Águia-perdigueira: habitat e características
Escrito e verificado por a bióloga Raquel Rubio Sotos
A águia-perdigueira (Aquila fasciata), é uma ave de rapina pertencente à família Accipitridae. Também conhecida como “águia-de-bonelli”, é uma espécie com ampla distribuição e características únicas. Infelizmente, não está passando por seu melhor momento.
Essa águia está em perigo devido a múltiplas ações antrópicas, desde o despejo de poluentes até a criação de postes de eletricidade. Se você quiser saber tudo sobre sua biologia, comportamento e conservação, continue a leitura.
Habitat da águia-perdigueira
A águia-perdigueira se distribui do Sul da Ásia à bacia do Mediterrâneo e à África. As suas principais populações encontram-se no sul da Península Ibérica e no Magrebe. Ela prefere climas quentes, então lugares muito frios – com invernos com temperaturas que caem abaixo de 2 graus – não estão dentro da área de distribuição da espécie.
Seu habitat ideal deve ter abundância de presas e áreas íngremes ou falésias para a construção de ninhos. Essas aves frequentam áreas secas e montanhosas com paredes rochosas e pouca cobertura de árvores. Quando se estabelecem em um território, elas o mantêm, por isso não costumam se deslocar das áreas de reprodução, a menos que haja escassez de alimentos.
Características físicas
Entre as grandes águias, essa é a mais ágil e a de corpo menos robusto. Tem entre 60 e 70 centímetros de comprimento, envergadura entre 150 e 170 centímetros e costuma pesar no máximo 2 quilos. Essas aves podem viver 30 anos e não costumam emitir vocalizações, exceto para defender suas áreas de reprodução.
Quanto à plumagem, os adultos apresentam cores muito claras na parte inferior com manchas distribuídas longitudinalmente. A parte superior é castanha, com uma mancha branca no dorso. Uma maneira de distinguir facilmente esses animais em vôo é graças às faixas escuras no final de suas asas e cauda.
Quando jovem, a águia-perdigueira apresenta uma cor mais avermelhada ou canela, sem manchas até o segundo ano de idade. A parte superior é mais escura, enquanto as faixas no final das asas e da cauda vão se desenvolvendo à medida que mudam para a plumagem dos adultos. No terceiro ano, os adultos e os jovens têm a mesma coloração e não se diferenciam.
Como a maioria das aves de rapina, essas águias têm garras poderosas e um bico em forma de gancho que lhes permite rasgar a carne de suas presas. Quanto ao rosto, destacam-se os olhos, amarelos e grandes, que permitem enxergar a distâncias de até 800 metros.
Dimorfismo sexual
Em aves de rapina, o dimorfismo sexual é geralmente expresso na diferença de tamanho. Nesse caso, as fêmeas são maiores que os machos. Embora possam atingir 1,80 metros de envergadura, os machos geralmente não ultrapassam 1,50 metros. Quanto à coloração, é praticamente a mesma, embora os machos sejam um pouco mais claros.
Comportamento da águia-perdigueira
A águia-perdigueira é territorial e defende sua área, principalmente durante os períodos de reprodução e em locais próximos ao ninho. Encontros físicos diretos são raros, pois os espécimes realizam exibições de mergulho como um método de dissuasão.
Os adultos são sedentários e apenas ocasionalmente se movem para fora de seu território. Os jovens, no entanto, fazem um movimento de mais de 1000 quilômetros de sua área de nascimento, dispersando-se assim para outros territórios adequados para a espécie.
Essa espécie tem uma relação competitiva com a águia-real (Aquila chrysaetos). A maior evidência disso é que nas áreas onde a águia-real vive a águia-perdigueira não está presente. Pode ser porque ambas consomem presas e usam áreas de nidificação muito semelhantes.
Comportamento dos filhotes
Após a eclosão dos filhotes, os primeiros dias de vida são dedicados à alimentação. Quando ganham alguma força e musculatura, eles começam a exercitar os músculos das asas movendo-os no ninho. Os primeiros voos da águia-perdigueira geralmente começam depois de dois meses. Assim que ganham a força e a resistência necessárias, começam a receber aprendizado de seus pais.
Os pais ensinam aos filhotes as técnicas de caça necessárias para sobreviver. Para isso, realizam voos em grupo, nos quais realizam perseguições entre si e voos de mergulho. Esse período de aprendizagem costuma durar cerca de três meses.
Após essa fase, os jovens iniciam a sua dispersão. Eles param em áreas com comida abundante sem adultos que podem expulsá-los da área. Após esse período de dispersão, a maioria retorna ao criadouro dos pais.
