Os animais podem pensar?

Os animais podem pensar?

Última atualização: 11 abril, 2021

A questão de saber se os animais podem pensar ou não acompanha os humanos desde seus primórdios como espécie na Terra. Hoje, com o avanço da ciência cognitiva e da etologia animal, não se trata mais de uma dicotomia entre sim e não, mas de descobrir a maneira como pensam os outros seres vivos.

“Pensar” é um verbo com um significado muito amplo para ser entendido como uma qualidade específica de uma espécie apenas. Nas linhas a seguir, você pode ver o desenvolvimento desse conceito ao longo dos anos e como ele foi aplicado aos seres não humanos.

O que é pensar?

A primeira coisa deve ser sempre definir o objeto de estudo. A mente, vista como o reflexo da atividade cerebral, é algo demonstrado na maioria dos seres vivos que contam com sistema nervoso. A premissa é que qualquer ser que tenha uma mente pode pensar, certo?

Por outro lado, o pensamento como tal deve ser entendido como o fluxo de ideias e a capacidade de um ser vivo operar com elas por meio de julgamentos, combinações e formação de conceitos. Com base nessas premissas, você acha que os animais são capazes disso?

Em 1978, Donald R. Griffin criou a etologia cognitiva, na qual postulou que os animais não humanos poderiam ter a capacidade de pensar e raciocinar. Segundo esse autor, essas capacidades poderiam ser estudadas como “processos mentais” assim como acontece conosco – o que, claro, revolucionou toda a comunidade científica.

Griffin argumentou que os animais não humanos não são autômatos, mas seres pensantes, embora seus pensamentos sejam qualitativamente diferentes dos pensamentos humanos.

Alguns macacos são animais que podem sofrer de depressão.

Os animais podem pensar? A questão da inteligência

Prontamente, a capacidade cognitiva dos animais foi associada à questão da inteligência: é possível pensar e não ser inteligente? Se entendermos inteligência como a capacidade de se adaptar ao meio ambiente por meio da atenção, do raciocínio, do processamento, do julgamento e da tomada de decisão, muitos animais podem ser classificados como inteligentes.

Os diferentes níveis de inteligência de cada espécie foram destrinchados durante muitos anos de estudo, mas se chegou a apenas uma conclusão clara: nem todos os seres vivos podem ser analisados pelo mesmo padrão cognitivo, já que sua forma de vivenciar o mundo difere muito de uma espécie para outra, sendo impossível fazer uma escala comum.

A mesma base cerebral

A medida mais objetiva de pensamento, agora, é a cerebral. A maioria dos estudos de biologia evolutiva tem um desfecho comum: se todos viemos da mesma coisa, o lógico é o fato de compartilhar a anatomia cerebral e, portanto, os processos mentais.

As estruturas mais primitivas do cérebro animal são comuns a quase todas as espécies, como as que regulam emoções básicas (alegria, raiva, medo) e as sensações adaptativas, como dor e prazer. Todas elas, ligadas às estruturas que facilitam a percepção, criam a base para estabelecer a distinção entre a experiência própria e o físico.

Sim, os animais podem pensar

Caso o discurso bio-filosófico não tenha convencido você, ainda há um aspecto básico a ser explorado: os processos mentais. O pensamento como ação consciente requer processos básicos que parecem ser comuns à maioria das espécies, como você verá a seguir:

  • Processamento sensorial: esse processo tão básico, apesar de variar muito entre as espécies, é o primeiro passo para ter algo com que operar, que é a própria experiência do mundo.
  • Atenção e memória: sempre juntos, esses processos mentais são responsáveis pela utilidade dos estímulos sensoriais e podem ser transformados em ideias.
  • Formar conceitos: Joëlle Proust, a famosa filósofa francesa, postulou que os animais com cérebro têm um dispositivo natural para processar informações sensoriais, permitindo-lhes criar representações mentais de objetos externos e categorizá-los para gerar conceitos.
  • Operações mentais: a existência de conceitos permite operações como julgamentos, previsões e comportamentos sociais.
  • Linguagem: essa é uma palavra proibida no que diz respeito à comunicação, visto que a linguagem é considerada a forma última de comunicação. No entanto, muitos animais demonstraram desafiar os requisitos antropocêntricos com sua forma de comunicação entre si.

Basta observar

Muitos animais não humanos mostraram evidências, tanto observacionais quanto objetivas, de que são capazes de pensar. Na verdade, se você acha que um orangotango está refletindo, provavelmente ele está: não é à toa que esses primatas são conhecidos como os pensadores da selva.

Alguns animais são capazes de cálculos matemáticos.

Aos poucos, está caindo por terra o mito de que nem todos os animais podem pensar, espécie por espécie. Das incansáveis abelhas aos falantes golfinhos, com a pesquisa e a etologia animal seremos capazes de decifrar os meandros de todas essas mentes maravilhosas.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Safina, C. (2017). Mentes maravillosas: Lo que piensan y sienten los animales. Galaxia Gutenberg.
  • Griffin, D. R. (2001). Animal Minds: Beyond Cognition to Consciousness (2nd ed.). University of Chicago Press.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.