Vídeos de animais podem incentivar o tráfico ilegal
Escrito e verificado por o veterinário Eugenio Fernández Suárez
Todos nós gostamos de assistir a vídeos de animais e compartilhá-los em nossas redes sociais, mas um gesto inocente pode prejudicar a conservação de espécies silvestres, especificamente uma espécie conhecida como lóris lento.
Em 2009, esta espécie começou a se tornar viral na internet. Os vídeos que mostram este adorável primata comendo banana ou recebendo carinho eram a sensação nas redes sociais e eles começaram a se “espalhar” como fogo.
Vídeos de animais e seu perigo
No entanto,devemos nos lembrar que esta espécie de primata é ilegal como animal de estimação em grande parte do mundo, porque está em sério risco de extinção.
Certamente é por isso que um grupo de pesquisadores decidiu analisar o efeito desses vídeos virais na conservação das espécies.
A equipe analisou mais de 12 mil comentários na rede social do Youtube e descobriu que, após comentários sobre o quão bonito e “fofo” era esse primata, muitos expressaram seu desejo de tê-lo como animal de estimação e até mesmo perguntaram onde comprá-lo.
Os pesquisadores sugerem que isso poderia ligar diretamente os vídeos de animais virais com o tráfico ilegal dessas espécies.
Uma das maiores especialistas nessa espécie, a primatologista Anna Nekaris, diz que ela era pouco conhecida pelo público em geral, até que os vídeos se tornaram virais.
Os lóris que estrelam esses vídeos são animais de estimação ilegais; geralmente capturados diretamente de seu habitat, pois é uma espécie que dificilmente pode se reproduzir em cativeiro.
No estudo, Nekaris e seus colegas classificaram os comentários dos vídeos em diferentes categorias e, também, analisaram o impacto que personagens famosos podem ter nesses vídeos.
O desejo das pessoas de ter estes animais como pets foi expresso especialmente no começo dos comentários.
Uma mudança na percepção
Felizmente, os pesquisadores também aproveitaram essa viralização de vídeos de animais para divulgar as espécies e seus problemas.
Assim, em março de 2011, o site de uma conhecida enciclopédia online, visitada por milhões de pessoas, editou suas páginas com o objetivo de aumentar a conscientização sobre o tráfico.
Da mesma forma, em 2012, um documentário chamou a atenção sobre este problema. Assim, tem sido visto que ao longo do tempo os comentários sobre as redes começaram a mudar, e uma espécie de debate surge nos comentários.
Isso é bom, pois pode desmotivar algumas pessoas que pensam que animais selvagens são animais de estimação.
O problema com vídeos de animais selvagens em ambientes humanizados, como é o caso dos vídeos com o lóris lento, é que eles dão a impressão de que esses animais são bons animais de estimação e até nos fazem acreditar que eles não estão em perigo de extinção.
Da mesma forma, demonstram que não entendemos completamente o comportamento dos animais selvagens: nos vídeos de animais nos quais essa espécie aparece, o primata aparece levantando os braços.
A verdade é que esta espécie tem glândulas venenosas; por isso é mais provável que seja um comportamento defensivo e não uma demonstração de carinho ou apreço por cócegas.
Assim, a ONG conhecida como International Animal Rescue criou um site conhecido como ‘cócegas são tortura‘, onde eles relatam sobre os problemas desta espécie e seu tráfico ilegal.
Assim, esperamos que a febre das redes sociais não termine com outra espécie silvestre.
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- Is Social Media Saving or Enslaving the Slow Loris?: Anna Nekaris at TEDxNashville – https://youtu.be/DXvAv-Tacxw
- Nekaris, K. A. I., Musing, L., Vazquez, A. G., & Donati, G. (2016). Is Tickling Torture? Assessing Welfare towards Slow Lorises (Nycticebus spp.) within Web 2.0 Videos. Folia Primatologica. https://doi.org/10.1159/000444231
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