Transtorno obsessivo-compulsivo em cães
Escrito e verificado por a bioquímica Luz Eduviges Thomas-Romero
O transtorno obsessivo-compulsivo pode afetar diversos mamíferos, incluindo os cães e os seres humanos. Nos animais de estimação, o problema costuma surgir diante de um período de estresse. Inadvertidamente, muitos donos incentivam seus cães a executar determinadas ações, elogiando ou dando atenção ao comportamento repetitivo do animal.
Além disso, pode haver uma certa predisposição ao transtorno obsessivo-compulsivo herdada pelo animal. O cocker spaniel, por exemplo, tem uma predisposição para proteger objetos e, às vezes, seu próprio espaço corporal.
O transtorno obsessivo-compulsivo é reconhecido como uma doença canina?
Sim, os cães podem sofrer de diversos comportamentos obsessivos. Os mais comuns são girar, perseguir o rabo, perseguir sombras e luzes, lamber paredes, proteger objetos, mastigar brinquedos ou cobertores.
Outro comportamento obsessivo-compulsivo observado é a alucinação (morder moscas imaginárias). Além disso, há também o apetite por substâncias não alimentares, como solo, rochas ou fezes. Por fim, o cão pode balançar com ritmo, olhar fixo e vocalizar excessivamente. Alguns cães também mostram um potencial de agressão.
Os cães podem chegar a um estágio em que destroem as coisas ou recorrem à automutilação. Isso muitas vezes está relacionado à ansiedade de separação.
A seguir, saiba mais sobre alguns desses comportamentos:
1. Girar ou perseguir o rabo
A raça bull terrier e, particularmente, o bull terrier inglês, têm uma propensão a essa condição, embora não sejam as únicas raças que sofrem desse problema.
Pesquisas recentes sugeriram que perseguir o rabo, especificamente em bull terriers, poderia ser um indício de autismo.
Um estudo realizado em 2011 por Moon-Fanelli et al. descobriu que a compulsão de perseguir o rabo é mais prevalente em cães machos. Eles também concluíram que esse quadro pode estar associado a comportamentos de transe e agressão episódica.
Esses resultados, junto com o comportamento repetitivo da perseguição do rabo e uma tendência às fobias, levaram os especialistas à conclusão de que a perseguição do rabo poderia representar uma forma canina do autismo.
Vale dizer, no entanto, que essas conclusões não são definitivas. O mesmo estudo também indicou que essa síndrome em cães pode estar relacionada a uma condição genética chamada síndrome do X frágil.
Transtorno obsessivo-compulsivo em cães: diagnóstico do autismo canino
É importante notar que há uma série de outras condições caninas que são difíceis de diagnosticar, tais como ansiedade e depressão. Essas condições podem causar sinais clínicos semelhantes aos associados ao autismo.
Portanto, em todos os casos excepcionais, como no dos bull terriers mencionados acima, o melhor que os veterinários e proprietários podem fazer, por enquanto, é dizer que um cão “poderia ter autismo”.
Para um cão ser diagnosticado provisoriamente com autismo, ele deve mostrar comportamentos repetitivos atípicos e algum grau de interação social prejudicada com cães ou pessoas. Além disso, um veterinário deve primeiro descartar outras condições que possam ser responsáveis pelos sinais clínicos observados.
2. Proteção de recursos, um claro sinal de transtorno obsessivo-compulsivo
A proteção de recursos, como o nome já diz, é um comportamento que os cães realizam para proteger um “recurso”. O recurso pode ser um brinquedo, comida, qualquer objeto e até mesmo o seu dono.
O comportamento ocorre para garantir que o animal não perca esse recurso. Manifesta-se de maneiras diferentes, e muitas vezes os donos não sabem que o cão está em vigília até que o comportamento se torne mais óbvio.
A defesa do recurso pode acabar levando à agressão. Se o cachorro tiver medo, ele também pode tentar fugir. O cão pode usar a agressão ativa se a fuga não for bem sucedida.
A genética pode ser um gatilho para comportamentos como a proteção de recursos. Esse comportamento é visto mais frequentemente em cocker spaniels.
3. Transtorno obsessivo-compulsivo em cães: lamber as patas
Esse comportamento pode ser iniciado por um problema orgânico, como uma lesão ou alergia. Eventualmente, também pode evoluir a partir de problemas psicológicos, como a ansiedade.
A lambida constante libera endorfinas no cérebro que criam uma sensação de bem-estar. Sendo assim, o cão repete o comportamento para obter a endorfina.
Tédio, estresse, inatividade e alergias podem desencadear um episódio obsessivo ligado a lambidas. O importante é tentar descobrir qual é o gatilho e, em seguida, tentar eliminar a causa para que seja possível tratar o animal.
4. Obsessão com luz e sombra
Esse é um exemplo claro de transtorno obsessivo-compulsivo e, geralmente, é provocado por um entre vários estímulos. Os mais comuns são criados pelo dono. Muitas vezes, pode começar acidentalmente quando uma pessoa acende uma luz e faz com que uma sombra entre em movimento.
O cão reage e persegue o movimento da luz. O dono acha divertido e repete várias vezes, e pronto! O cão começa a seguir o caminho das luzes e sombras, o que dá origem ao TOC. Outras situações podem gerar esse comportamento no cão.
Muitas vezes, há cães que ficam sozinhos por longos períodos. Cortinas ou persianas vibram causando o movimento da luz. Nesse caso, o cão acha interessante seguir a luz.
Mais uma vez, endorfinas são produzidas e levam ao TOC. A raça que mais sofre com isso é o border collie. Outros cães pastores também podem sofrer com essa estimulação causada pela luz ou sombra.
Embora o transtorno obsessivo-compulsivo nem sempre seja gerado pela ansiedade de separação clássica, ele pode ser estimulado por longas ausências. Especialistas acreditam que também possa estar relacionado com o início da demência ou da doença de Alzheimer.
Existem tratamentos para esse comportamento, mas uma cura ou solução completa nem sempre é possível. Com alguma frequência, é iniciado um tratamento com serotonina. A chamada “terapia de aversão ao ruído” também tem sido usada para quebrar o círculo do transtorno obsessivo-compulsivo.
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- Moon-Fanelli, A. A., Dodman, N. H., Famula, T. R., & Cottam, N. (2011). Characteristics of compulsive tail chasing and associated risk factors in Bull Terriers. Journal of the American Veterinary Medical Association, 238(7), 883-889.
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