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Anisocoria em cães: causas, diagnóstico e tratamento

6 minutos
O seu cão tem pupilas de tamanhos diferentes? Essa condição é chamada de anisocoria. Embora não seja uma doença, é um sinal de que algo não está bem com o seu animal de estimação. Saiba os detalhes aqui.
Anisocoria em cães: causas, diagnóstico e tratamento
Sebastian Ramirez Ocampo

Escrito e verificado por veterinário e zootécnico Sebastian Ramirez Ocampo

Última atualização: 17 agosto, 2023

Em essência, a anisocoria em cães pode ser definida como assimetria no tamanho das pupilas. Ou seja, uma é mais dilatada ou contraída que a outra. Embora não seja uma patologia em si, seu aparecimento está relacionado a alterações dos sistemas ocular, nervoso e auditivo.

Por isso, é importante que você conheça a origem da anisocoria em seu animal de estimação, para poder oferecer o tratamento oportuno. Descubra no conteúdo a seguir, todos os aspectos relacionados a esse incomum distúrbio pupilar.

Dilatação e contração pupilar

A pupila é a estrutura preta encontrada no centro da íris. Nos cães, seu formato é sempre redondo e é semelhante à abertura do diafragma de uma câmera: tem a função de regular a entrada de luz no olho, principalmente na retina. Ela faz isso por meio de dois processos conhecidos como dilatação e contração pupilar.

A primeira ocorre quando há um estímulo luminoso muito fraco. Em resposta, o sistema nervoso simpático (SNS) é responsável por aumentar o tamanho da pupila, a fim de obter o máximo de luz possível. Isso é conhecido como midríase.

Por outro lado, na contração pupilar ocorre o contrário. Quando há muitos estímulos luminosos, o sistema nervoso parassimpático (SNP) é responsável por fechar a pupila, para reduzir a entrada de luz nela. Esse fenômeno é chamado de miose.

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A dilatação da pupila é conhecida como midríase e ocorre como uma resposta à luz. O estado oposto é chamado de miose.

Causas de anisocoria em cães

A professora associada da Escola de Medicina Veterinária da Universidade do Arizona, Ryane Englar, afirma em seu livro Common Clinical Presentations in Dogs and Cats, publicado em 2019, que “a anisocoria pode ser resultado de uma doença ocular primária ou de uma doença neurológica primária”.

Isso significa que a diferença no tamanho das pupilas do seu cão pode ser uma manifestação de um distúrbio que pode ocorrer no sistema visual ou nervoso. Vamos rever as causas mais comuns.

Causas oculares

A anisocoria pode ser uma condição secundária de doenças oculares ou disfunções no nervo óptico, responsável pela transmissão de estímulos visuais da retina para o cérebro.

A assimetria no tamanho das pupilas também pode aparecer, como resultado do contato visual do cão com certas plantas e substâncias. Quando for o caso, nos referimos a causas oftalmológicas ou oculares. Entre elas, estão as seguintes:

  • Medicamentos: a atropina e a tropicamida causam midríase na pupila, enquanto a pilocarpina causa miose.
  • Toxicose por brometo: a administração de brometo de potássio, combinado com fenobarbital, é comum para tratar a epilepsia idiopática. No entanto, seu excesso pode causar uma toxicose, conhecida como bromismo, que por sua vez pode causar anisocoria.
  • Exposição a plantas tóxicas: existem certos compostos ou materiais biológicos que podem causar irritação ocular e anisocoria em cães, quando ocorre contato direto com os olhos. O castanheiro-do-diabo (Data stramonium) é uma planta que causa esse distúrbio ocular em cães.
  • Uveíte anterior: é a inflamação da íris —onde fica a pupila— e parte da camada média da parede do olho, chamada corpo ciliar. Ela afeta o esfíncter pupilar, e é por isso que uma midríase é gerada, por não conseguir contrair a pupila.
  • Hipoplasia da íris: essa é uma condição na qual a íris não se desenvolve de maneira ideal ou é muito fina. Em cães, pode ser congênita ou secundária a inflamação da íris.
  • Atrofia da íris: essa degeneração está associada ao envelhecimento do animal e produz a midríase.
  • Sinéquia posterior: quando a íris adere à cápsula do cristalino, o humor aquoso é bloqueado. A pupila pode ter um formato anormal no olho afetado.
  • Glaucoma: consiste no aumento da pressão intraocular, produto do acúmulo de humor aquoso. A progressão dessa doença causa danos ao nervo óptico, com a consequente perda da visão. Da mesma forma, pode afetar a íris e a pupila, causando midríase no olho afetado.

