Cyclocosmia: essas aranhas são perigosas?

As aranhas do gênero Cyclocosmia foram rotuladas como aracnídeos "perigosos e mortais". No entanto, isso não é inteiramente verdade. Saiba mais sobre as suas características e a sua biologia neste espaço.

Escrito e verificado por o biólogo Cesar Paul Gonzalez Gonzalez.

Última atualização: 08 agosto, 2023

As aranhas do gênero Cyclocosmia são invertebrados peculiares que possuem um símbolo icônico em seu “abdômen”, semelhante ao de uma moeda tradicional. Na verdade, esse aspecto é um mecanismo defensivo que lhe permite lidar com vários agressores em seu meio.

Ao contrário da crença popular, não existe apenas uma espécie de aranha do gênero Cyclocosmia, e sim várias agrupadas no mesmo gênero taxonômico. Claro, todas eles têm o símbolo da “moeda” no abdômen, então as diferenças específicas entre elas não são tão óbvias.

Embora as aranhas do gênero Cyclocosmia sejam venenosas, suas toxinas não são uma ameaça para as pessoas. Quer saber mais sobre esses curiosos aracnídeos? Continue a leitura!

Taxonomia das aranhas do gênero Cyclocosmia

As aranhas do gênero Cyclocosmia estão agrupadas dentro da família Halonoproctidae. Segundo o site oficial do World Spider Catalog, existem 11 espécies taxonômicas válidas neste grupo. No entanto, as aranhas do gênero Cyclocosmia são caracterizadas por serem muito esquivas e difíceis de ver em seu habitat. Portanto, pode haver mais organismos não identificados.

Por muito tempo, as aranhas do gênero Cyclocosmia fizeram parte da família Ctenizidae, que inclui algumas das populares aranhas conhecidas como trapdoor spiders. Apesar de terem um comportamento semelhante, diferentes especialistas mencionaram que havia inconsistências em suas relações filogenéticas.

Em 2018, um estudo publicado na revista Molecular Phylogenetics and Evolution estabeleceu a classificação taxonômica atual com base em análises moleculares. Graças a isso, as as aranhas do gênero Cyclocosmia foram identificadas como tendo uma relação mais próxima com os gêneros Bothriocyrtum, Conothele, Hebestatis, Latouchia e Ummidia (família Halonoproctidae).

Habitat e distribuição das aranhas do gênero Cyclocosmia

O gênero Cyclocosmia tem uma distribuição relativamente ampla. De acordo com um estudo da revista Zookeys, pode ser encontrado – pelo menos uma espécie – nos seguintes países:

• México.
• Estados Unidos.
• China.
• Vietnã.
• Guatemala.
• Tailândia.

Claro, sua presença parece ser muito limitada por seus hábitos, pois são aracnídeos sedentários que não costumam se movimentar muito. Nesse sentido, o habitat dessas aranhas é composto por solos argilosos e úmidos, com declives acentuados e grande abundância de serapilheira, conforme citado em artigo publicado no The Raffles Bulletin of Zoology.

Esses ambientes tornam mais fácil para elas cavar suas tocas e se esconder nelas, tornando-as mais indescritíveis aos olhos dos humanos.

Características físicas do gênero Cyclocosmia

Como outras aranhas, os membros do gênero Cyclocosmia têm o corpo dividido em duas regiões ovais bem diferenciadas, que são as seguintes:

• Prossoma: é a parte frontal da aranha e nesta estão os olhos, a boca e as extremidades.
• Opistossoma: é a seção que se parece com uma “moeda” e contém os órgãos sexuais e as glândulas da seda.

As aranha do gênero Cyclocosmia têm em média entre 17 e 30 milímetros de comprimento. Além disso, de acordo com um estudo publicado no Biodiversity Data Journal, seu corpo parece um tanto robusto e pode apresentar “pelos” (cogumelos) brancos em sua barriga.

As colorações das aranhas do gênero Cyclocosmia são enigmáticas, exibindo tons de marrom e amarelo opacos que combinam bem com a cor do solo. Isso é essencial para sua sobrevivência, pois permite que elas se camuflem dentro das tocas.

Extremidades

A olho nu, as aranhas do gênero Cyclocosmia parecem ter 10 patas. No entanto, essa é apenas uma interpretação errônea de seus membros, já que as duas primeiras – quando contadas a partir de sua boca – são na verdade “peças bucais acessórias”. Estas não são usados para a locomoção, sendo sua função mais próxima das “mãos” dos humanos.

