Ciclo de muda dos crustáceos
Escrito e verificado por a bióloga Raquel Rubio Sotos
Os crustáceos pertencem ao filo Arthropoda, englobado no reino animal. Atualmente, existem cerca de 26 000 espécies reconhecidas, a maioria de vida aquática. Seu nome vem de uma de suas características mais representativas: o exoesqueleto externo, estrutura que determina o ciclo de muda nos crustáceos.
Morfologicamente, seu corpo se divide em três partes: a cabeça que apresenta um par de antenas, um par de mandíbulas e um par de mandíbulas; o tórax, formado por vários segmentos com pelo menos dois apêndices articulados ou pernas destinadas à locomoção, respiração, alimentação e defesa; e o abdômen, que contém os apêndices usados para natação.
A muda dos crustáceos ainda é muito estudada hoje em dia, principalmente em espécies comerciais, a fim de aumentar a produtividade e os benefícios. É um ciclo complexo, com múltiplas variáveis que geralmente não são conhecidas em profundidade. Se você quiser saber tudo sobre o ciclo de muda nos crustáceos, continue lendo.
Exoesqueleto dos crustáceos
Essa família de artrópodes é caracterizada por possuir um exoesqueleto rígido, formado principalmente por quitina e carbonato de cálcio.
Essa armadura serve aos invertebrados como proteção contra predadores e parasitas, mas tem uma desvantagem. A casca não aumenta de tamanho com o animal, portanto, quando os crustáceos precisam crescer, eles iniciam o ciclo de muda, também conhecido como ecdise.
Crescimento e desenvolvimento dos crustáceos
O crescimento se manifesta como um aumento no comprimento, volume ou peso dos indivíduos. Em organismos sem exoesqueleto, esse aumento é contínuo, embora normalmente cesse quando atingem a idade adulta. Nos crustáceos, que têm um tegumento inextensível, esse crescimento é aparentemente descontínuo.
Como regra geral, o ciclo de muda dos crustáceos ocorre com mais frequência em indivíduos jovens, ao passo que em adultos diminui ou para. A coordenação desse complexo processo, segundo estudos, é realizada por meio de um processo hormonal.
Existem pelo menos dois hormônios envolvidos no ciclo de muda dos crustáceos: o hormônio da muda, também conhecido como ecdisona, e o hormônio inibidor da muda, que chamaremos de MIH (Moulting Inhibitor Hormone).
Esses dois hormônios são sintetizados em dois órgãos, chamados X e Y. O órgão X está presente no pedúnculo ocular e é responsável por controlar o hormônio MIH. O órgão Y está localizado em um segmento das maxilas ou antenas e sua tarefa é desencadear o ciclo de muda dos crustáceos.
Controle hormonal da muda
Para que o processo hormonal de muda comece, um estímulo interno ou externo é necessário, como a perda de um apêndice ou o aumento da pressão com a casca. Essa mudança proporcionará o aumento necessário nos níveis hormonais para que a muda comece. O modelo atualmente aceito para o controle hormonal da ecdise é o seguinte:
- O hormônio da muda (ecdisona) é geralmente reprimido pelo hormônio MIH.
- A atividade do hormônio inibidor da muda promove a formação de tecidos. Quando o nível desse hormônio diminui, o órgão Y começa a aumentar a concentração do hormônio precursor da muda.
- A ecdisona, ao chegar aos tecidos pela hemolinfa, é transformada em sua forma ativa, também conhecida como ecdisterona.
- Quando o órgão X reduz a síntese e a secreção de MIH, o hormônio da muda realiza uma série de eventos coordenados que causam a ecdise.
A concentração do hormônio da muda varia drasticamente nas diferentes fases do ciclo de muda dos crustáceos, como podemos ver a seguir. Continue lendo.
O ciclo de muda dos crustáceos
A vida dos crustáceos, incluindo a alimentação, a reprodução e a mobilização de reservas, é organizada e ligada ao ciclo de muda. A ecdise geralmente ocorre de forma cíclica e não serve apenas para aumentar de tamanho. Em algumas espécies, está relacionada à reprodução, uma vez que aparecem estruturas especiais para cópula e ocorrem mudanças de cor do exoesqueleto.
