Os coelhos comem seus próprios excrementos?
Escrito e verificado por a veterinária Érica Terrón González
Isso mesmo, os coelhos comem seus próprios excrementos. Não os normais, aqueles que são realmente um produto da excreção como acontece no resto da espécie, mas um tipo de excremento macio conhecido como cecotrofos.
Os coelhos comem seus próprios excrementos? Como são esses excrementos?
Cecotrofos
São excrementos em forma de cacho, macios e brilhantes (porque estão recobertos de muco) com cheiro mais forte que os normais e que precisam de uma segunda digestão para que seus nutrientes sejam aproveitados. Seu nome se refere ao local onde se forma – o ceco – e a ‘trofos’, que significa ‘alimentação’.
É um fato comprovado que os coelhos cujo ceco foi retirado continuam a produzir cecotrofos, o que significa que seu preparo envolve mecanismos de outras partes do intestino grosso.
Normalmente, o tutor do coelho não consegue vê-los porque o animal os come antes mesmo de chegarem ao chão. Mas há ocasiões, principalmente quando o coelho não está bem de saúde, em que eles são detectados e o tutor fica alarmado ao ver que o coelho come os próprios excrementos.
A cecotrofia
Em termos de fisiologia digestiva, a cecotrofia ocupa um lugar importante. Consiste na formação e expulsão de fezes moles ou cecotrofos para, depois, ingeri-los novamente. Alguns autores chamam esse processo de coprofagia, embora esse termo se refira a ingestão de qualquer excremento inútil, o que não é o caso.
Geralmente, há cecotrofia a cada 24 horas, vinculada às primeiras horas de luz, entre 4h e 6h, até às 12h00. É verdade que, às vezes, ocorre também uma breve cecotrofia à noite, principalmente com o avançar da idade.
Mas também depende da dieta. Se o coelho tiver a alimentação restrita a um horário específico do dia, a cecotrofia será desencadeada 6 a 8 horas depois. Ou seja, o fator alimentar prevalece sobre o fator luminoso.
Como são produzidos os cecotrofos?
Eles começam a ser elaborados a partir da terceira semana de vida dos animais. Os coelhos os ‘coletam’ diretamente do ânus e os engolem.
Durante o curso do material alimentar através do intestino, a válvula ileocecal atua como um seletor para os materiais que podem seguir o caminho usual (fezes normais ou duras) e aqueles que devem passar pelo ceco (fezes moles ou cecotrofos). Nesse segundo caso, o excremento recebe uma cobertura de muco enquanto é produzida uma intensa secreção de água e eletrólitos que enriquecem os cecotrofos.
Portanto, na fase cecotrófica, são secretados água e sódio. E na fase de formação de fezes duras, ocorre uma dupla absorção de íons e água, portanto, esse tipo de fezes é mais seco.
Isso apoia a teoria de que existe um relógio interno que varia dependendo dos períodos de claro e escuro ou do padrão alimentar.
O rim participa da distribuição dessa fase de cecotrofia, pois nele é produzida a aldosterona. Os níveis mínimos de aldosterona no sangue geralmente correspondem à fase cecotrófica, enquanto os valores máximos correspondem à fase normal de excreção.
A hipótese de que os fatores alimentação e luz são os que explicam o fenômeno da cecotrofia não é suficiente. Existe uma verdadeira intervenção dos mecanismos endócrinos, na qual a aldosterona e a vasopressina plasmáticas intervêm na troca de íons no sistema digestivo e, portanto, na composição das fezes.
Os coelhos comem seus próprios excrementos, mas por quê?
Papel da cecotrofia nos coelhos
A cecotrofia, como afirmou Lebas, é sem dúvida o fenômeno mais importante no funcionamento de todo o sistema digestivo do coelho.
Os cecotrofos, em comparação com as fezes comuns, têm uma composição química muito específica: eles têm mais proteínas, vitaminas, água e ácido láctico e menos fibras. Isso os torna perfeitamente adequados para fins nutricionais.
É um processo de reciclagem que contribui para aumentar a digestibilidade dos alimentos. A cecotrofia representa um exemplo de regulação fisiológica para a economia de nutrientes. Isso significa ser capaz de multiplicar o desempenho de uma única dose de alimento.
As necessidades nutricionais do coelho não podem ser determinadas sem considerar a importância do cecotrofo. Na verdade, se a intenção for o aperfeiçoamento da criação, o estudo da cecotrofia pode ser essencial para estabelecer melhorias ambientais e nutricionais.
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