Os tubarões têm relações afetivas duradouras

Tubarões, categorizados como animais solitários, podem abrir exceções para certos membros da mesma espécie. Esse comportamento era até então desconhecido.
Os tubarões têm relações afetivas duradouras

Última atualização: 16 agosto, 2021

Os tubarões são uma das espécies cuja imagem foi mais distorcida pelas representações humanas. Filmes, histórias e até mesmo alguns documentários o refletem como um predador implacável, cruel e solitário.

Felizmente, sua imagem de pesadelo é gradualmente desmontada a cada estudo e campanha de conscientização. Mas e aquela história de que os tubarões não são uma espécie não gregária? Bem, recentemente foi publicado um estudo que mostra que nenhuma regra é absoluta: parece que o tubarão também é capaz de manter relações afetivas duradouras.

Características do estudo

O estudo que nos interessa neste artigoCompanions and Casual Acquaintances: The Nature of Associations Among Bull Sharks at a Shark Feeding Site in Fiji (Companheiros e Conhecidos Casuais: A Natureza das Associações Entre Tubarões-cabeça-chata em um Local de Alimentação de Tubarões em Fiji) – tomou como objeto de estudo os tubarões-cabeça-chata (Carcharhinus leucas). Esses tubarões povoam as águas ao redor das ilhas e, apesar de sua aparência ameaçadora, são muito pacíficos e podem nadar ao redor dos humanos sem qualquer perigo.

O comprimento médio desses peixes, que anos atrás chegava a 3 metros, foi reduzido para 2,3 metros devido à caça intensiva dos maiores exemplares.

A publicação citada é um estudo longitudinal que registrou os movimentos de 91 espécimes de tubarão-cabeça-chata ao longo de 13 anos. A identificação dos indivíduos era feita por meio de cicatrizes, deformações ou membros ausentes. 3000 mergulhos foram feitos na Shark Reef Marine Reserve (SRMR) de Fiji para estudar seu comportamento.

 

Um dos tubarões gigantes.

Resultados: os tubarões têm relações afetivas duradouras

Embora o comportamento afiliativo entre os tubarões já tenha sido observado, as condições anteriores eram pouco confiáveis, por se tratar de uma operação de aquicultura, na qual esses peixes não se comportam naturalmente. Além disso, a duração do estudo foi muito rápida e o número de indivíduos foi muito baixo.

No entanto, os resultados de investigações anteriores foram confirmados pelo estudo em questão. Nele, foram coletadas amostradas do número de vezes que os mesmos tubarões apareceram em vários mergulhos e quais tubarões apareceram junto com outros específicos.

Não apenas a ideia de que certos tubarões preferiam companhias específicas foi reforçada, como também de que essas afiliações eram mantidas ao longo do tempo. Apesar de serem animais solitários, a presença de comida disponível e suficiente para todos, fornecida pelo turismo de mergulho em Fiji, significa que os tubarões se aliam para se alimentar sem competir.

A alimentação direta dos tubarões parecia favorecer a dinâmica de fusão-fissão entre os espécimes que vinham todos os dias ao local de mergulho.

Discussão

A questão que os próprios autores do estudo levantam em seus resultados é justamente a mencionada: os tubarões-cabeça-chata não precisam competir entre si para se alimentar, pois são os visitantes que fornecem seu alimento. Não se sabe se em um cenário com recursos limitados eles seriam capazes de se aliar entre si.

Na verdade, o número de tubarões que se aproximam da reserva para se alimentar está aumentando gradativamente. Esses grupos, onde o risco de predação e competição é reduzido, também são benéficos para encontrar um parceiro na estação reprodutiva.

Conclusões: amizade entre tubarões

Os pesquisadores acrescentaram mais uma nuance às conclusões obtidas: falar sobre amizade entre tubarões é uma ideia antropocêntrica. Com isso, eles querem dizer que aplicar processos biológicos como gregarismo a animais solitários de uma forma determinista é, na melhor das hipóteses, imprudente.

Em estudos observacionais, é fácil cair na ideia de identificação com outras espécies, mesmo que elas sejam biologicamente distantes como os tubarões. Esse processo, embora fomente a empatia entre as espécies e ajude a aproximar progressivamente as bases universais do comportamento, deve seguir um processo científico para ser verificado.

 

Um tubarão negro nas profundezas.

O que está claro é que essas descobertas são um sinal de que nada é absoluto e que a natureza de uma espécie não determina por completo seu comportamento. Mesmo sob um ponto de vista antropomórfico, esse estudo é mais uma prova de que não há necessidade de guerra quando há recursos suficientes para todos.


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  • Bouveroux, T. (2021). Companions and Casual Acquaintances: The Nature of Associations Among Bull Sharks at a Shark Feeding Site in Fiji. Frontiers. https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmars.2021.678074/full
  • Loiseau, N., Kiszka, J. J., Bouveroux, T., Heithaus, M. R., Soria, M., and Chabanet, P. (2016). Using an unbaited stationary video system to investigate the behaviour and interactions of bull sharks Carcharhinus leucas under an aquaculture farm. Afr. J. Mar. Sci. 38, 73–79. doi: 10.2989/1814232x.2016.1156578

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