Podemos encontrar quatro fases no ciclo de muda dos crustáceos e cinco estágios no total, que estão resumidos nas linhas a seguir:
- Pós-muda: pode ser separada em duas etapas:
- A: O animal acaba de sair da exúvia e continua secretando a nova cutícula.
- B: As camadas da nova cutícula começam a endurecer.
Nessa fase, a concentração do hormônio da muda é mínima. Outra das características que apresenta é a grande absorção de água pelos tecidos através do intestino e das brânquias, para aumentar o tamanho corporal do animal.
Quando a cutícula é endurecida pelo carbonato de cálcio absorvido, principalmente do exoesqueleto anterior, a água é eliminada e a lacuna restante é substituída por novos tecidos. Podemos distinguir as seguintes etapas neste ponto:
- Intermuda: o exoesqueleto engrossa e endurece. Há crescimento de tecido e acúmulo de reservas. Nessa fase, a ecdisona está em níveis mínimos.
- Pré-muda: os minerais e materiais orgânicos do exoesqueleto são reabsorvidos e o novo exoesqueleto se deposita parcialmente na epiderme, sob o antigo. O nível do hormônio da muda está no máximo.
- Ecdise: o animal se desprende do antigo exoesqueleto. É a fase mais curta. O hormônio da muda diminui um pouco antes de forma abrupta.
No período de tempo que começa na pré-muda e até que o novo exoesqueleto esteja completamente endurecido, os crustáceos não se alimentam. Isso é conhecido como jejum fisiológico. Fernando Vega-Villasante e colaboradores sugerem que isso pode se dever ao fato de a boca, o estômago e o esôfago deixarem de ser funcionais.
Nesse caso, essas estruturas apresentam camadas quitinosas que são trocadas junto com o exoesqueleto, o que impede que os crustáceos se alimentem nesse período de alteração. Isso ocorre de forma semelhante com as brânquias, pois também perdem eficiência durante a muda.
Quando ocorre o ciclo de muda dos crustáceos, eles alteram seu comportamento, por se tratar de um período muito vulnerável. Eles se escondem em fendas e se tornam esquivos, para evitar serem pegos sem sua proteção externa.
Experimentos sobre a muda dos crustáceos
Vários experimentos e estudos foram realizados para observar quais fatores podem afetar o ciclo de muda dos crustáceos. Muitos deles se concentraram no aumento da produção pesqueira, enquanto outros se focaram nas mudanças causadas pelo ambiente.
Um experimento já citado que ocorreu acidentalmente comprovou que os animais que foram submetidos à ablação peduncular mudavam com mais frequência do que os espécimes intactos. Essa técnica é usada atualmente com o objetivo de modificar a taxa de muda e o crescimento.
Também foram realizados experimentos sobre como as faixas de temperatura afetam a ecdise. Por exemplo, uma espécie de camarão (Artemesia longinaris) demonstrou ter períodos de pré-muda e intermuda mais curtos em climas quentes. Em temperaturas mais baixas, a fase da intermuda fica mais longa.
A luz também pode afetar o crescimento dos crustáceos. Na espécie A. longinaris observou-se que fases de luz de 10 horas ou mais favorecem a ecdise, enquanto períodos de escuridão maiores que 14 horas a inibem.
Uma das causas que mais afetam a muda de crustáceos e sua mortalidade é a poluição. Diante desse estímulo negativo, a resposta mais comum desses artrópodes é a inibição da ecdise e o aumento da duração do desenvolvimento. Além disso, em larvas de espécies como o caranguejo L. antarcticus, em baixas concentrações de poluentes ocorre uma alta mortalidade.
O ciclo de muda dos crustáceos é fascinante e é de grande importância conhecer o seu processo e suas possíveis alterações para conservar a diversidade, visto que é um grupo principal para a alimentação, tanto humana quanto animal. Infelizmente, muitos crustáceos estão começando a sofrer graves mudanças populacionais devido a múltiplos fatores.
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