Existem aves sem penas?
Escrito e verificado por a bióloga Raquel Rubio Sotos
As penas das aves são seu grande diferencial, pois são exclusivas desses animais. Trata-se de uma estrutura epidérmica que serve para manter a temperatura, para realizar cortejo e proteger contra predadores, além de permitir o transporte tanto no ar quanto na água.
Dependendo da área da ave e se ela voa ou não, encontramos diferentes tipos de penas. Por um lado, temos as penas de cobertura, como a penugem, que têm função termorreguladora. Para o voo, utilizam as penas primárias e secundárias das asas, e algumas da cauda.
Sabendo da importância das penas nas aves, existem aves sem penas? Para saber a resposta, continue lendo.
Existem aves sem plumagem?
Como já vimos, as penas são a característica distintiva e única das aves. São estruturas compostas por queratina e que podemos dividir em várias partes. Por um lado, temos a raque, que é a parte rígida das penas e quando está em contato com a pele ela se alarga e é chamada de canhão. A outra parte das penas é o vexilo, que são barbas que crescem nas laterais da raque.
As penas das aves formam uma rede intrincada que lhes permite suportar uma carga elevada, o que lhes permite voar. Para manter a plumagem perfeita, as aves realizam uma limpeza meticulosa. Na maioria das aves, com exceção dos pinguins, as penas crescem em uma área do corpo chamada pteriles, cercada por sua vez por áreas nuas chamadas apteria.
Quanto à existência de aves sem penas, na idade adulta e em condições normais, todas as aves têm penas. No entanto, existem aves que possuem certas partes do corpo desprovidas de penas, como a cabeça, em algumas áreas que utilizam para cortejo e em manchas de incubação localizadas na região ventral.
Abutres (ordem Cathartiformes)
Como regra geral, a maioria dos abutres são necrófagos e geralmente são aves sem penas na área da cabeça e do pescoço. Isso está relacionado ao seu tipo de alimentação.
Para entrar nas carcaças, os abutres enfiam a cabeça em vários buracos, desde aqueles que já estão abertos por outros predadores, até os do próprio animal, como o ânus e o reto. Isso faz com que a cabeça e o pescoço se encham de sangue, matéria fecal e bactérias.
A falta de penas nessas regiões lhes permite manter mais facilmente a higiene, evitando assim doenças e também melhorando a mobilidade ao entrar no cadáver.
Perus (família Phasianida)
Os perus também são aves sem penas na área da cabeça e do pescoço. O fator cortejo pode ser uma das principais causas desse fenômeno. Embora os perus fêmeas e machos não tenham plumagem nessa área, o macho possui múltiplas carúnculas.
As carúnculas são protuberâncias no pescoço e na cabeça: quanto maiores e mais coloridas forem, mais atraentes serão para as fêmeas. Além disso, acredita-se também que seja uma adaptação das aves para evitar o calor do ambiente.
Um estudo da revista Plos Biology descobriu que o metabolismo especial da vitamina A que essas aves possuem gera uma proteína que impede o crescimento de penas nas áreas da cabeça e do pescoço.
Kiwi (Apteryx)
O kiwi pertence ao gênero Apteryx, que é o mesmo que avestruz e ema. São aves emblemáticas da Nova Zelândia. Elas não voam e suas asas são praticamente inexistentes. À primeira vista, parece uma ave sem penas, pois o que eles têm é uma penugem que pode ser confundida com cabelos duros. Suas penas não se desenvolveram completamente devido a adaptações ao clima.
Fragata (Fregata magnificens)
As fragatas são aves marinhas. Nesse caso, a espécie Fregata magnificens se caracteriza por seu cortejo. Essas aves apresentam uma área desprovida de penas na área do bucho. Em vez disso, apresentam uma bolsa gular vermelha brilhante, que infla durante os períodos de reprodução para atrair as fêmeas.
Pycnonotus hualon
A espécie Pycnonotus hualon é uma ave endêmica do Laos que se caracteriza por não ter penas na cara. Foi descoberta em 2009 e há poucas informações sobre ela no momento. Seu canto se destaca.
Aves sem penas por vários motivos
Se você encontrar aves sem penas, quando normalmente deveriam tê-las, isso pode ser consequência de outros fatores, tanto etológicos quanto médicos. Aqui estão vários exemplos.
Germes patogênicos
Existem vários patógenos que podem fazer com que as aves fiquem sem penas. Uma das doenças mais conhecidas é a causada pelo Polyomavirus, que afeta principalmente periquitos. Um dos sintomas que gera é o aparecimento de petéquias vermelhas junto com a queda da plumagem. Além disso, está associada à perda de apetite e depressão, e geralmente é fatal.
Outra doença que causa perda de penas é a doença do bico e das penas -PFBD. Normalmente, afeta apenas psitacídeos e costuma ser fatal. Essa doença afeta o sistema imunológico das aves e é altamente contagiosa. Se ocorrer de forma aguda, além de problemas digestivos, as penas caem, juntamente com dor na área.
