Progestágenos em cães: é arriscado usá-los?

Devido à gravidade dos efeitos colaterais, o uso de progestágenos em cães é questionado. Descubra no conteúdo a seguir por que eles são considerados arriscados.
Progestágenos em cães: é arriscado usá-los?
Sebastian Ramirez Ocampo

Escrito e verificado por veterinário e zootécnico Sebastian Ramirez Ocampo.

Última atualização: 29 agosto, 2023

O uso de progestágenos em cadelas como método contraceptivo visa inibir o aparecimento de cio em fêmeas. No entanto, apesar de cumprir seu objetivo, essa prática é considerada arriscada devido ao número de efeitos adversos que pode produzir.

Por essa razão, tanto veterinários quanto tutores devem reconsiderar sua administração para controlar os ciclos reprodutivos em cadelas. Continue lendo e conheça todos os aspectos relacionados ao uso desses hormônios em animais de companhia.

O ciclo estral de cadelas

Antes de abordar um tema tão importante para a saúde, é importante rever parte do processo reprodutivo das cadelas. Em primeiro lugar, o cio ou estro é definido como o estado em que uma fêmea está receptiva ao acasalamento.

Esse período ocorre quando ela atinge a maturidade sexual, que é alcançada entre 8 e 15 meses de idade, dependendo da raça do indivíduo. Ao contrário de outras espécies animais, o cio das cadelas é monoéstrico e não sazonal. Ou seja, há apenas um cio por ciclo estral e ocorre em qualquer época do ano.

Esse fenômeno geralmente ocorre a cada 6 a 12 meses, embora em algumas raças, como o pastor-alemão, possa ocorrer a cada 4 meses. Portanto, o cio acontece entre 1 e 3 vezes por ano. Esse período reprodutivo tem 4 fases ou estágios:

Fases do cio

  • Proestro: é a primeira fase do ciclo estral. Dura de 3 a 20 dias e caracteriza-se pelo aparecimento de sangramento na cadela e pelo aumento do tamanho da vulva. Nesse período, inicia-se o crescimento folicular, graças ao hormônio folículo-estimulante (FSH).
  • Estro: fase em que a fêmea se torna receptiva ao acasalamento. Apesar de não haver uma duração padrão, essa fase persiste entre 3 a 20 dias com uma média geral de 9 dias. Graças à ação do estrogênio e da progesterona, a ovulação ocorre entre 24 a 48 horas após o início do estro.
  • Diestro: também conhecido como fase lútea, começa quando a fêmea não aceita mais o macho. Se tiver havido concepção, essa fase durará cerca de 63 dias. Por outro lado, se não tiver havido gestação, durará em média 100 dias.
  • Anestro: é o período entre o final do diestro e o início do proestro. Em termos mais práticos, é um estágio de inatividade reprodutiva.

Uma vez identificadas as diferentes fases do ciclo sexual das cadelas, vamos rever o que são os progestágenos, sua classificação e qual é a sua utilização no campo da medicina veterinária.

A mulher beija o cão no focinho
O ciclo estral das cadelas tem 4 fases; proestro, estro, diestro e anestro.

O que são progestágenos?

Os progestágenos são um grupo de hormônios esteroides com importante atividade na gestação e nos processos de cio das fêmeas. Sua principal função é preparar o endométrio para implantação e manutenção da gravidez, além de inibir a motilidade uterina durante a gravidez e estimular o desenvolvimento do tecido mamário.

Além disso, agem em conjunto com o estrogênio para induzir o comportamento estral, ou cio. De acordo com sua origem, eles podem ser classificados da seguinte forma:

  • Progesterona: o corpo a produz naturalmente. Os corpos lúteos sintetizam e secretam esse hormônio durante a fase lútea do ciclo estral. Por sua vez, a placenta se encarrega dessa função durante a gravidez. Devido à sua rápida metabolização, é de pouca utilidade na área médica.
  • Progestágenos: são aqueles medicamentos sintéticos que são utilizados para fins terapêuticos, pois possuem efeitos semelhantes aos da progesterona. Entre os principais, encontramos o acetato de medroxiprogesterona (AMP), o acetato de megestrol (AM) e a clormadinona.

Quais usos são dados aos progestágenos em cães?

Os progestágenos têm sido utilizados para o tratamento de diversas patologias de origem comportamental e dermatológica em cães. No entanto, o campo de maior aplicação é o controle reprodutivo.