Alimentação da águia-perdigueira
Graças à sua morfologia, a águia-perdigueira é muito ágil na caça. Isso lhe permite capturar animais em terra e pássaros em vôo com grande precisão. Normalmente, sobrevoam o terreno de caça a uma altura média e, quando avistam uma presa, se lançam em sua direção, mas por vezes escondem-se em poleiros à espera da oportunidade de atacar de surpresa e em alta velocidade.
Sua comida favorita é a perdiz-vermelha, daí seu nome. Essa ave de rapina também tem coelhos como presa principal – especialmente durante a época de reprodução – pombos e outros pequenos mamíferos e pássaros. Quando o alimento é escasso, ela pode caçar répteis, principalmente lagartos ocelados ou cobras, mas é uma escolha muito menos comum.
Reprodução da águia-perdigueira
As águias-perdigueiras são monogâmicas, ou seja, têm um companheiro para a vida toda, e ambos os sexos participam do processo de cuidar dos filhotes e construir o ninho. As fêmeas põem entre um e dois ovos, excepcionalmente três. A incubação dura entre 37 e 40 dias e é realizada por ambos os pais, embora a fêmea passe mais tempo incubando do que o macho.
Entre as aves de rapina da Península Ibérica, essas águias são as que primeiro iniciam o processo de reprodução. Normalmente, outras espécies começam a construir ou consertar seus ninhos entre janeiro e abril, enquanto as águias-perdigueiras geralmente começam em outubro.
Cortejo e acasalamento
O cortejo das águias-perdigueiras é realizado através dos chamados voos nupciais, que consistem em danças acrobáticas no ar entre o macho e a fêmea, incluindo mergulhos, piruetas, curvas fechadas e até espirais.
Entre dezembro e abril, ocorrem múltiplas cópulas, geralmente após os voos nupciais. A postura dos ovos geralmente começa em fevereiro, embora já tenham sido encontrados casos em janeiro e os últimos ocorrem por volta de abril.
A construção do ninho
A construção e arrumação dos ninhos começa em outubro. As águias-perdigueiras costumam ter mais de um ninho por casal e o recorde foi registrado para um casal que tinha 18 ninhos em 350 metros. Eles fazem isso para evitar a competição por espaço e ectoparasitas.
Os ninhos são construídos por ambos os pais. Para a sua construção, eles procuram zonas rochosas e de falésias de difícil acesso. Dependendo da área em que se encontra o ninho, o espaço pode medir quase 2 metros de comprimento e altura até ser praticamente plano, com lugar certo para os adultos.
Os materiais que os pais usam para sua construção são as plantas. As mais empregadas nessa tarefa são o pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e a azinheira (Quercus ilex). O pinheiro é muito utilizado, já que seu cheiro forte é um repelente natural contra insetos.
Algumas águias-perdigueiras fazem ninhos em árvores ou sobre linhas de energia, mas isso é raro. Quanto à orientação do ninho, ela varia nas diferentes áreas de nidificação.
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Estado de conservação da águia-perdigueira
Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), a sua categoria é “Pouco Preocupante (LC)”, mas na Península Ibérica corre perigo. A águia-perdigueira enfrenta as seguintes ameaças:
- Choques e eletrocussões com linhas de energia: é a principal causa de mortalidade dessa espécie. Causa a morte de mais de 50% dos espécimes adultos.
- Perseguição humana: a caça ilegal é outro dos principais fatores de mortalidade da águia-perdigueira.
- Envenenamento: trata-se principalmente de intoxicações provocadas pela ingestão de metais pesados.
- Destruição e alteração de habitats.
Vários estudos têm sido realizados para verificar a evolução das populações na Península Ibérica. A Espanha tem 70% dos casais reprodutores da Europa e, nos últimos anos, a regressão das populações em algumas áreas da região ultrapassou os 30%.
Para tentar mudar essa situação, foi lançado o projeto Life Bonelli, em colaboração com instituições como o GREFA, a rede Natura 2000, o projeto Life e diversas instituições governamentais. Esse projeto realiza a reprodução em cativeiro, a soltura de exemplares, o estudo das áreas de nidificação, o monitoramento dos espécimes, a educação cidadã, entre outras tarefas.
Se essas medidas continuarem a ser mantidas, o declínio nas populações de águia-perdigueira será revertido. Essa fascinante ave de rapina deve ser conservada para o bom funcionamento dos ecossistemas, pois é um membro-chave da cadeia alimentar.
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