Riscos e benefícios dos mosquitos geneticamente modificados
Escrito e verificado por a bióloga Georgelin Espinoza Medina
As doenças transmitidas por vetores representam uma grande dor de cabeça em todo o mundo. Principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, onde se encontram as maiores incidências. Buscar alternativas que permitam um melhor controle e erradicação de todas essas condições é uma necessidade urgente. Assim, surgem novas ferramentas como o uso de mosquitos geneticamente modificados.
No entanto, como em tudo que é novo, há algum medo e ceticismo quanto ao seu uso. Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) se apresentou para esclarecer aspectos relacionados ao uso desses mosquitos transgênicos ou modificados. Este é o tema que trazemos em detalhes aqui. Por isso, convidamos você a ler até o final para que fique sabendo de tudo.
O que são os mosquitos geneticamente modificados?
Como o próprio nome indica, são mosquitos que foram alterados em sua genética, ou seja, em seu DNA (a molécula que contém todas as informações de um ser vivo). Para isso, é utilizada uma tecnologia chamada DNA recombinante, na qual é utilizado um segmento ou gene que possui uma característica que deve ser transmitida ao organismo receptor, nesse caso mosquitos. Eles também são chamados de transgênicos.
Essa técnica inovadora tem sido utilizada em diversos organismos, incluindo espécimes destinados ao consumo humano.
Por que os mosquitos transgênicos são usados?
Talvez o uso de mosquitos modificados pareça absurdo para você. No entanto, a ideia surge de uma grande necessidade da saúde pública. Por muito tempo, a população humana foi vítima de inúmeros patógenos, que podem ser encontrados em todos os lugares e podem ser movidos de um lugar para outro por organismos que funcionam como vetores ou veículos transmissores.
Os vetores são muito variados e incluem mosquitos, moscas, ácaros, carrapatos, piolhos, caracóis, entre outros. No caso particular dos mosquitos, eles podem transmitir doenças relevantes. Entre elas, dengue, febre amarela, malária, filariose, chikungunya, febre do Nilo Ocidental. Todas de grande impacto para a população.
Para dar um exemplo do problema, em 2018, cerca de 228 milhões de casos de malária foram registrados no mundo, com um trágico número de 405 mil mortes. Dados que evidenciam a falta de controle com o uso das técnicas atuais e demonstram a necessidade de buscar alternativas para erradicar esses vetores, insetos que expandiram sua distribuição nos últimos anos, o que agrava a situação.
Assim, surgiu a iniciativa de usar mosquitos geneticamente modificados para combater a malária e as diversas doenças que eles podem transmitir.
Quais são as qualidades dos mosquitos produzidos pela biotecnologia?
A ideia de gerar mosquitos modificados é combater doenças. Assim, eles devem ter algumas características que contribuam para esse propósito prático. No caso da espécie Aedes aegypti (transmissora da dengue, zika e chikungunya), tem sido utilizado um gene autolimitado que causa a morte antes da idade adulta. Dessa forma, as populações desses insetos são reduzidas.
Outros genes marcadores que permitem a identificação de mosquitos transgênicos também são utilizados. Em particular, com recursos fluorescentes, para que sejam detectados sob luz especial. Assim, é possível diferenciá-los de indivíduos selvagens e rastrear organismos modificados.
Quais são os riscos e benefícios dos mosquitos geneticamente modificados?
A ideia de mosquitos transgênicos é polêmica entre os pesquisadores. Alguns apoiam sua implementação, mas outros se opõem, alegando que os riscos são maiores do que os benefícios a serem obtidos. Além disso, fomenta confrontos culturais entre a população que desconhece o assunto.
Se essa ferramenta for bem-sucedida, sem dúvida, trará enormes benefícios em relação à prevalência de doenças associadas a vetores, condições que diminuem quando a cadeia de contágio é quebrada, quando os mosquitos transmissores na natureza são reduzidos. Os riscos a serem avaliados com esse tipo de ferramenta estão relacionados a temas como segurança ambiental, biodiversidade e saúde, tanto humana quanto animal.
Uma das principais empresas dedicadas à produção desses transgênicos é a Oxitec. Alguns estudos realizados em lugares como Panamá, Brasil e Ilhas Cayman determinaram que os transgênicos não têm impacto significativo sobre humanos, meio ambiente, outras espécies de mosquitos ou mesmo predadores de animais. Além disso, eles mostram uma redução nas populações selvagens desses insetos.
No entanto, as investigações ainda continuam. A OMS confirma a necessidade de avaliação por meio de uma abordagem gradual e com a participação das comunidades para garantir segurança, qualidade e eficácia.
Conclusões
Devido à incidência global de doenças transmitidas por vetores, a OMS se posiciona em relação à urgência de desenvolver e testar ferramentas que contribuam para seu controle e erradicação. Uma das tecnologias lançadas nos últimos anos é o uso de mosquitos geneticamente modificados. Portanto, destaca-se a importância de uma abordagem gradual para testá-los.
Uma visão na qual as comunidades também devem estar envolvidas, incluindo as populações indígenas. Nessa tarefa colossal, de anos de luta com diferentes metodologias, sem sucesso, devemos deixar o ceticismo para trás e olhar objetivamente as alternativas existentes, desde que os resultados garantam a eficácia e segurança da saúde humana, animal e ecossistêmica.
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