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Whalien 52: a baleia mais solitária do mundo

4 minutos
A baleia de 52 hertz permanece um mistério. Embora nunca tenha sido encontrada, pode ser um híbrido entre duas espécies diferentes.
Whalien 52: a baleia mais solitária do mundo
Francisco Morata Carramolino

Escrito e verificado por o biólogo Francisco Morata Carramolino

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Os oceanos do planeta são vastos e em grande parte inexplorados. A sua observação meticulosa permite abrir uma janela aos inúmeros segredos que ainda estão escondidos. É o caso de Whalien 52, uma criatura marinha conhecida apenas por meio de gravações de seu canto.

Esse animal nunca foi visto, mas acredita-se que seja uma baleia, graças às características desse canto tão particular. No entanto, nenhum outro espécime conhecido de sua espécie é capaz de cantar em uma frequência tão alta, que oscila acima de 52 hertz.

As vocalizações, que normalmente são imperceptíveis para os humanos, compõem uma parte fundamental do comportamento social dos cetáceos. Portanto, frequentemente é especulado se essa baleia é capaz de se comunicar ou vive isolada de seus pares. Se você quiser saber mais sobre ela, continue lendo!

A descoberta de Whalien 52

William Watkins, um pesquisador pioneiro da Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI), detectou pela primeira vez os sons de Whalien em 1989. Junto com sua equipe, Watkins gravou as mesmas vocalizações em 1990 e 1991.

Após o fim da Guerra Fria, a Marinha dos Estados Unidos desclassificou parcialmente seu Sistema de Vigilância Sônica (SOSUS). Esse conjunto de hidrofones, inicialmente projetados para detectar submarinos, permitiu que os cientistas da WHOI monitorassem esse animal anualmente durante 12 anos, a partir de 1992.

O monitoramento culminou em um estudo publicado em 2004, logo após a morte de Watkins. Essa publicação chamou a atenção da mídia, comovida pela história de uma baleia que cantava em uma frequência diferente das demais.

O cetáceo ganhou grande importância cultural. Músicas foram escritas e filmes foram produzidos sobre essa baleia. Porém, esse grande impacto midiático trouxe consigo uma série de especulações sobre o animal, que podem não corresponder à realidade.

 

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O som e as características de Whalien 52

Embora a princípio seja difícil de acreditar para seus descobridores, o som misterioso parecia vir de uma baleia. No entanto, esse tom tem uma grande diferença do resto das vocalizações de baleia conhecidas.

A baleia-azul canta com uma frequência entre 10 e 40 hertz, e a baleia-comum canta a 20 hertz. Essas são as 2 espécies com vocalizações mais semelhantes, mas Whalien 52 canta a 52 hertz, algo nunca visto antes.

Esse indivíduo em particular nunca foi localizado, então a espécie a que pertence não está clara. Pode ser um híbrido entre várias espécies ou um espécime puro com alguma peculiaridade. Existe também a possibilidade, embora muito remota, de ser uma espécie nova.

Contudo, especialistas indicam que se trata de uma baleia-azul (Balaenoptera musculus), total ou parcialmente. Para chegar a essa conclusão, eles se baseiam em seu comportamento e na estrutura de seus sons.

Onde vive essa misteriosa baleia?

De qualquer modo, seu canto singular oferece uma oportunidade única de estudar o comportamento de uma baleia solitária de forma acústica e não invasiva. Normalmente, isso pode ser feito com populações, mas não com indivíduos específicos por longos períodos de tempo.

Os monitoramentos indicam que esse cetáceo tem um comportamento migratório acentuado, muito típico das baleias-azuis. Vive no Pacífico Norte, relativamente perto das costas americanas. Seu alcance se estende do sul do Alasca à Baixa Califórnia.

Todos os anos, a equipe de pesquisa do WHOI detectava a baleia entre agosto e setembro e acompanhava seus movimentos até janeiro ou fevereiro. Após esse intervalo, Whalien saía do alcance dos hidrofones.

Uma canção de amor não correspondido

Muito do sucesso popular desse cetáceo vem da especulação da mídia. Como a baleia dos 52 Hertz canta em uma frequência diferente das outras, várias revistas propuseram que o resto das baleias não poderiam ouvi-la.

Portanto, Whalien não conseguiria se comunicar com seus pares nem se reproduzir. Daí o apelido pelo qual ela é conhecida: a baleia mais solitária do mundo. Centenas de pessoas se identificaram com a trágica história desse animal. No entanto, provavelmente esse pensamento não é verdadeiro.

Biólogos, pesquisadores e outros especialistas acreditam que, embora cante em uma frequência diferente, outras baleias poderiam ouvi-la sem problemas. Isso vale para as baleias-azuis, baleias-comuns e baleias-jubarte.

Além disso, alguns consideram que os sons desse mamífero marinho não são tão raros. Os dialetos locais das baleias são amplamente difundidos e são conhecidos outros casos de chamados idiossincráticos. Whalien 52 talvez seja um pouco estranha, mas isso pode não lhe causar problemas.

É impossível saber se esse animal pode se reproduzir, pois nunca foi encontrado. Contudo, é claro que ele não tem problemas para sobreviver, se locomover e se alimentar. Sua longa vida é prova disso.

Existem ainda várias possibilidades mais otimistas. O chamado peculiar desse animal pode constituir uma estratégia para atrair mais parceiros potenciais.

 

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Dados recentes indicam que pode haver várias baleias que emitem essas estranhas vocalizações. Whalien 52 pode não estar sozinha, afinal. Todo um grupo de animais semelhantes, talvez híbridos, poderia lhe fazer companhia.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • https://www.washingtonpost.com/sf/style/2017/01/26/the-loneliest-whale-in-the-world/
  • http://www.bbc.com/earth/story/20150415-the-loneliest-whale-in-the-world
  • https://www.whoi.edu/oceanus/feature/a-lone-voice-crying-in-the-watery-wilderness/
  • Watkins, W. A., Daher, M. A., George, J. E., & Rodriguez, D. 2004. Twelve years of tracking 52-Hz whale calls from a unique source in the North Pacific. Deep Sea Research Part I: Oceanographic Research Papers, 51: 1889-1901.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.