Causas neurológicas

A assimetria no tamanho das pupilas também pode ser uma manifestação de alguma disfunção nos sistemas simpático ou parassimpático. As causas neurológicas incluem lesões aferentes ou sensitivas e lesões eferentes ou motoras. Em animais de companhia, ocorrem com mais frequência:

  • Lesão na cabeça: uma lesão na cabeça pode causar lesões graves ou inflamação nos nervos que conectam o sistema nervoso ao olho.
  • Neoplasia intracraniana: um tumor ao nível do sistema nervoso central é capaz de causar interferência na comunicação do cérebro com as vias nervosas que inervam a pupila.
  • Toxicidade de organofosforados: são ingredientes presentes em inseticidas e herbicidas. Quando ingeridos, produzem intoxicação que se manifesta com sinais como salivação excessiva, lacrimejamento, micção e, em alguns casos, anisocoria.
  • Denervação simpática ou síndrome de Horner: ocorre quando a via simpática, responsável pela dilatação da pupila, é interrompida. Caracteriza-se por miose da pupila acometida e protrusão ou deslocamento da terceira pálpebra.
  • Denervação parassimpática: um distúrbio na via parassimpática, impede a contração pupilar.
  • Denervação simultânea simpática e parassimpática ou disautonomia: é a presença simultânea de ambas as disfunções. Embora seja mais comum em gatos do que em cães, tende a ocorrer entre caninos de médio a grande porte que vivem em áreas rurais.

Outras causas

A otite média pode causar anisocoria. Os neurônios e nervos que participam da comunicação simpática da pupila com o cérebro passam pelo canal auditivo. Por esse motivo, a inflamação do ouvido médio pode causar interferência nessa via nervosa. Nesse caso, ocorre uma miose ou contração persistente na pupila.

Por outro lado, a picada de alguns carrapatos pode transmitir a erliquiose canina. De acordo com o que foi dito em um artigo publicado na revista Veterinary Sciences, a anisocoria foi observada entre os sinais oculares apresentados por alguns caninos com essa doença infecciosa.

Diagnóstico da causa da anisocoria em cães

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A anisocoria pode ser um sinal de lesão no sistema ocular ou pode ser decorrente de disfunção neurológica.

A localização da lesão é essencial para o diagnóstico e tratamento da condição subjacente à assimetria no tamanho das pupilas. Para isso, o veterinário recorre a um check-up físico, que inclui um exame oftalmológico, para identificar qual das duas pupilas está afetada. Para fazer isso, o profissional testa o canino em condições de luz forte e fraca.

Além disso, outros testes podem ser feitos, incluindo o teste de Schirmer que mede a produção de lágrimas. Além disso, um teste de fluoresceína permite determinar se há corpos estranhos ou uma úlcera na córnea. Consiste em administrar um corante laranja na superfície ocular e iluminar o olho com uma luz azul cobalto.

Por sua vez, a tonometria é um procedimento realizado para medir a pressão intraocular nos olhos do cão. Essa avaliação pode detectar se o animal tem glaucoma ou uveíte.

O especialista também pode realizar testes farmacológicos – com fisostigmina, pilocarpina diluída ou fenilefrina diluída – para distinguir se a disfunção está nas vias simpáticas ou parassimpáticas. Da mesma forma, o profissional pode solicitar exames de sangue e urina, além de uma tomografia computadorizada ou ressonância magnética.

Manejo e considerações finais da anisocoria em cães

Como você pode ver, a anisocoria em cães tem origens diferentes. Desde traumas, tumores, problemas do sistema nervoso até inflamações do ouvido e do próprio olho. Nesses casos, o veterinário se encarregará de identificar o que está causando esse problema em seu animal de estimação, com o objetivo de oferecer o tratamento adequado.

Em geral, as doenças que causam anisocoria têm tratamento médico. Portanto, não há necessidade de entrar em pânico se observarmos esse sintoma em nosso cachorro. Contudo, claro que é seu dever identificá-lo rapidamente, pois uma atenção pontual sempre fará a diferença.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


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