De acordo com o artigo Estrus Suppresion in Dogsos primeiros estudos que avaliaram o efeito dos progestágenos na supressão do ciclo estral em cadelas datam de 1952. Desde então, um grande número de profissionais tem utilizado esses fármacos como métodos contraceptivos.

Como apontamos, os progestágenos desempenham um papel fundamental durante os eventos de estro e gravidez. No entanto, foi demonstrado que altas doses ou exposição prolongada inibem a síntese e liberação de gonadotrofinas. Isso é indicado pela investigação intitulada Uso clínico de progestinas en perras y gatas: una revisión.

É importante ter em mente que o hormônio folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH) que fazem parte do grupo das gonadotrofinas são necessários para o início das fases do ciclo estral e, portanto, da ovulação.

Em relação ao tratamento, o artigo citado distingue 3 formas de suprimir o ciclo estral com progestágenos. Para o uso desses medicamentos, considera-se a duração, a finalidade e a fase em que é administrado:

  • Supressão aguda: no primeiro caso, os progestágenos são administrados em altas doses antes ou durante o início do proestro, com o objetivo de suprimir tanto o proestro quanto o estro. Além disso, tem um efeito que atrasa o ciclo estral por várias semanas ou meses.
  • Supressão temporária: para obter uma inibição temporária do novo ciclo, os progestágenos são administrados em doses baixas, por várias semanas no estágio de anestro.
  • Supressão permanente: a administração prolongada de progestágeno, iniciada no anestro, pode atrasar o início do próximo ciclo por vários meses. Para isso, são feitas administrações orais repetidas, injeções de formulação de ação curta, bem como outras de ação prolongada. A duração do efeito é de vários ciclos.

Deve-se notar que, assim como ocorre com os humanos, quando esses hormônios são interrompidos por via oral ou injetados, os ciclos reprodutivos voltam ao normal.

É arriscado usar progestágenos em cães? Efeitos colaterais

Embora esses medicamentos cumpram sua função, dependendo do caso de sua administração, em geral, causam alterações metabólicas e morfológicas indesejadas no organismo dos cães.

De acordo com o que foi exposto em um artigo publicado na revista Topics in Companion Animal Medicine, a administração de progestágenos aumenta o risco de apresentar doenças reprodutivas, como hiperplasia endometrial cística ou tumores mamários.

Por exemplo, um artigo publicado na revista Topics in Companion Animal Medicine afirma que a administração de progestágenos aumenta o risco de doenças reprodutivas, como hiperplasia endometrial cística ou tumores mamários.

Os veterinários examinam o cão na mesa
A administração de progestágenos em nossos animais de estimação pode causar diferentes doenças reprodutivas.

Da mesma forma, sua aplicação tem sido relacionada ao desenvolvimento de problemas hepáticos, distúrbios hormonais devido à supressão adrenocortical, doenças de pele e sintomas de diabetes insulino-resistente.

Por outro lado, em casos mais graves, os progestágenos em cães podem comprometer a vida da paciente. Isso porque podem gerar o que é conhecido como piometra, patologia na qual ocorre a produção e o acúmulo de material purulento dentro do útero. Além disso, se a aplicação ocorrer em fêmeas que já tenham engravidado, há risco de morte e mumificação fetal.

Em ambos os casos, a única solução é a cirurgia para retirada do útero comprometido, com a consequente infertilidade permanente da cadela.

Recomendações para tutores

Sem dúvida, o uso de progestágenos em cães faz mais mal do que bem. Até o momento, não existe um medicamento anticoncepcional seguro na medicina veterinária, pois todos os produtos no mercado produzem esses tipos de efeitos colaterais de uma forma ou de outra.

De fato, a administração de certos medicamentos em cães, como o acetato de medroxiprogesterona (AMP), é proibida nos Estados Unidos. Por isso, a principal opção caso uma pessoa não queira que seu animal de estimação se reproduza é a esterilização ou ovariohisterectomia.

Graças a esse procedimento, os tutores não só evitarão a gravidez de seus animais de companhia, mas também evitarão os sintomas característicos do cio, como sangramento vaginal ou alterações comportamentais.

Somado a isso, estudos sugerem que essa cirurgia diminui o risco de distúrbios reprodutivos, como tumores de mama. Por fim, para tutores que não desejam submeter seu pet a uma ovariohisterectomia e ao mesmo tempo evitar que sua cadela engravide, a recomendação é de isolamento e cuidados rigorosos.


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