Poliandria: matriarcado do reino animal

A poliandria é a estratégia reprodutiva utilizada por algumas espécies, na qual a fêmea copula com dois ou mais machos para garantir a descendência.
Poliandria: matriarcado do reino animal
Ana Díaz Maqueda

Escrito e verificado por a bióloga Ana Díaz Maqueda.

Última atualização: 21 dezembro, 2022

O termo poliandria vem do grego polýs: muitos e andrós: homem, e se refere às fêmeas de espécies animais que copulam com mais de um macho para garantir uma descendência viável e frutífera.

A poliandria é um dos três principais tipos de acasalamento no mundo animal, juntamente com a monogamia e a poliginia (quando um macho copula com muitas fêmeas), que foram descritos por Darwin no século XIX.

Até pouco tempo, a monogamia era considerada a forma mais típica de comportamento sexual feminino. Isso pode se dever, em parte, ao fato de que o mundo científico do século XIX, predominantemente masculino, concentrou-se em ideias preconcebidas do comportamento feminino. Além disso, o acesso recente a testes genéticos em descendentes de animais mostrou que episódios aparentemente monogâmicos, na verdade, não eram assim.

Atualmente, sabemos que a monogamia é uma estratégia reprodutiva cheia de matizes. Na verdade, a verdadeira monogamia requer que a fêmea se torne pouco receptiva após a cópula. Se quiser saber mais sobre esse curioso assunto, continue lendo.

Quebrando o mito da monogamia

Uma das formas de explicar e compreender o comportamento sexual dos animais foi por meio das aves. Durante décadas, a observação direta do seu comportamento sugeria que, normalmente, as aves formavam casais para a vida toda e estabeleciam uma relação totalmente monogâmica.

Essa crença desapareceu com os primeiros estudos de DNA em descendentes de aves monogâmicas, nos quais foi observado que às vezes os filhotes eram do pai, mas outras vezes não. Depois disso, o paradigma das aves monogâmicas e das relações sexuais como eram entendidas até então foi refutado.

Poliandria: matriarcado do reino animal

Os benefícios da poliandria

Historicamente, considerava-se que as fêmeas obtinham tudo o que precisavam com um único acasalamento, ou seja, a fertilização de todos os seus óvulos com um único aporte de esperma.

Além disso, presumiu-se que o sucesso reprodutivo feminino estaria limitado pela disponibilidade de recursos, como os alimentos, por exemplo. Enquanto isso, para os machos, o sucesso reprodutivo recairia sobre o número de fêmeas com as quais copulassem.

Atualmente, sabemos que existem outros modos de reprodução ou estratégias reprodutivas, igualmente benéficas do ponto de vista evolutivo, uma vez que foram mantidas ao longo do tempo e são totalmente viáveis. Mais especificamente, a poliandria oferece várias vantagens para as espécies que a praticam:

  • Maior quantidade de esperma e mais variabilidade genética.
  • Em espécies com competição espermática (quando os espermatozoides de vários machos competem para atingir o ovócito dentro da fêmea), é assegurada uma maior viabilidade da descendência.
  • Alguns estudos mostram que a presença de diferentes espermatozoides aumenta a força do embrião (ou dos embriões) por meio de mecanismos genéticos. Por exemplo, ao promover a seleção de espermatozoides com “genes mais compatíveis”.
  • Em algumas espécies, os machos oferecem alimento às fêmeas como parte do cortejo, o que aumentaria a fertilidade da fêmea.
  • A poliandria parece aumentar o alcance do cuidado parental por parte do macho.
  • Menor risco de infanticídio. O fato de os machos não terem certeza se os filhotes são seus os impede de querer matá-los para copular com a fêmea novamente.
  • Existem mecanismos genéticos que promovem a seleção de espermatozoides com “genes mais compatíveis”.

Como a poliandria afeta os machos?

Assim como as fêmeas têm suas próprias estratégias, os machos das espécies poliândricas também têm seus mecanismos para competir com os demais.

Quando uma fêmea copula com vários machos em um período muito curto, os espermatozoides, conforme dissemos, vão competir entre si para chegar ao ovócito. Por isso, em alguns casos, os machos têm estratégias para evitar essa competição:

  • Em algumas espécies, os machos protegem as fêmeas para impedir a chegada de um competidor.
  • Eles também podem inserir tampões na entrada da vagina da fêmea para evitar que ela copule com outros machos, como no caso de ratos e camundongos.
  • Em outras espécies, os machos podem controlar a quantidade de esperma que ejaculam de acordo com o número de competidores potenciais.
  • Alguns machos secretam, juntamente com os espermatozoides, proteínas que anulam a receptividade da fêmea ou aceleram a postura dos ovos (em espécies ovíparas).
Poliandria: matriarcado do reino animal

Seria essa a melhor estratégia reprodutiva para as fêmeas?

Não existem estratégias reprodutivas melhores ou piores. A pressão da seleção natural e da seleção sexual levaram as diferentes espécies para o momento evolutivo em que nos encontramos. Assim, os fatores que podem ter causado o surgimento de uma ou outra estratégia podem ser inúmeros.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Boulton, R. A., & Shuker, D. M. (2013). Polyandry. Current Biology, 23(24), R1080-R1081.
  • García-González, F., & Simmons, L. W. (2007). Paternal indirect genetic effects on offspring viability and the benefits of polyandry. Current Biology, 17(1), 32-36.
  • Kvarnemo, C., & Simmons, L. W. (2013). Polyandry as a mediator of sexual selection before and after mating. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, 368(1613), 20120042.
  • Marshall, D. J., & Evans, J. P. (2007). Context-dependent genetic benefits of polyandry in a marine hermaphrodite. Biology Letters, 3(6), 685-688.
  • Oring, L. W. (1986). Avian polyandry. In Current ornithology (pp. 309-351). Springer, Boston, MA.
  • Zeh, J. A., & Zeh, D. W. (1996). The evolution of polyandry I: intragenomic conflict and genetic incompatibility. Proceedings of the Royal Society of London. Series B: Biological Sciences, 263(1377), 1711-1717.
  • Zeh, J. A., & Zeh, D. W. (1997). The evolution of polyandry II: post–copulatory defenses against genetic incompatibility. Proceedings of the Royal Society of London. Series B: Biological Sciences, 264(1378), 69-75.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.