O que os criadores querem dizer quando falam em tristeza bovina?

Falar em tristeza bovina induz muitas pessoas ao erro, pois é comum pensar que isso se trata de uma sensação ou sentimento do animal. Na verdade, é algo muito mais complexo.
O que os criadores querem dizer quando falam em tristeza bovina?
Érica Terrón González

Escrito e verificado por a veterinária Érica Terrón González.

Última atualização: 21 dezembro, 2022

“Tristeza bovina” é a forma coloquial de se referir a um grupo de doenças que afetam o gado regularmente. Trata-se de uma síndrome causada por dois microrganismos muito diferentes: um parasita e uma bactéria. Ambos são transmitidos através da picada de insetos e, portanto, são doenças vetoriais.

Os sintomas causam um estado de apatia e indiferença permanente no animal. As vacas perdem o interesse por suas companheiras e pelo ambiente ao seu redor por causa do seu mal-estar geral. É aí que reside a dificuldade da doença: o ponto-chave é perceber que essa chamada tristeza se trata de um estado patológico.

Tristeza bovina, uma doença que não pode continuar a passar despercebida

O termo se refere a duas doenças diferentes, embora elas compartilhem várias características. Mais especificamente, os criadores que falam dessa síndrome estão descrevendo a babesiose e a anaplasmose bovina, cujos agentes causadores são os seguintes:

tristeza bovina

A crescente importância das doenças vetoriais

A incidência de  doenças transmitidas por vetores não para de aumentartanto em animais quanto em humanos. Este é o caso da maioria das patologias sazonais, incluindo as que estamos tratando nestas linhas.

A “tristeza bovina” é transmitida através da picada de um artrópode conhecido como carrapato -de- boi (Rhipicephalus microplus). Também foram descritos casos nos quais outros insetos hematófagos, tais como mutucas ou mosquitos, participam da transmissão.

Quem costuma sofrer com essa “tristeza bovina”?

Na verdade, todos os bovinos são atingidos por essa doença, mas a gravidade dos sintomas depende de fatores como a idade do animal. Os bezerros jovens, com menos de 12 meses de idade, geralmente sofrem infecções leves com baixa mortalidade.

Por outro lado, animais com mais de 2 anos podem apresentar mortalidades variáveis ​​entre 20% e 50%. Dessa forma, não será uma doença tão grave entre bezerros, mas sim entre bovinos adultos.

Os sintomas que dão nome a essa doença tão particular

As vacas que sofrem de infecções por Babesia ou Anaplasma não apresentam sintomas muito específicos. Em vez disso, há sintomas típicos de qualquer doença debilitante, tais como febre, perda de apetite, depressão ou fraqueza.

Nas vacas em lactação, ocorre uma rápida queda na produção de leite, o que mostra ao criador que algo está errado. No entanto, em bovinos de corte, a doença costuma não ser detectada até que o animal afetado fique muito fraco.

O motivo pelo qual esses sintomas aparecem é a destruição das hemácias, quando invadidas por qualquer um dos microrganismos mencionados. Isso causa uma anemia hemolítica (por causa da ruptura dessas células), o que gera a constante deterioração do estado de saúde do animal.

É por isso que as vacas parecem tristes: as orelhas ficam caídas, o rosto fica deprimido e elas vão se afastando do grupo.

Como essa doença é diagnosticada?

Uma vez que não há sintomas específicos, é necessário um diagnóstico diferencial com relação a muitas outras patologias bovinas. Isso para não confundi-la, por exemplo, com a leptospirose, o botulismo ou o carbúnculo bacteriano. Ainda assim, pode haver alguma suspeita quando vetores são observados no rebanho.

A única evidência clínica para confirmar o diagnóstico de “tristeza” é a observação direta dos microrganismos responsáveis ​​pela doença. Através de determinados exames é possível observar a Babesia spp. ou o Anaplasma spp. dentro dos glóbulos vermelhos do animal doente.

A etapa final será a realização dos testes sorológicos correspondentes para detectar os antígenos ou o material genético do microrganismo patogênico. De fato, dessa forma será possível diferenciar entre um agente e outro sem a possibilidade de erro, para proceder ao tratamento.

A “tristeza bovina” tem tratamento?

Assim como a maioria das doenças infecciosas, se detectada a tempo, os sintomas podem ser controlados. Nesse sentido, primeiramente é preciso ter certeza sobre qual é o organismo que está causando os sintomas no animal:

  • Para o tratamento específico da babesiose, são utilizados medicamentos antiparasitários, específicos contra esses protozoários.
  • Para o tratamento da anaplasmose, são usadas as tetraciclinas, que são drogas antimicrobianas.

O problema com ambas as patologias é que, se o diagnóstico não chegar a tempo, os danos geralmente são irreversíveis. Portanto, a melhor recomendação é, sem dúvida, o uso de vacinas.

A vacinação de bovinos contra a babesiose e a anaplasmose

Geralmente, são utilizadas vacinas contendo glóbulos vermelhos de vacas infectadas com um patógeno cuja virulência foi previamente reduzida. Elas são aplicadas anualmente em bovinos de 4 a 10 meses de idade procedentes de estabelecimentos onde costuma haver casos clínicos.

Também é conveniente vacinar os bovinos nascidos em áreas livres de carrapatos e que serão transferidos para locais onde estes possam existir. No entanto, as vacinas são contraindicadas para animais adultos, pois a virulência pode ser revertida. Assim, a vacina só é usada em casos muito específicos e com condições muito bem controladas.

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A “tristeza bovina” é um verdadeiro desafio para a pecuária sul-americana

Os países da região tropical e subtropical da América Latina falam dessa doença como um dos seus maiores obstáculos para a criação do gado. As inúmeras perdas na produção de leite e carne, os altos custos do tratamento ou da vacinação e a alta mortalidade causada pela tristeza bovina não dão trégua aos criadores.

Como resultado das mudanças climáticas, essa e outras doenças vetoriais não param de avançar em direção às regiões temperadas.


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