As borboletas podem mudar a cor de suas asas?

Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre isso, mas algumas borboletas podem mudar a cor de suas asas. Os seres vivos respondem às pressões ambientais das formas mais variadas.
As borboletas podem mudar a cor de suas asas?
Sara González Juárez

Escrito e verificado por a psicóloga Sara González Juárez.

Última atualização: 15 dezembro, 2022

A vida em liberdade é uma luta incessante pela sobrevivência para todas as espécies que compõem um ecossistema. É por isso que algumas delas, principalmente os insetos, desenvolveram técnicas incríveis para evitar predadores, como mudar a cor das asas.

Esse é o caso de algumas borboletas que vocês verão a seguir. Até recentemente, a variação de cor desses animais era um mistério que os humanos não conseguiram desvendar por muitos anos. Recentemente, ocorreu uma série de descobertas interessantes que explicam a plasticidade das asas de alguns lepidópteros.

As borboletas podem mudar a cor de suas asas?

A primeira coisa é responder a essa pergunta: surpreendentemente, sim. Não é algo que seja possível observar a olho nu, por isso é difícil pensar que um ser tão básico como um invertebrado pode mudar de cor.

A função dessa habilidade é, como seria esperado, enganar predadores. Os especialistas que investigaram esse fenômeno se focaram na espécie Heliconius numata, que muda a cor de suas asas para imitar outras espécies, como a borboleta-monarca, rejeitada pelas aves.

As espécies de borboletas do gênero Heliconius são conhecidas por se camuflar entre si, por isso são objeto de estudo.

Essa habilidade é conhecida como mimetismo mülleriano, com a qual diferentes espécies com características que repelem os predadores, como cores brilhantes ou veneno, modificam sua aparência para se ficarem mais parecidas umas com as outras.

 

Algumas borboletas com cores diferentes.

E como eles são capazes de mudar a cor de suas asas?

Para saber como funciona esse mimetismo, os pesquisadores localizaram e sequenciaram a região cromossômica responsável pelos padrões das asas da espécie Heliconius numata. Por meio de estudos genéticos, foi possível dar uma resposta a esse mecanismo.

Durante este estudo publicado no portal JSTOR , os cientistas puderam observar que o padrão de variação é controlado por vários genes, cuja combinação favorece o mimetismo e, ao mesmo tempo, impede combinações que produzem padrões não miméticos.

O estudo também descobriu que coexistem três versões do mesmo cromossomo no DNA dessa espécie e cada versão controla o padrão das asas de maneiras diferentes. O que isso significa? Basicamente, o genoma permite que nasçam borboletas que parecem completamente diferentes umas das outras, apesar de terem a mesma carga genética.

Mimetismo em ambientes alterados

A espécie Heliconius numata não é a única borboleta que muda a cor das asas para promover a sua sobrevivência. Além disso, essa técnica não se baseia apenas na interação com os predadores, mas também com o meio ambiente.

Um exemplo claro disso foi o surgimento das traças com asas negras no período da Revolução Industrial na Inglaterra, ainda no século XIX. Um estudo de 2011 da Universidade de Liverpool revelou que a mariposa Biston betularia mudou a cor de suas asas para se camuflar nos troncos de árvores cobertos pela fuligem da indústria.

Esse estudo estabeleceu uma das bases da demonstração de que a interferência do ser humano no meio ambiente afeta todo o ecossistema. Essas mariposas, quando finalmente pousaram em bétulas sem fuligem, ficaram claramente visíveis para os predadores, com o consequente declínio populacional.

O ser humano também pode influenciar o equilíbrio fenotípico de uma espécie em longo prazo.

 

Algumas mariposas com variações de cores.

Conclusões: a conservação das borboletas atualmente

As borboletas, como muitos outros insetos, são essenciais para manter o equilíbrio do meio ambiente. Sua função é vital como polinizadoras, e elas servem de alimento para outras espécies. Só essas tarefas já bastam para mostrar que é fundamental lutar pela sua conservação.

A poluição e as mudanças climáticas são os fatores que mais afetam as populações de borboletas. Muitos países já iniciaram seus programas de conservação desses lepidópteros, incluindo o censo de espécies para descobrir quais podem estar em perigo de extinção.

A educação ambiental e social das novas gerações é essencial para manter as cores vivas desses lepidópteros voando entre nós. É necessária uma reflexão final: se as borboletas decidem mudar a cor de suas asas, não deveria ser por imposição do ser humano.


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