Por que alguns elefantes têm presas e outros não?
Os elefantes são os maiores mamíferos terrestres do planeta. Esses paquidermes podem viver até 70 anos e algumas espécies chegam a pesar 6000 quilos. No entanto, foi registrado que alguns elefantes têm presas e outros não. Esses dentes carregam uma grande história de caça furtiva por trás deles.
A explicação que alguns especialistas dão à questão de por que alguns elefantes têm presas e outros não – especialmente as fêmeas – é a ganância humana e a caça furtiva, já que suas presas de marfim atraem caçadores ilegais, o que trouxe muitas consequências para a espécie. Se você quiser saber mais sobre esse tema, continue a leitura.
Por que alguns elefantes têm presas e outros não?
No Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, país situado no sul da África, encontram-se vários elefantes velhos que carregam as marcas da guerra civil que esse país viveu durante 15 anos, entre 1977 e 1992. É por isso que muitos deles não tem presas.
O portal AnimaNaturalis conta que esse conflito matou cerca de 90% dos elefantes, sacrificados por causa do marfim de suas presas e da sua carne. Esse material foi a principal fonte de financiamento do conflito e, após a guerra, restaram menos de 100 elefantes vivos na área.
Organizações como a Elephant Voices estudaram os poucos sobreviventes dessa guerra, a maioria dos quais eram fêmeas sem presas. Graças a uma mutação no gene que dá origem a essas estruturas de marfim, essas fêmeas puderam sobreviver, dizem os especialistas do WWF.
Como a mutação é hereditária, seus filhotes nascem predispostos a não desenvolver presas. Não é uma adaptação que responde à ameaça dos humanos per se, mas favorece os elefantes que nascem sem presas, já que aqueles que as carregam ainda são caçados ilegalmente no resto do mundo devido ao seu marfim.
A mesma história, mas em outros lugares
Moçambique não é o único lugar onde a ausência de presas ocorre nos elefantes. Existem também outros países com uma grande história de caça por trás desse fato. Na África do Sul, por exemplo, 98% das 174 fêmeas no Parque Nacional Addo Elephant não desenvolveram presas a partir da década de 2000.
Outro lugar onde se pode observar isso é no Parque Nacional de Ruaha, no sul da Tanzânia, uma área saqueada por caçadores ilegais nas décadas de 1970 e 1980. Lá, 21% das fêmeas com mais de 5 anos não têm presas.
Assim como em Gorgosa, em Ruaha os percentuais são maiores entre as fêmeas mais velhas. Cerca de 35% das fêmeas com mais de 25 anos não têm presas e, entre os elefantes de 5 a 25 anos, 13% das fêmeas não têm.
A falta desses dentes de marfim ocorre desproporcionalmente entre as fêmeas, já que os machos sem presas são extremamente raros em elefantes-africanos. A especialista em comportamento de elefantes, Joyce Poole, diz que viu apenas 3 ou 4 machos sem presas em toda a sua vida.
Independentemente de serem elefantes machos ou fêmeas, os humanos estão deixando uma marca nos maiores mamíferos terrestres da Terra. Como se isso não bastasse, áreas da Ásia que presenciaram a caça do marfim – como a África – têm níveis muito altos de elefantes sem presas.
Alguns elefantes têm presas, mas menores
No sul do Quênia, a caça ilegal reduziu o tamanho das presas dos elefantes, assim como em outros lugares. Verificou-se que as presas roubadas entre 2005 e 2013 são menores do que as pertencentes aos elefantes abatidos entre 1966 e 1968. Seu tamanho foi reduzido em cerca de um quinto nos machos e mais de um terço nas fêmeas.
E por que os elefantes têm presas?
Os elefantes normalmente têm presas porque elas lhes permitem realizar a maior parte de suas tarefas diárias, como cavar em busca de água ou minerais, descascar árvores para obter alimentos fibrosos, ajudar os machos a competir pelas fêmeas, defender-se, levantar-se, mover objetos e proteger a tromba.
As presas dos elefantes são dentes que se estendem além da boca. Eles estão conectados ao crânio e contam com terminações nervosas, assim como os dentes humanos. Se a presa for quebrada, removida ou danificada, ela não volta a crescer.
Apesar da perda desses dentes importantíssimos, os elefantes conseguiram sobreviver e parecem estar saudáveis. Porém, acredita-se que essa deficiência possa estar influenciando o comportamento dos elefantes e de suas comunidades. Além disso, o trabalho que fazem com as presas é vital para outras espécies, portanto, sua ausência também tem implicações para o ecossistema que os cerca.
As árvores que os elefantes derrubam ou os buracos que cavam para obter água são muito importantes para as espécies que dependem dessas ações. Como se pode ver, suas presas não têm utilidade apenas para eles, mas também ajudam a criar habitats.
Por exemplo, certos lagartos preferem fazer suas casas em árvores derrubadas ou com intervenções de elefantes.
O comércio do marfim
O comércio do marfim é um negócio – principalmente ilegal – para as presas de marfim de algumas espécies, como o hipopótamo-comum (Hippopotamus amphibius), a morsa (Odobenus rosmarus), o narval (Monodon monoceros), o extinto mamute (Mammuthus spp.), o elefante-africano (Loxodonta spp.) e o elefante-asiático (Elephas maximus).
O marfim é comercializado há muitos anos em regiões como a Groenlândia, o Alasca e a Sibéria e colocou em risco as espécies que possuem marfim, segundo estudos da Universidade Autônoma de Barcelona.
Nesse caso, o marfim do elefante é exportado da África e da Ásia há séculos, pois há registros do século XIV a.C. Durante a colonização da África, esse material foi exportado para a fabricação de teclas de piano, bolas de bilhar, joias e outros objetos de riqueza exótica, mas de origem tortuosa e sangrenta.
Em 1979, havia aproximadamente 1,3 milhão de elefantes na África, mas em 1989 havia apenas 600 000.Tudo isso foi resultado do comércio internacional de marfim. Nessa década, cerca de 75 000 elefantes foram mortos por ano, no valor de cerca de US $ 1 bilhão.
Um problema atual
Alguns elefantes têm presas e todos os que têm, tanto fêmeas como machos, são alvos de caça ilegal. Isso prejudica suas populações, pois esses animais ficam praticamente sem machos para procriar, pois as presas mais cobiçadas são as dos machos mais velhos, por serem mais pesadas.
Além disso, a sociedade dos elefantes depende das fêmeas e os caçadores matam manadas inteiras formadas por elas, deixando órfãos os filhotes, que morrem sem chegar a se reproduzir. Essa é outra consequência que ameaça a espécie.
A caça realizada para a obtenção do marfim continua sendo a maior ameaça para os elefantes com presas. A perda do habitat e o conflito gerado entre humanos e elefantes é outra das ameaças para esses animais.
De acordo com o WWF, cerca de 100 elefantes africanos morrem diariamente por causa de suas presas de marfim, sua carne e outras partes de seu corpo. Hoje, há 110 000 elefantes a menos na África do que na década passada, quando havia cerca de 415 000.
Por causa disso, na África existem áreas protegidas destinadas à conservação dos elefantes. Em vários locais – como em Moçambique – são realizados trabalhos para reduzir os conflitos que existem entre os humanos e esses paquidermes, para acabar com a caça furtiva e outros danos às espécies.
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