O nome, número e características dos membros do gênero Cyclocosmia podem ser classificados da seguinte forma:

• Quelíceras: um par (2 no total). Fazem parte da boca e sua aparência lembra dois dentes proeminentes. Sua função é pegar, “esmagar” e injetar o veneno na presa.
• Pedipalpos: um par (2 no total). Estão localizados em cada lado da boca e sua aparência é semelhante à das outras patas, com a diferença de que são um pouco menores. Sua função é manipular e registrar os diversos elementos de seu ambiente (como se fossem suas mãos).
• Patas locomotoras: 4 pares (8 no total). São os membros mais longos e são usados para o movimento.

Opistossoma em forma de “moeda” ou disco

A característica mais distintiva do gênero Cyclocosmia é a presença do disco em forma de “moeda”. Este está localizado na parte posterior do opistossoma, é achatado e possui vários raios ao seu redor. Segundo artigo publicado na revista Zootaxa, essa área é esclerotizada (é dura) e resistente, pois cumpre um papel defensivo quando a aranha se refugia em sua toca.

O veneno das aranhas do gênero Cyclocosmia é perigoso?

Da mesma forma que ocorre com outros aracnídeos, essas aranhas são venenosas. No entanto, as toxinas que produz não são consideradas um risco potencial para os seres humanos, porque seu efeito é pequeno e dificilmente perceptível.

Embora não existam estudos sobre a composição do veneno dessas aranhas, observou-se que seus parentes mais próximos são inofensivos para os humanos. De fato, de acordo com um estudo publicado na revista Toxicon, as toxinas da espécie Hebestatis theveniti —relacionada com o gênero Cyclocosmia — só conseguem paralisar temporariamente suas presas (pequenos artrópodes).

Há alguns anos, notícias falsas começaram a ser compartilhadas nas redes sociais sobre o grave perigo de encontrar uma aranha do gênero Cyclocosmia.

Claro, isso foi apenas um boato sensacionalista que vários especialistas negaram posteriormente. Além disso, até a Universidade Autônoma de Chihuahua publicou uma nota para esclarecer o assunto e prevenir a psicose na população.

Essas aranhas não tendem a ser excessivamente agressivas, então elas só morderão um ser humano se sentirem um risco iminente.

Da mesma forma, devido aos seus hábitos e distribuição, é raro ter contato com elas dentro de casa. Por essa razão, o gênero Cyclocosmia não é considerado perigoso para as pessoas.

Comportamento das aranhas do gênero Cyclocosmia

Conforme especificado nas linhas anteriores, as aranhas do gênero Cyclocosmia são caracterizadas por sua capacidade de cavar no solo tocas ou túneis que servem de abrigo. Além disso, também constroem uma “porta” com o sedimento e sua teia, o que lhes permite bloquear a entrada e impedir intrusos indesejados.

Como se não bastasse, essas espécies têm um segundo nível de segurança, pois usam seu opistossoma como um falso pano de fundo. Ou seja, bloqueiam a entrada e ficam dispostas de forma que seu “disco” fique na direção da entrada. Portanto, se um predador conseguir passar pela sua porta, é improvável que detecte a aranha que estará camuflada com sua aparência de “moeda”.

Dieta das aranhas do gênero Cyclocosmia

As aranhas do gênero Cyclocosmia são carnívoras, alimentando-se de vários tipos de insetos ou pequenos artrópodes. Em relação à sua estratégia de caça, podem usar dois:

• Caça ativa: procurar e atacar a presa.
• Caça passiva: esperar em sua toca a aproximação da presa.

Embora existam algumas menções sobre as estratégias que essas aranhas usam para caçar suas presas, a realidade é que esse comportamento ainda não foi totalmente documentado. Portanto, é provável que ainda esconda alguns segredos sobre sua vida como predador.

Segredos dos aracnídeos a revelar

Como você pode ver, as aranhas do gênero Cyclocosmia são aracnídeos pouco perigosos, que preservam várias peculiaridades sobre sua biologia. Embora nem tudo se saiba sobre elas, seu complexo comportamento e aparência as tornaram famosas em várias partes do mundo. No entanto, ainda é necessário conhecê-las mais a fundo. Então, resta esperar que os especialistas revelem seus segredos.