Prolapso cloacal em répteis: sintomas e tratamento

O prolapso cloacal é uma entidade clínica pouco conhecida no mundo da terrariofilia, mas pode causar uma grande preocupação quando ocorre. Conheça sua etiologia a seguir.
Prolapso cloacal em répteis: sintomas e tratamento
Samuel Sanchez

Escrito e verificado por o biólogo Samuel Sanchez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Animais de estimação exóticos estão cada vez mais ganhando espaços nos lares. Vários répteis como camaleões, dragões-barbudos, lagartixas-leopardo, tartarugas e cobras são criados em cativeiro hoje em dia. Portanto, podem ser adquiridos em lojas especializadas a um preço razoável. Em todo caso, não se deve esquecer que, por mais bonitos que sejam, esses animais são bastante delicados em geral.

Diversas condições fisiológicas podem afetar animais exóticos se os cuidados não forem adequados, e o prolapso cloacal em répteis é uma das mais marcantes do ponto de vista estético. Embora não seja uma condição muito séria ou comum, pode causar mais do que um susto ao tutor que tem pouca experiência. Não deixe de conferir.

O que é o prolapso cloacal?

A cloaca dos répteis é uma cavidade localizada na parte final do trato digestivo e aberta para o exterior do corpo. Suas funções são múltiplas, pois, além da excreção de fezes, essa área se comunica diretamente com os sistemas urinário e reprodutivo (também é essencial para a micção e a fecundação). Alguns quelônios são até capazes de respirar através dela.

Em temos práticos, a cloaca é definida como uma fenda sob a cauda do réptil. Todos apresentam essa estrutura, mas em espécies maiores (como iguanas, dragões-barbudos ou camaleões adultos) é um pouco mais visível. Às vezes supõe um caráter diferencial entre machos e fêmeas, uma vez que as estruturas que a compõem e as glândulas acessórias podem ser maiores ou menores dependendo do sexo.

Por outro lado, o termo prolapso define o deslocamento de qualquer órgão para fora de sua posição anatômica natural. Assim, é fácil concluir que o prolapso cloacal é a saída dos tecidos que compõem essa estrutura para além do seu posicionamento normal. Os músculos cloacais ficam visíveis no animal afetado quando não deveriam estar salientes.

O prolapso cloacal consiste na eversão do tecido cloacal para fora do corpo do animal.

Veterinário segurando cobra.

Causas do prolapso cloacal em répteis

As causas do prolapso cloacal geralmente residem em uma rigidez ou tenesmo (constantemente exercer força para defecar) na área excretora do réptil devido a infecção, inflamação ou trauma físico. Além disso, pode ter origens secundárias relacionadas a cuidados inadequados por parte dos tutores. Alguns deles são os seguintes:

  • Baixos níveis de umidade ambiental: a baixa umidade do terrário faz com que o animal desidrate mais facilmente se a espeécie for tropical, o que pode levar a desequilíbrios fisiológicos, impactações fecais e prolapso cloacal.
  • Más condições no terrário: temperaturas muito baixas, ausência de gradiente térmico, falta de esconderijos e dimensão da instalação, por exemplo. Tudo isso favorece o estresse e a rigidez muscular do animal (inclusive na região perianal).
  • Desnutrição: a falta de cálcio pode levar à redução da funcionalidade intestinal, que por sua vez causa desequilíbrios no trânsito intestinal e possível prolapso.
  • Impactação: um réptil que vive com um substrato inadequado acabará ingerindo parte dele ao tentar caçar uma presa. Se a areia ou as pedras forem muito finas, o animal não conseguirá cuspi-las e elas se acumularão em seu trato intestinal. Isso causa a formação de um tampão que o impede de defecar.
  • Doenças associadas: tumores malignos, infecções bacterianas e várias doenças inflamatórias podem levar ao prolapso cloacal em répteis domésticos.
  • Falha no parto: o prolapso do oviduto é relativamente comum em répteis fêmeas que têm problemas para expulsar os ovos.

Além dessas causas, outros potenciais desencadeadores de prolapso estão incluídos, como cálculos vesicais, tampões de esmegma no nível do pênis, doenças ósseas metabólicas e muitos mais. Em suma, é uma condição multifatorial.

Sintomas

Os sintomas de prolapso cloacal em répteis são extremamente fáceis de discernir, pois o animal afetado apresentará uma “aba” ou tecido rosado emergindo de debaixo da cauda sendo que antes não havia nada ali. O tutor também pode perceber um pouco de sangue no substrato do terrário, pois a área prolapsada esfregará contra ele e ficará levemente ferida.

O réptil também pode apresentar outros sinais associados à doença que causa o prolapso, como cauda malformada (distúrbios metabólicos), falta de excreção de fezes (impactação), conjuntivite (infecção) e temperatura corporal baixa. Todos esses sintomas justificam uma visita de emergência ao veterinário de animais exóticos, então não os ignore.

Diagnóstico

Detectar um prolapso cloacal em répteis é muito simples, uma vez que o tecido evertido sob a cauda é um sinal mais do que óbvio. Em qualquer caso, o verdadeiro desafio do diagnóstico consiste em descobrir qual estrutura foi afetada e por que foi deslocada de seu lugar natural.

Às vezes basta fazer um exame físico do animal, mas em outros casos a situação não está tão clara. Por exemplo, o uso de técnicas de raios-X pode ser necessário para detectar uma doença metabólica, um tumor ou uma malformação congênita. A análise das fezes do réptil ajudará a descartar possíveis patologias infecciosas.

Tratamento do prolapso cloacal em répteis

Essa condição é uma emergência veterinária em todos os casos, e o tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível. Algumas das abordagens escolhidas pelos profissionais são as seguintes:

  1. Manter úmido o tecido prolapsado: deve-se evitar que a área resseque, pois as estruturas envolvidas podem morrer em nível celular e pararem de funcionar. Recomenda-se a aplicação de soluções lubrificantes dissolvidas em água.
  2. Tente devolver o tecido à sua área natural: após a limpeza, o veterinário tentará recolocar o tecido de volta no lugar com cuidado e manualmente. Se estiver inflamado, pomadas especiais podem ser usadas para reduzir o edema.
  3. Amputar o tecido necrótico: antes de devolver o tecido ao seu lugar, devem ser retiradas todas as áreas mortas, pois isso favorece o aparecimento de infecções no animal.
  4. Suturar ambos os lados da cloaca: pode ser necessário diminuir a abertura cloacal para evitar que o tecido se mova para fora de sua área normal.

Dependendo da causa do prolapso, o tratamento a longo prazo será mais ou menos agressivo. Em qualquer caso, a aplicação genérica de certos medicamentos (como os anti-inflamatórios não esteroides) costuma ser recomendada para reduzir os sintomas em quase todos os casos.

Um dos animais de Madagascar.

O prognóstico do prolapso cloacal em répteis depende inteiramente das causas subjacentes. Um desequilíbrio na umidade é resolvido rapidamente, mas um tumor maligno tem uma abordagem difícil em um animal tão pequeno. Discuta com seu veterinário de confiança qual é o melhor caminho a seguir em cada situação.


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