Existem sapos peludos?

O macho da espécie de sapo peludo é responsável por cuidar dos ovos até sua eclosão, por isso são os únicos que desenvolvem pelos (tricomas).
Existem sapos peludos?
Cesar Paul Gonzalez Gonzalez

Escrito e verificado por o biólogo Cesar Paul Gonzalez Gonzalez.

Última atualização: 27 dezembro, 2022

Embora pareça absurdo, os sapos peludos existem e são reais. De forma natural, os sapos são anfíbios que se caracterizam por apresentarem pele úmida e pegajosa. Eles podem ter vários tamanhos e cores, e podemos até diferenciar entre sapos e rãs. Contudo, dentre todas as características, ninguém imaginaria que pudessem existir sapos peludos.

Peludos? Por que um sapo precisaria de pelos? Parece estranho, mas essas vilosidades têm um importante papel adaptativo na biologia desses anfíbios. Se você quiser saber mais sobre esse animal peludo e singular, continue lendo.

Como são os sapos peludos?

A espécie é conhecida como Trichobatrachus robustus, um anfíbio que faz parte do grupo dos anuros. É um sapo marrom, com tons acinzentados no ventre. Os machos têm pelos nas patas e nas laterais do corpo, os quais podem atingir até 19,7 milímetros de comprimento.

Quanto ao tamanho e à morfologia, eles medem entre 8 e 13 centímetros, o corpo é oval e a cabeça é bem grande. Os sapos peludos apresentam dimorfismo sexual em seu tamanho, de modo que os machos são maiores do que as fêmeas. Além disso, têm garras escondidas em seus dedos, o que lhes permite se defender contra predadores.

Os sapos peludos são nativos da África, portanto, habitam áreas de países como Camarões, Nigéria, Congo, Gabão e Guiné. Eles costumam ficar próximos de rios rochosos com correnteza rápida e vegetação abundante. Às vezes, podem ser encontrados em áreas arborizadas, cavernas e florestas.

 

Os sapos peludos são nativos da África.

Vida e reprodução

Em geral, os sapos costumam ter um estágio larval, durante o qual são conhecidos como girinos e apresentam características completamente aquáticas e herbívoras. Em contrapartida, os organismos adultos são insetívoros e consomem uma grande variedade de artrópodes.

Esse anfíbio precisa manter sua umidade durante o calor diurno, por isso é uma espécie noturna. É por isso também que os anuros usam as estações chuvosas para realizar o acasalamento. No entanto, acredita-se que os sapos peludos podem ter mais de uma estação de acasalamento por ano.

Na fase adulta, essa espécie escolhe entre dois tipos de habitat: terrestre e aquático. Ocupa um nicho aquático quando está em época de acasalamento e cuidando dos filhotes, por isso prefere se instalar em rios e riachos. Fora dessa época, permanece em terra, entre a folhagem da floresta e a lama.

Sapos e pelos?

Na realidade, essa espécie não possui pelos propriamente ditos, e sim finas extensões de pele, chamadas tricomas. Em suma, embora pareçam ser pelos, os tricomas nada mais são do que pele esticada. Isso é importante porque os anfíbios são capazes de respirar através da pele.

Quanto mais área de superfície a pele tiver na forma de dobras, mais capaz o anuro será de extrair oxigênio do ambiente aquático.

Em um ambiente aquático, cada pelo ajuda esse sapo a respirar melhor. No entanto, esses tricomas não cobrem todo o seu corpo, apenas uma parte do dorso e parte das patas traseiras.

Qual é a utilidade dessa adaptação para o animal? Ele tem pelo menos duas razões para desenvolver vilosidades em seus flancos: primeiro, para acasalar. Durante esse período, os anfíbios gastam muita energia e precisam obter oxigênio de maneira eficiente.

Na verdade, os sapos peludos têm pulmões, mas são muito pequenos, por isso precisam de outra maneira de respirar. Graças aos tricomas, seu metabolismo se torna mais eficiente durante a época de acasalamento. Ao final dessa fase, eles se livram de seus tricomas, pois passam para o meio terrestre e, consequentemente, os pelos os fariam perder umidade com facilidade.

A segunda razão tem a ver com sua prole. Essa espécie geralmente põe seus ovos na água e precisa respirar enquanto cuida deles. Graças a essas extensões de pele, o anfíbio consegue ficar submerso por longos períodos.

