A hibernação dos esquilos e sua contribuição para as viagens espaciais

A hibernação dos esquilos e as viagens espaciais têm uma coisa em comum: a conservação da massa muscular. Aqui a gente vai contar o que uma coisa tem a ver com a outra.
A hibernação dos esquilos e sua contribuição para as viagens espaciais
Sara González Juárez

Revisado e aprovado por a psicóloga Sara González Juárez.

Última atualização: 14 setembro, 2023

Hibernar é uma daquelas habilidades dos animais que mais fascinam os humanos, e não apenas pelo fato de poder passar meses dormindo. De fato, descobertas recentes sobre hibernação de esquilos sugerem aplicações importantes no reino das viagens espaciais.

Como esse processo de “desativação” desempenha funções cruciais para a sobrevivência e contém processos complexos, aqui você encontrará uma revisão informativa sobre ele. Além disso, você poderá descobrir o porquê da pergunta “O que os esquilos têm a ver com ir ao espaço?” Não é uma piada. Vamos descobrir!

Como é possível passar meses dormindo?

Um esquilo raposa.

Ao estudar a hibernação dos animais, o mais surpreendente não é que eles durmam por meses. Na verdade, o que mais fascina os cientistas é que esse período não tem efeitos mortais no organismo do animal. Mesmo que ele acorde magro e com fome, não apresenta desnutrição, perda incapacitante de massa muscular, entre outras maravilhas.

A hibernação, na verdade, é um mecanismo de defesa para sobreviver a períodos em que as condições climáticas se tornam extremas sem ter que migrar. Não é algo voluntário nem se trata de dormir, é uma resposta a condições externas que consiste em 2 fases principais.

Na primeira, o animal come em excesso para ganhar massa muscular e gordura. Uma vez que cai em um estado de inconsciência, várias mudanças ocorrem no corpo do espécime:

  • Frequência cardíaca desacelerada: o coração de um urso em hibernação, por exemplo, pode bater 5 vezes por minuto sem que o animal morra.
  • A taxa metabólica diminui: devido a essa diminuição da frequência dos batimentos cardíacos, o organismo diminui a necessidade de oxigênio do corpo para adaptá-lo e não sofrer problemas.
  • Conversão da ureia em formas nitrogenadas: a ureia envenena o corpo se não for excretada na urina, mas os animais não acordam da hibernação para urinar e defecar. Essa reciclagem da ureia evita o envenenamento ao mesmo tempo que cria substâncias utilizáveis para a sobrevivência, como as proteínas.
  • Diminuição da quebra de proteínas musculares: quando os animais acordam da hibernação, eles não perderam muita massa muscular devido à inatividade graças a esse processo.
  • A formação e renovação das células ósseas é intensificada: dessa forma, os ossos são mantidos a salvo da osteoporose e outras patologias típicas da inatividade e do metabolismo lento.
  • Diminuição da temperatura corporal: curiosamente, a temperatura corporal do animal não cai muito, apenas alguns graus. Isso ainda é um mistério para a ciência.

Como é a hibernação dos esquilos?

São muitas as espécies que hibernam e cada uma delas apresenta particularidades quanto a esse processo. No caso dos esquilos terrestres (gênero Spermophilus), um estudo descobriu que a chave para sua manutenção durante meses de torpor está em seu microbioma intestinal.

Apesar de reativar meses depois, a massa e a função muscular dos esquilos permanecem intactas.

Esse mistério resgata a teoria formulada na década de 1980 e contemplada em um dos itens da lista anterior, o resgate do hidrogênio ureico. Como foi dito, a ureia envenena o corpo se não for eliminada, de modo que o corpo do animal em hibernação a utiliza para manter os músculos.

Os autores do estudo descobriram que a ureia viaja do sangue para o intestino, onde a flora intestinal do esquilo é responsável por decompô-la em nitrogênio e carbono. Esse nitrogênio ureico é a molécula que intervém na formação do tecido muscular durante a hibernação, o que ajuda q quase não haver perda de massa.

Como isso se aplica às viagens espaciais?

Um esquilo coreano.

Essa descoberta é pioneira e abre vários caminhos em sua aplicação na ciência. Como o bioma do corpo consegue fabricar nitrogênio para manter músculos saudáveis em condições extremas, avanços importantes podem ser obtidos no tratamento de distrofias, tanto em humanos quanto em não humanos.

Os micróbios que vivem no intestino humano também são capazes de recuperar nitrogênio da uréia, mas não no mesmo nível que esses animais.

Por outro lado, os astronautas costumam perder muita massa muscular quando viajam para o espaço. Isso ocorre porque, em condições prolongadas de microgravidade, a síntese de proteínas diminui. No entanto, é um problema que poderia ser resolvido se a microbiota intestinal pudesse ser melhorada para incluir a reciclagem de ureia.

Você imaginava que conhecer os esquilos poderia abrir as portas para tantos caminhos úteis para os seres humanos? Não se trata apenas da perda muscular dos astronautas, mas de encontrar uma melhora na qualidade de vida de muitas pessoas. Desde a atrofia muscular do envelhecimento até doenças como a sarcopenia, essa revelação é muito promissora.


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