A cigana, um animal incrível
Escrito e verificado por veterinário e zootécnico Sebastian Ramirez Ocampo
A cigana ou Opisthocomus hoazin é uma ave muito especial, pois é a única espécie viva classificada dentro da família taxonômica Opisthocomidae. Numerosos estudos tentaram relacioná-la com outro grupo de aves, como galiformes, gruiformes ou cucos. No entanto, devido às suas características anatômicas e comportamentais únicas, foi decidido dar à cigana sua própria família.
Habitando as áreas pantanosas tropicais da Amazônia e do Orinoco na América do Sul, a cigana, como os animais ruminantes, fermenta seu alimento antes de que chegue ao estômago. Continue neste espaço e descubra em mais detalhes as características deste peculiar exemplar.
Características físicas da cigana
Na idade adulta, as ciganas machos atingem um tamanho médio de 60 a 80 centímetros e as fêmeas, entre 50 a 60 centímetros. Tem um corpo esguio e largo, com pescoço longo e cabeça pequena. Seu rosto, desprovido de penas, é de um azul intenso, enquanto seus olhos se destacam por terem íris vermelhas. A sua cabeça é adornada por uma longa crista serrilhada em forma de leque em tons de castanho. Quanto às extremidades, esta ave é anisodáctila, ou seja, tem três dedos para a frente e um para trás.
Por outro lado, embora não seja muito boa em voar, a cigana se destaca por subir em árvores com facilidade e por ser uma ótima nadadora. Por fim, seu canto é composto de vários sons estridentes e barulhentos que lembram grunhidos.
A ave ruminante
Ao contrário de outros tipos de aves que têm uma dieta baseada em vários tipos de alimentos, a cigana caracteriza-se por ser um animal estritamente herbívoro. Seu sistema digestivo, único entre as aves, evoluiu de tal forma que ela consegue decompor o material vegetal que ingere na natureza.
Como esse animal em particular possui bactérias anaeróbicas localizadas em seu papo, ele pode transformar facilmente o polissacarídeo de celulose em glicose. Ou seja, a cigana usa o método da fermentação bacteriana, assim como alguns ruminantes, como as vacas, para se alimentar.
Por outro lado, um fato bastante curioso é que esta ave só consome dois tipos de plantas no seu habitat natural, o caladium e o filodendro. Além disso, devido aos seus hábitos alimentares, a cigana tem um odor semelhante ao esterco, por isso é conhecida em alguns lugares como “caldeira fedorenta”.
Seus filhotes são uma lembrança dos dinossauros
Listada como um fóssil vivo, tudo o que está envolvido no processo reprodutivo da cigana é bastante peculiar. Por um lado, sendo um animal gregário, constrói os seus ninhos em pequenas colônias, onde existem vários ajudantes que colaboram com os progenitores no processo de incubação, alimentação e defesa das crias.
Por outro lado, seus ninhos construídos a partir de pequenos galhos estão localizados em árvores sobre a água. Nestes, costumam colocar 2 a 3 ovos por ninhada e, assim que eclodem, os filhotes são alimentados com uma pasta vegetal regurgitada pelos pais.
Da mesma forma, esses filhotes mantêm uma característica muito marcante que possuía um grupo de aves pré-históricas conhecidas como Archaeopteryx. Tal particularidade é a presença de duas garras nas pontas de cada asa que os ajudam a agarrar-se aos ramos e a escalá-los. No entanto, estas desaparecem durante o crescimento em direção à fase adulta.
A cigana veio da África
Conforme descrito acima, numerosos estudos tentaram classificar a cigana em alguma ordem ou grupo existente de aves. No entanto, ao analisar suas características físicas, genéticas e comportamentais, concluiu-se que é uma espécie única dentro do reino animal.
Até recentemente, a cigana era o único membro da família Opisthocomidae. No entanto, graças a uma descoberta recente publicada na revista Die Naturwissenschaften, foi possível determinar que esta ave tem um parente já extinto. Trata-se da espécie Hoazinavis lacustris, ave pré-histórica que habitou a Terra há mais de 20 milhões de anos. Sua descoberta, por paleontólogos brasileiros, franceses e alemães, ocorreu no estado de São Paulo, Brasil.
Da mesma forma, este documento expõe uma teoria bastante sólida sobre a origem da cigana. Segundo esta pesquisa, esta ave não é nativa da América do Sul, mas migrou diretamente do continente africano há milhões de anos. Segundo este grupo de cientistas, a cigana atravessava este percurso a bordo de pequenas jangadas constituídas por restos vegetais e impulsionadas pelos ventos e marés do Atlântico.
Sem dúvida, esta espécie extravagante e particular poderia ser classificada como a ave mais estranha do planeta. No entanto, lembremos que ainda existem animais desconhecidos com características iguais ou mais fascinantes que as da cigana.
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