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Membracídeo brasileiro: o inseto mais estranho que você já conheceu

5 minutos
Como se fosse uma espécie alienígena, esse inseto em particular possui uma das características físicas mais perturbadoras já vistas. Saiba tudo sobre ele aqui!
Membracídeo brasileiro: o inseto mais estranho que você já conheceu
Sebastian Ramirez Ocampo

Escrito e verificado por veterinário e zootécnico Sebastian Ramirez Ocampo

Última atualização: 28 setembro, 2023

Os membracídeos são uma família de insetos alados de distribuição cosmopolita que se destacam por suas formas incríveis e cores marcantes. No entanto, das cerca de 3.300 espécies descritas,  Bocydium globulare, o membracídeo brasileiro, é considerada a mais estranha de todas.

Se você quer conhecer as características, os comportamentos, a alimentação e o habitat desse incrível espécime, não perca as informações que partilharemos a seguir.

Características físicas

Esse pequeno inseto, cujo nome científico é Bocydium globulare, mal chega a 7,5 milímetros de comprimento na fase adulta. Tem um corpo alongado em forma de triângulo e uma cabeça achatada, da qual se distinguem seus dois grandes olhos amarelos.

É equipado com 6 membros longos e 2 asas grandes, que — como acontece com todos os neópteros — podem dobrar verticalmente quando em repouso. Embora essas características sejam muito comuns entre os insetos, há uma característica que o destaca dos demais: a exótica protuberância localizada em sua cabeça.

O chifre do membracídeo brasileiro

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O pronoto do membracídeo brasileiro possui uma estrutura única no reino animal. Crédito: Javier Aznar González de Rueda/National Geographic Espanha.

Produto da evolução, o pronoto (parte anterior do tórax) do membracídeo brasileiro adquiriu uma forma bastante peculiar e extravagante. É uma estrutura tridimensional que lembra as pás de um helicóptero.

Consiste em um alongamento vertical e uma série de 5 ramificações que terminam em apêndices circulares cheios de pelos. Quatro delas são curtas e estão dispostas de maneira a formar o vértice de um trapézio. A quinta, longa e pronunciada, estende-se até a porção final de seu abdome.

Apesar de biólogos e entomologistas terem buscado ao longo dos anos o significado desse fenômeno, ainda não há consenso sobre o papel dessa estrutura na biologia do inseto.

Por um lado, como sugere uma publicação na revista Nature, a aparência do pronoto pode ajudar a deter os predadores do membracídeo. Isso porque seu formato pode intimidar pássaros ou anfíbios que queiram comê-lo.

Por outro lado, segundo um trabalho publicado no IV Congresso Colombiano de Zoologia, essa protuberância funcionaria como uma ferramenta de mimetismo, guardando certa semelhança com algumas espécies vegetais.

Dada a falta de evidências para apoiar essas hipóteses, a Sociedade Entomológica Aragonesa, em seu artigo “Un caprichoso estallido evolutivo: Los membrácidos” (“Uma explosão evolutiva caprichosa: os membracídeos”), sugeriu que o pronoto pode ser o produto de uma ocorrência evolutiva.

Isso significa que os genes envolvidos em seu desenvolvimento nada têm a ver com a sobrevivência. Pelo contrário, são uma simples decoração ornamental que não cumpre nenhuma função.

No entanto, dados recentes, publicados na revista Proceedings of The Royal Society B, sugerem que a regulação da síntese de proteínas e os genes — que estão envolvidos no crescimento das asas — são de especial interesse para futuras pesquisas sobre o sentido dessa peculiar inovação evolutiva.

Onde vive esse membracídeo brasileiro?

Esse inseto é nativo do hemisfério sul do continente americano. É encontrado entre as florestas tropicais da Amazônia de países como Brasil, Peru, Suriname e Guiana Francesa.

Tem preferência por florestas úmidas com muita vegetação, principalmente aquelas em que se encontra a espécie Tibouchina urvilleana ou  flor-princesa.

Alimentação

Como seus congêneres, esse inseto é folívoro. Alimenta-se da seiva encontrada nas folhas de diversas plantas, com especial predileção pela flor-princesa.

Possui um aparelho bucal composto por dois tubos pontiagudos. Um para perfurar o vegetal e outro para sugar a seiva do floema. Da mesma forma, possui um tubo anal acessório para retirar o excesso de comida de seu corpo. Esse resíduo é conhecido como “orvalho de mel”.

Comportamento reprodutivo

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Esse inseto tem preferência por se empoleirar nas folhas da flor-princesa. Crédito: Gustavo Masuzzo/iNaturalist.

Ao contrário de outros tipos de insetos, as fêmeas da família Membracidae caracterizam-se por serem mães muito boas. Inicialmente, na época da oviposição, elas secretam uma substância esbranquiçada para fixar os ovos nos caules ou nas folhas das plantas. Uma vez lá, elas os revestem novamente com essa substância para criar um amálgama duro que impede que qualquer predador os coma.

Além disso, segundo artigo divulgado na revista Systematic Biology, as fêmeas do membracídeo brasileiro defendem ativamente seus filhotes. Eles fazem isso empoleirando-se em seus ovos até que eclodam, enquanto batem suas asas e membros para repelir qualquer ameaça que se aproxime.

Comportamento social

Em algumas espécies da família Membracidae ocorre um fenômeno natural muito interessante: relações mutualísticas com outra classe de insetos.

Por exemplo, de acordo com um estudo publicado na revista PLoS One, o espécime Publilia concava permite que as formigas se alimentem de seu “orvalho” em troca de proteção contra predadores. 

Da mesma forma, de acordo com esse mesmo documento, as fêmeas têm preferência por colocar seus ovos perto de colônias de formigas. Essa ação visa garantir uma maior taxa de sobrevivência de seus filhotes, pois eles possuem a defesa dos artrópodes.

As formigas cuidam dos membracídeos em qualquer fase da vida juvenil (ovos, ninfas), sendo mais comum a interação com as ninfas. As taxas reduzidas de predação de ninfas são resultado da proteção das formigas e não dos cuidados parentais.”

Castillo Montoya, Maria Fernanda (2016)

Embora o membracídeo brasileiro se caracterize por ser um animal solitário, sugere-se que ele poderia adotar esse comportamento particular em seu habitat natural.

Além disso, esses insetos se comunicam por meio de vibrações sutis, que são transmitidas pelas plantas. Graças a esse mecanismo de diálogo, os troncos das árvores podem alertar sobre uma ameaça, atrair parceiros ou indicar um bom local para se alimentar.

Um animal fascinante e misterioso

A primeira vez que o mundo conheceu o membracídeo brasileiro foi durante uma exposição do escultor alemão Alfred Keller. Os espectadores atônitos acreditaram estar diante de uma peça criada pela imaginação do artista. O aparecimento desse curioso animal não é para menos!

Embora muitas características relacionadas à sua biologia sejam conhecidas, a razão pela qual seu pronoto adquiriu uma forma tão particular ainda é desconhecida pela ciência. Estudos futuros serão necessários para entender com clareza a dinâmica que intervém na natureza de animais tão incríveis.


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