O segredo dos tubarões que brilham no escuro
Escrito e verificado por a bióloga María Muñoz Navarro
A bioluminescência é um fenômeno que ocorre em espécies marinhas com frequência e que é usado por muitos animais como estratégia defensiva. Descobertas relativamente recentes mostraram que, no fundo do mar, existem tubarões capazes de emitir uma luz verde brilhante através da pele. Essa qualidade não parece ser muito útil para passarem despercebidos, mas oferece muitas vantagens. A seguir, vamos falar sobre as curiosidades desses misteriosos tubarões que brilham no escuro.
Tubarões que emitem luz verde
Existem muitos animais capazes de produzir luz. Alguns podem fazer isso graças a proteínas verdes fluorescentes chamadas GFP, descritas em águas-vivas e crustáceos, ou indiretamente por meio de uma simbiose com bactérias que são as que produzem essa bioluminescência, como é o caso da lula Euprymna scolopes.
Em 2019, um grupo de pesquisadores descobriu tubarões que podiam se comunicar entre si graças ao fenômeno da fluorescência. Eram as espécies Cephaloscyllium ventriosum (tubarão-inchado) e Scyliorhinus retifer (cação-cadeia), pertencentes à mesma família, cuja pele possui dupla tonalidade: clara e escura.
Nesses seres, existe uma rota metabólica de moléculas de bromo-triptofano-quinurenina, não descritas anteriormente, que são a causa da emissão de luz em sua pele.
O tubarão-inchado
Além dos tons claros e escuros que aparecem na pele dessa espécie, também se destacam manchas fluorescentes de cor verde por todo o corpo.
O cação-cadeia
Ao contrário do tubarão-inchado, essa espécie não se caracteriza por pontos fluorescentes. Nesse caso, a pele mostra um padrão de linhas pretas encadeadas nas quais é possível ver áreas claras e escuras.
Vantagens da bioluminescência
No estudo divulgado pela revista iScience, foi utilizada a microscopia de fluorescência para examinar amostras de tecido da pele desses tubarões. A partir dos resultados, foi observado que a fluorescência se distribuía apenas na pele clara, e de diferentes maneiras nos corpos de cada espécie.
Outra das descobertas mais interessantes foi o fato de que esses tubarões são especializados em ver a bioluminescência já que possuem um mecanismo visual que permite detectá-la. Isso é uma vantagem, pois não poderão ser vistos pelos outros peixes, mas poderão se comunicar entre si.
Por outro lado, a luz que eles produzem é emitida de forma específica dentro de cada espécie.
Dessa forma, a bioluminescência permite que indivíduos da mesma espécie se comuniquem entre si, além de ajudá-los a escapar da vista de outras criaturas potencialmente nocivas.
Os metabólitos têm propriedades antibacterianas
O tubarão-inchado é conhecido por viver circulando pelo fundo do mar (é bentônico), movendo-se de forma sinuosa através dos sedimentos das profundezas. Nesses locais, vivem bactérias marinhas, tais como Staphylococcus aureus e Vibrio parahaemolyticus. Isso levou os mesmos pesquisadores a testar os metabólitos que produzem a bioluminescência, para verificar qual era sua atividade diante das bactérias.
Como resultado, foi descoberto que essas pequenas moléculas protegem os animais do ataque microbiano. Isso faz sentido, já que esses tubarões que brilham no escuro estão em contato constante com o fundo do mar.
Outra propriedade dos metabólitos
Durante os últimos anos, os estudos voltados para a bioluminescência têm sido um grande passo para o avanço científico. Mas, apesar do grande número de publicações explicando como e porque isso ocorre, estamos muito longe de entender seu funcionamento.
Além dos dados obtidos na pesquisa descrita anteriormente, outra descoberta interessante também foi observada. Trata-se de um paralelismo entre a rota biossintética de bromo-quinurenina dos metabólitos e a rota triptofano-quinurenina que ocorre em vertebrados.
Esta última regula vários processos biológicos em humanos. Por exemplo, o acúmulo de quinurenina no cérebro está relacionado a transtornos mentais como depressão e esquizofrenia. Portanto, esses metabólitos podem desempenhar um papel importante no sistema nervoso central.
Um mundo de luz
Após essas descobertas, podemos resumir que a bioluminescência gerada nesses tubarões possui propriedades únicas que são muito diferentes das que ocorrem em outros seres.
Nesse caso, eles possuem metabólitos destinados a emitir uma cor verde brilhante através das áreas claras da sua pele. Graças a essa qualidade, essas espécies são invisíveis para outras criaturas marinhas, embora possam ser detectadas entre si.
Além disso, são essas mesmas moléculas que fazem com que tenham resistência contra infecções bacterianas. Depois de tudo o que aprendemos sobre esses tubarões que brilham no escuro, só podemos dizer que a natureza nunca deixará de nos surpreender.
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- Park, H.B. et al. Bright green biofluorescence in sharks derives from Bromo-Kynurenine metabolism. iScience (2019) 19: 1277-1286.
- https://biogeodb.stri.si.edu/caribbean/es/thefishes/species/2681
- https://cienciaybiologia.com/tiburones-verde-fluorescente/
- https://www.nationalgeographic.com.es/naturaleza/estos-tiburones-brillan-oscuridad_14614/3
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