Por que os ratos evitam machucar seus congêneres?

Mais uma vez, a ciência demonstrou que a empatia não é exclusiva dos seres humanos.
Por que os ratos evitam machucar seus congêneres?
Ana Díaz Maqueda

Escrito e verificado por a bióloga Ana Díaz Maqueda.

Última atualização: 21 dezembro, 2022

Tal como acontece com muitos sentimentos, emoções e qualidades humanas, a empatia parece ser exclusiva da nossa espécie. Apesar disso, pesquisadores e outros observadores há muito tempo demonstram que esse pode não ser o caso. Um bom exemplo é como os ratos evitam machucar seus congêneres.

Durante décadas, foram realizados testes de laboratório sobre o comportamento de ratos e sua aplicação ou relação com o comportamento humano. Da mesma forma, esse tipo de estudo foi realizado com pombos, lobos, cães ou primatas.

Nos seres humanos, a empatia é conhecida como a qualidade inata de ajudar e reconhecer as emoções do outro. Dessa forma, nos conectamos afetivamente com outras pessoas em nosso grupo social.

Através das pesquisas de cientistas da Academia Real de Artes e Ciências dos Países Baixos, os ratos demonstram empatia por seus congêneres que estão sofrendo. Esse fato implicaria que a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa teria aparecido na evolução muito antes dos humanos.

Como a empatia é regulada?

Como a empatia é regulada?

Uma região do cérebro humano chamada córtex cingulado anterior (CCA) possui neurônios-espelho. Essas células respondem quando o indivíduo experimenta dor ou presencia quando outro congênere sofre. No entanto, os mecanismos celulares subjacentes ainda são pouco compreendidos.

 “Os neurônios-espelho são um tipo de neurônio que é ativado quando uma ação é executada e quando essa ação é observada, ou existe uma representação mental dela” -Gema Sánchez Cuevas, psicóloga.

Em estudos recentes, foi demonstrado que o córtex cingulado anterior dos ratos (na área 24) também contém neurônios-espelho, que são ativados quando o rato sente dor ou quando vê outro congênere sofrendo.

No entanto, eles não foram ativados ao ouvir um rato sofrer. Isso pode acontecer, de acordo com outras pesquisas, porque é necessário que o rato tenha vivenciado o medo para senti-lo ao ouvir um congênere.

Dessa maneira, os ratos que sabiam o que eram o medo e o sofrimento ficavam alterados quando seus companheiros emitiam sons para alertar o grupo.

Como é possível saber se os ratos evitam machucar seus congêneres?

Como é possível saber se os ratos evitam machucar seus congêneres?

Para o desenvolvimento do experimento, primeiramente, um grupo de ratos, alojados em pares, foi treinado para tocar uma alavanca para obter um prêmio. Logo após terem sido colocados na gaiola, os ratos aprenderam que, ao ativar um mecanismo, conseguiram um cubo de açúcar.

Quando ficou claro que os ratos sabiam como fazer isso, o mecanismo foi modificado e, desde então, cada vez que tocavam na alavanca, seu congênere recebia um pequeno choque.

Assim que alguns ratos começaram a sofrer os choques, os ratos com as alavancas paravam de pressioná-las. Isso poderia nos dizer, junto com estudos sobre neurônios-espelho em ratos, que esses animais sabem quando um congênere está sofrendo e tentam evitar a situação.

Empatia ou egoísmo?

Nesse ponto, devemos nos fazer outra pergunta. Os ratos param de pressionar a alavanca por empatia ao seus congêneres ou egoísmo para acalmar seu próprio sofrimento?

Devido aos neurônios-espelho, os ratos sentem, de certa maneira, o que seus congêneres sentem, portanto, parar de tocar na alavanca faria eles se acalmarem.

O mesmo acontece com os seres humanos. Por que ajudamos alguém ferido? Por altruísmo ou simplesmente por não querer que o sofrimento alheio nos cause dor? As respostas a essas perguntas são complexas e exigiriam uma longa reflexão.

A questão que chama atenção é que, nas duas espécies, ocorre um processo semelhante. A empatia é uma emoção adaptativa que melhora a sobrevivência das espécies que vivem em grupos sociais.


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