camaleão de Voeltzkow: visto em Madagascar após um século
Escrito e verificado por o biólogo Cesar Paul Gonzalez Gonzalez
Declarar uma espécie extinta não é um processo simples, pois vários estudos são necessários para apoiar essa afirmação. Consequentemente, existem muitos animais “perdidos” que não se sabe bem se desapareceram completamente ou não. Um exemplo disso é o camaleão de Voeltzkow, um belo réptil que estava desaparecido há mais de um século, até agora.
O nome científico dessa espécie é Furcifer voeltzkowi. Ela pertence à família Chamaeleonida, é endêmica de Madagascar e foi descrita pela primeira vez em 1893. No entanto, em 1905 foi vista pela última vez e desapareceu por mais de um século. Leia e conheça a história do camaleão de Voeltzkow.
Uma espécie muito desconhecida
Durante 1893, o zoólogo alemão Oskar Boettger fez a descrição de vários répteis da coleção do Museu de História Natural de Senckenberg. Entre eles estava um belo camaleão verde com um chifre semelhante ao do camaleão de Madagascar (Furcifer labordi). Essa nova espécie foi batizada de camaleão de Voeltzkow em homenagem ao seu colecionador, Alfred Voeltzkow.
Nesse ponto, a única coisa que se sabia sobre esse novo organismo era sua aparência e que era endêmico do oeste de Madagascar. No entanto, entre 1903 e 1905, o mesmo naturalista, Alfred Voeltzkow, empreendeu uma expedição à África Oriental e encontrou o camaleão novamente, o que lhe deu a oportunidade de descrevê-lo melhor.
Apesar disso, essa seria a última vez que o mundo conheceria esse organismo em décadas.
Em busca das espécies perdidas
Pouco mais de um século depois, a organização sem fins lucrativos Global Wildlife Conservation elaborou uma lista das 25 espécies desaparecidas mais procuradas em 2017. O objetivo era mobilizar especialistas para encontrar esses organismos ou confirmar sua extinção. Espécimes como a salamandra Bolitoglossa jacksoni, o cervo-rato do Vietnã e a abelha gigante Wallace foram os primeiros a serem redescobertos.
O camaleão de Voeltzkow ocupava o sexto lugar dessa lista, por isso novas expedições foram preparadas para sair em busca dessa e de outras espécies de répteis. Com isso, os especialistas esperavam desvendar todas as incógnitas que ainda precisavam ser descobertas sobre esses animais.
Expedição ao noroeste de Madagascar
Felizmente, todos os preparativos para a incursão foram finalizados em março de 2018, dando início à viagem de duas semanas que levou à redescoberta dessa espécie. Essa expedição foi liderada por Frank Glaw, chefe do departamento de vertebrados da Coleção Zoológica do Estado de Munique.
Apesar de o grupo ser formado por especialistas da área, os primeiros dias da operação foram infrutíferos. Porém, quase no final da viagem, os aventureiros se encontraram novamente com o belo camaleão de Voeltzkow. Isso não só marcaria o retorno de uma espécie que se acreditava extinta, mas também nos permitiria aprender mais sobre a biologia do animal.
Em abril de 2018, esse incrível camaleão foi redescoberto após 113 anos sem ser visto. Além disso, fêmeas dessa espécie foram observadas pela primeira vez, exibindo belas características que eram desconhecidas por falta de dados.
Fêmeas nunca vistas antes
O camaleão de Voeltzkow foi descrito pela primeira vez mediante a observação de espécimes masculinos. Por esse motivo, considerou-se que o sexo feminino não apresentava diferenças significativas em relação a eles. No entanto, quando a espécie foi redescoberta, os pesquisadores perceberam que estavam errados.
A fêmea dessa espécie é capaz de ostentar uma combinação de cores vivas com tons de roxo, laranja, vermelho, verde, branco e preto. Esses padrões mudam de acordo com o humor do espécime, mas quando estressado é capaz de alterar drasticamente sua coloração.
Esses tons vistosos só são observados em fêmeas que já copularam e têm ovos dentro. Por isso, o mecanismo parece servir de indicador visual para os machos, graças ao qual eles identificam fêmeas que ainda não se acasalaram.
Por que ainda não tinha sido visto novamente?
Essa espécie perdida está relacionada ao camaleão de Madagascar, que é muito famoso por ter a expectativa de vida mais curta que existe entre os camaleões (4 ou 5 meses), o que implica que existe uma grande probabilidade de esse espécime e o camaleão de Voeltzkow partilharem o mesmo ciclo de vida.
Em outras palavras, o camaleão de Voeltzkow provavelmente vive apenas alguns meses antes de desaparecer de seu habitat. Portanto, é impossível encontrar esse animal em certas épocas do ano. No entanto, e graças à expedição destinada a reencontrá-lo, foi possível identificar que os meses mais propícios para localizar o réptil são março e abril.
A história desse camaleão é um bom sinal para os conservacionistas, pois permite compreender melhor os benefícios da natureza. Porém, outras espécies que estão na mesma situação não têm essa sorte. Apesar das más notícias, e graças ao trabalho realizado por várias organizações, os animais “perdidos” ainda têm uma chance de se salvar da extinção.
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