Ubirajara jubatus: o dinossauro com juba

Esse dinossauro tem uma juba extravagante e estranhas hastes laterais. Nenhum outro animal conhecido apresenta essas características.
Ubirajara jubatus: o dinossauro com juba
Francisco Morata Carramolino

Escrito e verificado por o biólogo Francisco Morata Carramolino.

Última atualização: 21 dezembro, 2022

Atualmente, muitas aves possuem estruturas chamativas e complexas, que desempenham um papel importante no comportamento social e reprodutivo, bem como na comunicação. O saco gular vermelho das fragatas-grandes (Fregata minor) ou as penas dos pavões-azuis (Pavo cristatus) são exemplos claros disso.

O custo para produzir, manter ou usar essas estruturas é alto. Além disso, elas podem dificultar a vida do animal em certa medida. Assim, elas servem como um sinal honesto da qualidade do indivíduo que as carrega e são amplamente usadas ​​como sistemas de seleção de parceiros no mundo animal.

No entanto, essas estruturas não tinham sido encontradas entre os dinossauros, pelo menos até recentemente. Uma investigação recente e polêmica descobriu Ubirajara jubatus, um predador que as ostenta com orgulho. A seguir, vamos contar tudo sobre ele.

Características de Ubirajara jubatus

Ubirajara jubatus é uma espécie da família Compsognathidae, terópodes cujos exemplares mais famosos são Compsognathus e Sinosauropteryx. Assim sendo, é um dinossauro relativamente pequeno: media apenas 0,5 metros de altura e 1,40 metros de comprimento, incluindo a cauda.

Como o resto dos exemplares dessa família, esse dinossauro era bípede. Ele tinha patas traseiras longas e poderosas, projetadas para correr. A cauda era extremamente longa, mais longa do que todo o resto do corpo.

As patas dianteiras eram curtas, mas não tanto quanto as de um tiranossauro. Esses animais extintos tinham 3 longos dedos terminando em garras. O pescoço também era bastante alongado e a cabeça pequena, fina e pontuda.

Penas e outros aspectos extravagantes

Os aspectos mais impressionantes desse antigo réptil estavam no exterior do corpo. Ubirajara jubatus era completamente coberto por penas arcaicas, semelhante a um pássaro moderno. Às vezes chamadas de protopenas, essas estruturas eram filamentosas, mais parecidas com pelos à distância.

Apesar disso, essas protopenas nada têm a ver com pelos reais, que só ocorrem em mamíferos. Os braços e dedos do animal também estavam cobertos por elas, mas o animal não contava com penas desenvolvidas, que ocorrem em dromeossaurídeos, aves e outros tipos de dinossauros alados.

Os filamentos eram especialmente longos atrás da base do pescoço, descendo pelo dorso do animal. Eles formavam uma juba impressionante que podia ser abaixada ou levantada, graças aos músculos superficiais.

Essa juba é única entre os dinossauros, mas Ubirajara jubatus tem uma característica ainda mais estranha: um par de estruturas sólidas localizadas em cada ombro. A superior media cerca de 15 centímetros de comprimento e 4,5 milímetros de largura. A inferior, 14 centímetros de comprimento e 2,5 milímetros de largura.

Essas “hastes” surgiram do mesmo ponto em cada ombro. É possível que pudessem ser esticadas e dobradas à vontade. Assim, poderiam desempenhar um papel importante na comunicação social e na reprodução do dinossauro.

Até agora, nenhuma estrutura semelhante foi encontrada em outras formas de vida. Os autores do estudo, publicado na revista Cretaceous Research em 2020, apontam a ave Semioptera wallacii como o caso mais semelhante.

Descoberta e polêmica por trás de Ubirajara jubatus

Ubirajara jubatus viveu no Brasil atual, cerca de 110-120 milhões de anos atrás. O fóssil foi encontrado no nordeste do país, provavelmente por um trabalhador nas pedreiras de calcário da região. Depois disso, foi adquirido por pesquisadores europeus em 1995 e transportado para um acervo na Alemanha.

Nessa última etapa, surge um grave problema, que gerou polêmica e provocou a retirada do artigo da revista científica que o publicou. De acordo com a legislação brasileira, os fósseis do país são públicos. Sua venda para outros países é ilegal desde 1942.

Essa lei surgiu para combater a exportação excessiva de fósseis para a Europa ou a América do Norte, o que priva os paleontólogos brasileiros da oportunidade de estudá-los e fazer suas próprias descobertas. Além disso, priva o Brasil e outros países semelhantes de manter seu patrimônio paleontológico.

Apesar disso, um forte mercado negro leva os fósseis para fora do país há décadas. Essas relíquias costumam passar para as mãos de paleontólogos de países desenvolvidos, que publicam suas descobertas sem a participação de profissionais brasileiros. Os fósseis nunca voltam ao seu país de origem.

A resposta dos autores

A equipe responsável pela descoberta de Ubirajara garante que o fóssil foi obtido com autorização oficial, mas cientistas e instituições brasileiras questionam essa afirmação. Para eles, essa situação é muito frequente e conhecida. Eles estão pedindo a abertura de uma investigação e a devolução dos fósseis ilegais.

Notavelmente, um dos paleontólogos por trás da descoberta, Dave Martill, é veementemente contra as leis brasileiras. Essas leis visam eliminar a longa história do colonialismo científico, mas, na opinião do cientista, são muito rígidas e criam obstáculos para a ciência.

De acordo com Martill, a compra de fósseis garante que eles sejam usados para estudo científico. Esse autor esteve envolvido em outros escândalos semelhantes envolvendo fósseis de origem duvidosa. Além disso, ele foi acusado de evitar colaborar com paleontólogos brasileiros.

Ubirajara simboliza o melhor e o pior da ciência. Por um lado, é uma descoberta fascinante que ajuda a reconstruir a história evolutiva do planeta. Por outro, ilustra as práticas antiéticas que são usadas em seu nome.


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