Febre do leite em cadelas: como identificar e o que devo fazer?
Escrito e verificado por veterinário e zootécnico Sebastian Ramirez Ocampo
A eclâmpsia ou febre do leite é um distúrbio metabólico no qual os níveis de cálcio caem a um ponto insustentável para o bom funcionamento do organismo. Pode ocorrer tanto durante a gravidez quanto durante a amamentação e é caracterizada por tremores, taquicardia, febre e fraqueza muscular.
Se a sua cadela está prestes a dar à luz, ou você planeja que ela engravide, é importante que conheça a fundo os sinais, as causas, o tratamento e a prevenção dessa patologia. Dessa forma, você pode fornecer cuidados oportunos ao seu animal de estimação. Não deixe de ler!
Por que ocorre a febre do leite?
De acordo com um artigo da revista The Veterinary Clinics of North America, é considerada a eclâmpsia canina quando os níveis de cálcio no sangue estão abaixo de 9 mg/dl.
Origina-se da alta demanda desse mineral nas fases pré e pós-parto. Ou seja, durante a ossificação esquelética dos filhotes e a produção do leite materno.
Embora sejam dois processos pelos quais passam todas as fêmeas que criam recém-nascidos, o preparo inadequado ou o manejo inadequado podem levar ao esgotamento das reservas de cálcio da mãe.
Embora possa ocorrer em qualquer tipo de cão, os de raças pequenas (pinscher, shih tzu, lulu-da-pomerânia, chihuahua) ou com predisposição para dar à luz grandes ninhadas (labrador, golden retriever, são bernardo) são mais propensos a sofrer com isso.
Da mesma forma, ocorre com maior frequência entre 10 e 20 dias após o parto. Porque é o momento em que ocorre o maior pico de produção de leite.
Quais são suas principais causas?
A febre do leite em cadelas está fundamentalmente ligada a déficits nutricionais e energéticos na dieta. Como diz um artigo da revista Topics in Companion Animal Medicine, duas causas principais podem ser identificadas.
Suplementação de cálcio durante a gravidez
Muitos tutores podem pensar que dar cálcio aos seus animais de estimação durante a gravidez pode prevenir a eclâmpsia. No entanto, essa ação pode gerar o resultado oposto.
Isso ocorre porque a glândula paratireoide – que normalmente regula os níveis de cálcio no sangue por meio do paratormônio – pode sofrer atrofia devido à suplementação excessiva de cálcio.
Em termos mais práticos, o que se produz é uma retroalimentação negativa, pois a glândula para de liberar o hormônio quando identifica que não está precisando de mais cálcio no corpo.
Porém, quando chega o momento da amamentação e a suplementação é interrompida, a paratireoide não consegue produzir hormônio suficiente para manter níveis adequados de cálcio na circulação, gerando hipocalcemia.
Uma dieta desequilibrada
Tanto durante a gestação quanto durante a amamentação, as fêmeas precisam de alimentos que forneçam os nutrientes necessários para sua manutenção e de seus filhotes. Na verdade, precisam de dietas que multipliquem por 5 suas necessidades energéticas em condições normais.
Além disso, de acordo com o artigo A Quick Reference on Hypocalcemia, a vitamina D é essencial para a absorção adequada de cálcio no intestino.
Portanto, se a alimentação fornecida carece de um bom aporte calórico e apresenta desequilíbrio de minerais e vitaminas, as mães não conseguirão se recuperar na mesma proporção em que gastam suas reservas com a alimentação de seus recém-nascidos.
Como posso identificar a febre do leite?
Tendo em conta que o cálcio desempenha um papel fundamental na transmissão dos impulsos nervosos, grande parte da sintomatologia associada a essa patologia é de natureza neurológica. Entre os principais sinais de febre do leite em cadelas estão os seguintes:
- Ataxia ou incoordenação ao caminhar;
- Tremores e espasmos.
- Fraqueza muscular.
- Temperatura corporal acima de 40°C.
- Dificuldade para respirar e chiado.
- Agitação e nervosismo.
- Rigidez muscular.
- Taquicardia.
- Convulsões.
O que devo fazer nessa situação?
A primeira providência que devemos tomar é separar os filhotes da mãe. Com isso, evitaremos um maior desperdício de energia e diminuiremos a perda de cálcio. Mais tarde, como a vida do nosso animal de estimação está em risco, devemos consultar um veterinário o mais rápido possível.
O profissional será responsável por fornecer, por via intravenosa, gluconato de cálcio a 10% junto com dextrose para repor os níveis de cálcio e energia do organismo. Ressalta-se que esse procedimento deve ser feito lentamente, caso contrário poderá ocorrer bradicardia e parada cardíaca.
De acordo com o que é dito no guia Acute Management of Calcium Disorders, com tratamento adequado, os sinais clínicos param de aparecer em cerca de 30 a 60 minutos. No entanto, se as convulsões não pararem, pode ser necessário administrar um medicamento sedativo.
Por outro lado, uma vez que nosso animal de estimação esteja estabilizado, o veterinário pode recomendar que esperemos pelo menos 24 horas antes de amamentar os filhotes novamente. Durante esse período, os recém-nascidos devem ser alimentados com fórmula láctea ou alimentos úmidos, dependendo da idade.
Por fim, comprimidos de cálcio podem ser prescritos junto com calcitriol, que é a forma ativa da vitamina D. Isso com o objetivo de estabilizar e sustentar os níveis de cálcio no sangue durante o período de amamentação.
Prevenção da febre do leite
Para evitar a eclâmpsia em nosso animal de estimação, é essencial fornecer uma alimentação de qualidade e balanceada desde as primeiras semanas de gestação. Além disso, devemos garantir o consumo adequado de água, já que esse elemento compõe quase 80% do leite.
Após o parto, recomenda-se que as mães consumam ração para filhotes. Graças ao aporte mineral e energético dessas dietas, serão evitadas desordens metabólicas durante a fase de amamentação.
Finalmente, como se pode ver, o uso de suplementos de cálcio durante a gravidez é totalmente contraproducente. Para ter certeza de que a gestação do seu pet está indo bem, o ideal é buscar a orientação e avaliação de um profissional capacitado.
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