Quando se trata de um caso crônico, as aves afetadas podem viver vários anos com a doença. Nesse caso, as penas ficam quebradiças, fraturam, descolorem, enrolam e deformam. Como afeta os folículos das penas, uma vez que caem não é possível substituí-las.
Distúrbios de comportamento
Uma das principais causas de aves sem penas é o estresse. A autolimpeza das aves é um comportamento normal e necessário para o correto posicionamento das penas e sua higiene, mas pode se tornar uma atitude compulsiva ou estereotipada.
Normalmente, esse problema começa em uma área pequena e localizada, mas se não for detectado a tempo ou a ação não for interrompida, pode levar à automutilação nos indivíduos afetados.
Ao detectar essa atitude das aves, é importante buscar a possível causa que a gera. Nesse caso, existem três causas principais:
- Orgânicas: estão relacionadas a problemas de saúde na ave, sejam parasitas externos, como ácaros e piolhos, parasitas internos, alimentação incorreta que gera desnutrição, alergias e vírus ou patógenos como os que vimos anteriormente.
- Ambiental: condições inadequadas de luz, umidade, temperatura, irritantes ambientais (cigarro, fumaça), localização incorreta das instalações e alimentos sempre disponíveis e sem estímulos causam situações de estresse e tédio.
- Comportamentais: ocorrem apenas em aves de cativeiro. Situações de hiperapego aos tutores, falta de companheiros e enriquecimento ambiental, medos e fobias, podem levar a um transtorno obsessivo-compulsivo desse tipo.
O ideal é detectar o problema o quanto antes e entrar em contato com um profissional para que esse comportamento seja resolvido da forma mais rápida e eficiente possível.
Cisto folicular
É um problema, geralmente congênito, que ocorre com mais frequência em aves com alta densidade de penas, como papagaios e canários.
Os cistos se originam quando a pena não consegue penetrar na epiderme e cresce para dentro, causando o aparecimento de um caroço. Para remover esses cistos, é necessária cirurgia, geralmente com uso de bisturi elétrico, já que não há outro tratamento no momento.
Anormalidades no desenvolvimento da plumagem
Uma maneira de ver facilmente se há anormalidades no desenvolvimento das penas é observar o padrão de muda e a cor das penas das aves. Em condições normais, as aves mudam três vezes por ano, com exceção de algumas aves, como os pinguins. Se as aves estiverem constantemente mudando, isso significa que algo não está certo.
Quando a muda é praticamente constante, geralmente é causada por temperaturas inadequadas para os indivíduos afetados. A plumagem ajuda a termorregular a temperatura das aves e, se estiver excessivamente quente, elas perderão constantemente as penas, o que pode causar debilitação e sérios problemas de saúde.
Outra forma de detectar uma anomalia no desenvolvimento das penas é através de sua coloração. Normalmente, as penas são brilhantes e coloridas. Quando o brilho ou a cor mudam, geralmente isso está associado a uma dieta pobre, com pouca variedade e nutrientes, o que gera problemas no desenvolvimento.
Doença do crisântemo
É uma doença genética e congênita e faz com que o crescimento das penas seja interrompido. As aves sem penas que essa doença gera têm sérios problemas quando se trata de regular sua temperatura corporal, por isso devem ser mantidas em condições ideais o tempo todo para evitar doenças e problemas fisiológicos.
Filhotes altriciais
Na natureza encontramos dois tipos de descendência nas aves. Por um lado, temos os filhotes precoces ou nidífugos, que ao nascerem têm os olhos abertos e densos para baixo. É comum em patos, galináceos e faisões. Isso permite que os filhotes obtenham sua própria comida e caminhem logo após o nascimento.
A prole altricial ou nidícola é aquela que nasce indefesa, sem penas e com os olhos fechados. Nesse caso, os pais ficam encarregados de alimentar e cuidar dos filhotes, até que gradualmente desenvolvam suas penas e saiam do ninho. Nesse caso, essas aves são naturalmente sem penas até que estejam totalmente desenvolvidas.
Essas são algumas das causas que existem para as aves sem penas. Se você tem uma ave que apresenta algum sintoma ou comportamento estranho, levá-la a um especialista no menor tempo possível pode permitir que você resolva rapidamente as causas dessa perda de penas e o estresse que isso acarreta para a ave.
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- Senar, J. C., & Guallar, S. (2004). Mucho más que plumas (Vol. 2). Barcelona: Institut de Cultura de Barcelona.
- Información obtenida el día 08/07/2021 en el siguiente enlace: https://www.europapress.es/ciencia/laboratorio/noticia-desvelan-origen-genetico-cuello-desplumado-algunas-aves-20110315233037.html
- Ramis, A., Latimer, K. S., Niagro, F. D., Campagnoli, R. P., Ritchie, B. W., & Pesti, D. (1994). Diagnosis of psittacine beak and feather disease (PBFD) viral infection, avian polyomavirus infection, adenovirus infection and herpesvirus infection in psittacine tissues using DNA in situ hybridization. Avian Pathology, 23(4), 643-657.
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