre.
- Anorexia.
- Aumento da micção.
- Aumento do consumo de água.
- Diarreia.
- Vômito.
- Desidratação.
- Abdômen distendido (piometras fechadas).
- Corrimento vaginal purulento e sanguinolento (piometras abertas).
Por que é considerada uma doença com risco de vida?
De acordo com a descrição do estudo na revista BMC Veterinary Research, uma das complicações mais graves da piometra em cadelas é a sepse. Essa condição – que é fatal se não for tratada a tempo – ocorre quando as toxinas produzidas pelas bactérias se espalham pelo corpo através da corrente sanguínea.
Por sua vez, isso gera o que é conhecido como síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), que leva a alterações em diferentes sistemas do corpo e falência de órgãos como coração, rim ou fígado. Costuma ocorrer com maior frequência em cadelas com piometras fechadas.
Outra das complicações que põe em risco a vida do animal é a peritonite, que ocorre quando o acúmulo de material purulento é tão grande que o útero é perfurado. Assim, o pus passa para a cavidade abdominal e causa inflamação do peritônio.
Diagnóstico
Antes da manifestação dos sintomas mencionados, é necessário procurar o veterinário. Em essência, após estudar o histórico médico e revisar o paciente, esse profissional indicará a realização dos seguintes exames:
- Radiologia.
- Ultrassom.
- Papanicolau.
- Exame de sangue completo.
- Urinálise.
Como é o tratamento da piometra em cadelas?
O tratamento de escolha para piometra aberta e fechada é a intervenção cirúrgica. O procedimento realizado é a ovariohisterectomia (OVH) ou esterilização, que consiste na remoção completa do útero e dos ovários.
No entanto, o paciente deve primeiro ser estabilizado com fluidoterapia intravenosa adequada. As finalidades dessa medida são distinguidas a seguir:
- Restaurar a pressão arterial.
- Corrigir a desidratação.
- Recuperar o equilíbrio eletrolítico.
- Prevenir a falência de órgãos e possíveis choques ou problemas de coagulação.
Além disso, medicamentos antibacterianos, como a ampicilina, devem ser iniciados imediatamente.
Embora questionáveis, alguns estudos sugerem um possível tratamento medicamentoso para a piometra. Por exemplo, uma publicação na revista Reproduction in Domestic Animals, defende o seguinte protocolo:
- Fluidoterapia para resolver a desidratação.
- Antibióticos como amoxicilina + ácido clavulânico para a infecção.
- Antiprogestágenos como aglepristona para reduzir o efeito da progesterona no corpo.
- Prostaglandinas para aumentar a contração da musculatura do útero e favorecer a expulsão do material purulento.
Porém, é importante ressaltar que esse tipo de manejo só deve ser realizado em casos de piometra aberta. Não é recomendado nas de colo do útero fechado, devido ao risco de ruptura uterina e possível peritonite. Muito menos na sepse ou quando outros órgãos estão comprometidos.
Qual é o prognóstico?
Em geral, a taxa de sobrevivência de cadelas submetidas a tratamento cirúrgico imediato é alta. De fato, um estudo relatado no Journal of The American Veterinary Medical Association relatou uma sobrevida de 97% em fêmeas com piometra submetidas a OVH.
No entanto, quando a doença progride, o prognóstico piora. Entre os fatores que influenciam um mau prognóstico estão os seguintes:
- Altas concentrações de BUN (nitrogênio ureico) e creatina no sangue, que são indicativos de insuficiência renal.
- Sopros cardíacos.
- Leucopenia (baixos níveis de células de defesa no sangue).
- Síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS).
- Peritonite.
Esterilização: o melhor método de prevenção da piometra em cadelas
Como você pode ver, todos os problemas associados à piometra em cadelas são resolvidos com a esterilização. Graças a esse procedimento, a fêmea não terá mais útero nem ovários, portanto não haverá como ela apresentar a doença. Além disso, o risco de apresentar outras patologias, como tumores mamários, será reduzido.
Além disso, recomenda-se evitar a administração de anticoncepcionais hormonais, bem como monitorar o cio da cadela. Da mesma forma, é aconselhável realizar controle periódico com ultrassom.
Agora que já sabe tudo relacionado com essa grave patologia, deve determinar se a capacidade reprodutiva do seu animal de estimação tem mais valor do que a sua saúde e bem-estar.
Por fim, lembre-se de estar sempre atento a alterações comportamentais que indiquem uma possível piometra. Não se esqueça de que, em alguns casos, a doença avança silenciosamente até que seja tarde demais.
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