Nesse grupo taxonômico, é bastante raro ver comportamentos parentais com os filhotes, uma vez que apenas 10% das espécies de anuros apresentam algum tipo de cuidado parental. Além disso, é ainda mais raro que os anfíbios que colocam seus ovos na água tenham esse comportamento, o que torna Trichobatrachus robustus uma espécie única.

Garras de sapo

Se você pensava que os pelos eram a única característica distintiva desse anuro, se enganou. Além de sua curiosa morfologia, os sapos peludos têm a peculiaridade de apresentar falanges em forma de garra, ou seja, o osso que compõe os dedos termina em uma espécie de gancho.

Isso parece não ter muita importância, mas não é verdade. Ao contrário de outros animais cujas garras são como unhas, no caso desse anuro são seus ossos cumprem essa função. Isso significa que o osso tem que romper a pele para expor a garra quando elas são usadas.

Quase como um filme de ficção científica, esse anfíbio se machuca para poder se defender. É algo muito parecido com o que acontece com a salamandra-de-costelas-salientes, só que em vez de usar suas costelas, o sapo peludo usa suas falanges. É por causa dessa característica que ele ganhou o apelido de Wolverine frog em inglês (“sapo Wolverine”).

Conservação

Segundo a UICN, em sua lista vermelha, Trichobatrachus robustus é uma espécie que não se encontra ameaçada. No entanto, isso pode se dever à falta de informações sobre o organismo, motivo pelo qual nenhum perigo foi detectado.

No entanto, existem duas situações que podem colocar esse anuro nativo da África em risco. A primeira é a existência de fungos quitrídios, que estão afetando outras populações de anfíbios. Embora ainda não tenha sido relatado que os sapos peludos podem ser afetados por esse fungo, essa possibilidade não deve ser descartada.

A segunda razão, por mais surpreendente que pareça, é o consumo de carne de rã por humanos. Em várias regiões da África, esses anuros são considerados uma iguaria e as principais fontes de proteínas.

 

Os sapos peludos existem.

É comum encontrar espécies que são pouco estudadas, pois a ciência tende a avançar lentamente e nem sempre tem cientistas suficientes. Portanto, uma das melhores formas de ajudar é conhecendo a fauna e divulgando a mensagem. Talvez esse sapo esconda mais segredos do que sabemos até agora.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Blackburn, D. C., Hanken, J., & Jenkins, F. A. (2008). Concealed weapons: erectile claws in African frogs. Biology Letters, 4(4), 355–357. doi:10.1098/rsbl.2008.0219
  • Robischon, M. (2017). Surface-Area-to-Volume Ratios, Fluid Dynamics & Gas Diffusion: Four Frogs & Their Oxygen Flux. The American Biology Teacher79(1), 64-67.
  • Pauwels, O. S., Carlino, P., Chirio, L., Daversa, D. R., Lips, J., & Oslisly Richard, T. O. (2019). Amphibians and reptiles found in caves in Gabon, western Equatorial Africa. Cave and Karst Science46(1), 3-12.
  • Jones, C. (1971). Notes on Hairy Frogs (Trichobatrachus robustus Boulenger) Collected in Rio Muni, West Africa. Herpetologica, 51-54.
  • Akinyemi, A. F., & Ogaga, E. D. (2015). Frog consumption pattern in Ibadan, Nigeria. J. for Stds. in Manage. and Planning1(3), 522-231.
  • Domínguez, R., Pateiro, M., Munekata, P. E., Gagaoua, M., Barba, F. J., & Lorenzo, J. M. (2019). Exotic Meats: An Alternative Food Source. In More than Beef, Pork and Chicken–The Production, Processing, and Quality Traits of Other Sources of Meat for Human Diet (pp. 385-408). Springer, Cham.
  • BAREJ, A. S., & HÖLTING, M. (2014). Relicts of a forested past: Southernmost distribution of the hairy frog genus Trichobatrachus Boulenger, 1900 (Anura: Arthroleptidae) in the Serra do Pingano region of Angola with comments on its taxonomic status. Zootaxa3779(2), 297-300.
  • Soto, E. R., Sallaberry, M., Núñez, J. J., & Méndez, M. A. (2008). Desarrollo larvario y estrategias reproductivas en anfibios. Herpetología de Chile, 333-357.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.