As sanguessugas e a sua aplicação na Medicina
As sanguessugas são invertebrados hermafroditas pertencentes à família dos anelídeos. Existem diferentes espécies com uma grande diversidade biológica. Este artigo vai se centrar na sua aplicação medicinal e na utilização de uma espécie: a Hirudo medicinalis.
Antecedentes
As sanguessugas têm sido consideradas indispensáveis no tratamento de doenças desde a sua aparição na história, por volta do ano de 3500 a.C.
Os indícios de sua presença ficaram registrados em estruturas arqueológicas de babilônios e egípcios, assim como nos túmulos da XVIII Dinastia do Antigo Egito (1567 – 1308 a.C.). Também aparecem na Bíblia e no Alcorão.
No Antigo Egito, a terapia com sanguessugas e a sangria foram os tratamentos mais empregados. De mesmo modo, foi uma prática realizada por outros povos, entre os quais encontravam-se os gregos, os romanos, os maias, os astecas e os mesopotâmicos.
Na Grécia, a terapia com sanguessugas foi introduzida por Hipócrates, o pai da Medicina. Essa técnica foi defendida pelo filósofo Galeno, que acreditava na teoria dos humores no corpo.
Segundo essa teoria, o corpo saudável caracteriza-se por ter um equilíbrio entre os diferentes humores. Por outro lado, um corpo doente apresenta um desequilíbrio entre esses humores. Para solucioná-lo, o sangue, considerado o humor predominante, deve ser extraído.
Com relação à influência islâmica, a sangria e a terapia com sanguessugas eram as duas técnicas predominantes. Ficaram registradas em diferentes textos, como o Fil tib Alqanoon e o Altasreef liman Ajeza Anittalif.
Por último, na medicina ayurvédica, o deus hindu Ayurveda sustenta entre as suas quatro mãos uma sanguessuga, uma concha, um disco de energia e um pote.
Tratamento
A época de ouro dessa prática medicinal data da Idade Média. Há um relato curioso, inclusive, contado pelos peregrinos que faziam o Caminho de Santiago. Ao longo da viagem, paravam em poças d’água e banhavam-se na água dos rios.
Acreditava-se que o repouso propiciava alívio aos peregrinos. No entanto, as responsáveis por esse efeito eram as sanguessugas: elas aliviavam os edemas causados pela caminhada.
Especificamente, preveniam a doença tromboembólica graças à hirudina, uma substância produzida pelas glândulas salivares da sanguessuga.
O tratamento aplicava uma espécie específica de sanguessuga, a Hirudo medicinalis. Essa variedade é conhecida por suas diferentes propriedades terapêuticas e recebe o nome de sanguessuga medicinal.
Mecanismos de ação
O aspecto de maior destaque no seu uso são as substâncias que fazem parte da saliva dessa espécie. Entre essas substâncias encontram-se vasodilatadores, anti-inflamatórios, anticoagulantes, analgésicos, bacteriostáticos ou antiedematosos.
Essas substâncias têm diferentes ações:
- Eliminam os transtornos da microcirculação e a hipóxia.
- Diminuem a pressão arterial.
- Recuperam a permeabilidade vascular danificada.
- Aumentam a atividade do sistema imunológico.
- Resolvem a dor na sua origem.
- Favorecem a melhora do estado bioenergético do organismo.
Entre as substâncias mais importantes, encontram-se:
- Anticoagulantes. O principal é a hirudina. Esse agente inibidor da trombina age detendo a coagulação do sangue. Pode ser clonado e aplicado no tratamento de transtornos cardiológicos e hematológicos.
- Anti-inflamatórios. Destacam-se as bdellins, um composto que inibe a ação da tripsina, da plasmina e da acrosina.
- Vasodilatadores. Entre eles distinguem-se a histamina, a acetilcolina e os inibidores da carboxipeptidase A. Todos eles aumentam o fluxo de entrada do sangue na região indicada.
Vantagens da terapia com sanguessugas
A aplicação dessa terapia não tem efeitos colaterais nem consequências negativas. Esse processo também é indolor e seguro.
É necessário mencionar que cada exemplar de Hirudo medicinalis é de uso único. Cada exemplar é uma máquina fármaco-química junto com uma potente bomba de sucção.
Contraindicações das sanguessugas
O uso da Hirudo medicinalis traz uma série de riscos que é preciso ter em conta. Um deles está presente no intestino dessa sanguessuga, a bactéria gram-negativa Aeromonas hydrophila. Existe uma relação simbiótica entre ambas.
A bactéria Aeromonas hydrophila expele enzimas proteolíticas para digerir o sangue, e a sanguessuga Hirudo medicinalis oferece proteção.
Essa bactéria pode causar diversos problemas em humanos, desde celulite ou abscesso local até perda da pele ou complicações severas como sepse ou meningite.
O seu uso também não é recomendado em pessoas que sofrem de insuficiência arterial ou imunossupressão, bem como transtornos de coagulação ou infecções locais ou sistêmicas.
O seu uso não é aconselhável no caso de mulheres grávidas ou pessoas alérgicas a substâncias ativas da sanguessuga.
Conclusão
Essa terapia ancestral voltou a ser utilizada na atualidade. A sua efetividade ficou constatada em diferentes tratamentos específicos. Não obstante, é conveniente mencionar que a sua forma de utilização praticamente não sofreu alteração ao longo dos anos.
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