As dietas veganas para animais de estimação não são completas, segundo os especialistas
As dietas veganas se tornaram uma tendência que tem sido aplicada aos animais de estimação, mas os especialistas alertam que elas não são completas o suficiente para eles. Neste artigo, vamos destacar os fundamentos científicos que sustentam essa tese, polêmica mas correta do ponto de vista biológico.
Para entender melhor os conceitos profissionais sobre o impacto dessas dietas nos animais de estimação, é necessário entender de onde vêm os seres vivos que conhecemos hoje como animais domésticos, assim como a mudança ocorrida em suas estratégias alimentares. Vamos falar sobre tudo isso e muito mais.
Em que consistem as dietas veganas para animais de estimação?
Como aponta um artigo científico sobre veganismo, esse estilo de vida se baseia em seguir uma dieta que não consome alimentos de origem animal. Assim, pessoas e animais de estimação que seguem essa dieta não comem proteína animal, leite ou seus derivados, como ovos ou mel. Muitos veganos também evitam produtos derivados da exploração animal, mesmo que não sejam alimentos.
Um estudo publicado na revista Plos One e aplicado no Reino Unido indica que 1/3 dos tutores veganos fornecem uma dieta igual aos seus companheiros não humanos. Entre as motivações expressas pelos entrevistados para tomar essa decisão estão a preocupação com a saúde de seus animais de estimação, o compromisso com a sustentabilidade, a preservação do meio ambiente e a empatia pelos demais animais.
Com essas considerações em mente, para alguns veganos é uma contradição seguir essa dieta individualmente, mas proporcionar aos seus animais ração à base de carne. Principalmente porque sua produção deixa uma grande pegada de carbono e requer grande quantidade de água. Mas como essa dieta influencia nossos animais de estimação? Continue lendo para descobrir.
Cães e gatos, carnívoros, onívoros ou herbívoros?
Os cães e os gatos nem sempre foram nossos companheiros. Milhares de anos atrás, eles eram seres selvagens e se alimentavam por conta própria. E a caça de outros animais era seu principal método de obtenção de alimento. De fato, como indicam os estudos, o ancestral selvagem do cão é o lobo, sendo a primeira espécie domesticada pelo homem.
Hoje, somos os responsáveis por fornecer sua alimentação, que por sua vez deve proporcionar todos os nutrientes necessários para manter a saúde geral do animal. Embora esses animais tenham deixado para trás práticas como a caça, seu metabolismo ainda tem demandas relacionadas que devem ser consideradas.
Estudos indicam que os cães são geneticamente onívoros, ou seja, comem carne e vegetais. É importante ressaltar que esses canídeos não são “adaptados” para digerir um tipo de alimento em detrimento de outro, por isso considera-se que têm uma dieta generalista.
Por outro lado, pesquisas indicam que os gatos precisam consumir tecidos de origem animal para satisfazer plenamente suas necessidades nutricionais, levando em consideração que são carnívoros estritos. Afirma-se que a necessidade de proteína é fundamental para essa espécie, devido ao seu teor de taurina, ácido araquidônico e vitamina A pré-formada.
Aproximadamente metade da energia dos gatos deve vir de proteína pura. O resto das calorias devem, idealmente, ter origem em gorduras naturais dos tecidos de suas presas.
Por que as dietas veganas para animais de estimação não são completas?
Por ser onívoro, é provável que um cão possa se adaptar melhor a uma dieta vegana, entretanto, não é a mais indicada. No caso dos gatos, os nutrientes essenciais para seu crescimento e desenvolvimento ideais estariam sendo subtraídos. Tanto é verdade que a Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade contra os Animais, RSPCA) do Reino Unido é uma das instituições que comprova esse fato.
Recentemente, a mídia internacional relatou como a RSPCA fez várias visitas a um casal na Austrália que alimentava seus cães com uma dieta quase vegana. O resultado foi sua desnutrição após 3 anos. O casal foi condenado a não poder ter cachorros pelos próximos 3 anos e a pagar uma multa de quase US$ 7000.
Além da desnutrição, existem várias patologias que podem surgir em longo prazo se você optar pelo veganismo para o seu animal de estimação. Vamos contar a seguir quais podem ser os efeitos mais graves dessa dieta.
Doenças cardíacas em gatos
A taurina é um aminoácido essencial para os gatos. O funcionamento correto do músculo cardíaco, da visão, dos sistemas digestivo e reprodutivo depende disso. Segundo pesquisas, a cardiomiopatia dilatada é a principal consequência da deficiência desse aminoácido essencial em gatos.
Levando em consideração que o organismo dos felinos de estimação não tem capacidade para produzir taurina, fornecer uma dieta deficiente pode acarretar sérios problemas ao animal. Além dos relacionados à saúde cardiovascular, esse déficit pode levar à cegueira.
Infecções
Os animais domésticos costumam ter diferentes tipos de infecções. Entre as principais estão as renais, as do trato urinário e reprodutivo, as epidérmicas (piodermite) e as gastrointestinais.
Por outro lado, algumas patologias, como cistourolitíase, obstrução da uretrolitíase, cistite bacteriana, defeitos anatômicos e neoplasias, estão incluídas em um único termo: doença do trato urinário inferior felino (FLUTD, sigla em inglês). Essa patologia é típica dos gatos e é tratada como uma condição multifatorial.
Foi sugerido que uma dieta inadequada pode levar os gatos a apresentarem essa condição. As razões incluem baixa ingestão de minerais e controle inadequado do pH urinário, o que por sua vez pode desencadear a formação de cálculos na bexiga. Embora afete mais os gatos, é uma condição que também inclui os cães.
Também é comum que uma dieta vegana promova diarreia. Uma de suas possíveis causas é a ingestão de alimentos de difícil digestão pelo animal, o que por sua vez leva a um desequilíbrio na microbiota intestinal. O consumo de prebióticos (microrganismos vivos), conforme apontado por estudos, favorece o crescimento de bactérias que promovem a saúde intestinal dos animais de estimação.
Problemas ósseos
Como explicam os documentos profissionais, a vitamina D ajuda a regular o metabolismo do cálcio e do fósforo no corpo dos animais de estimação. Portanto, é essencial para o desenvolvimento normal da estrutura óssea do animal, principalmente em seus primeiros estágios vitais.
Embora as fontes dessa vitamina sejam variadas, estima-se que as dietas veganas não fornecem a quantidade necessária e os alimentos de origem animal são os que mais contribuem. Mesmo na União Europeia (UE) e no Reino Unido, a única forma aprovada de vitamina D para animais de estimação é a D3 ou colecalciferol, derivado da lanolina em lã de ovelha.
Devido ao uso de animais para sua obtenção, essa vitamina pode ser considerada não vegana.
As dietas veganas para animais de estimação não são completas!
Ao longo deste artigo, explicamos por que, de acordo com especialistas, as dietas veganas para animais de estimação não são completas. Várias são as condições que podem ser desencadeadas em cães e gatos se essa vertente nutricional for escolhida, principalmente porque seu organismo não é igual ao nosso.
Como somos espécies diferentes, não podemos extrapolar nossas decisões para os cães e os gatos sem primeiro considerar todos os fatores. De fato, antes de tomar a decisão de mudar a dieta dos animais de estimação, sempre será necessário consultar o veterinário para receber orientações sobre a melhor forma de implementação.
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