O jacaré-de-papo-amarelo: um animal ameaçado e em recuperação
Escrito e verificado por a veterinária Érica Terrón González
O jacaré-de-papo-amarelo – Caiman latirostris – é uma espécie de crocodilo da família Alligatoridae. É nativo das regiões tropicais da América Latina e é caçado há gerações.
Por isso, hoje consta na lista de espécies protegidas da convenção CITES, embora esteja presente no Anexo II, o que é indicativo do sucesso do seu trabalho de recuperação.
Você sabe quais são as ameaças que esse animal sofre? O que aconteceu para que precisasse de esforços para a sua conservação? Nas linhas a seguir, responderemos a essas perguntas e muitas mais.
Generalidades sobre o jacaré-de-papo-amarelo
Aqui estão alguns dos aspectos mais característicos desse animal fascinante.
Aparência externa e morfologia
Para começar, um jacaré-de-papo-amarelo pode medir mais que 2,5 metros de comprimento e pesar até 90 quilos. Por outro lado, apresenta um acentuado dimorfismo sexual, já que as fêmeas são menores à primeira vista. Quanto às diferenças com outras espécies de crocodilos, destacam-se:
- A cor das escamas lembra a estampa camuflada, pois combina o verde profundo com tons acinzentados. Isso permite que esses crocodilos se misturem ao ambiente.
- Seu focinho é robusto e curto, tão largo quanto o resto da sua cabeça.
- O tamanho das placas de proteção em seu pescoço é maior do que na maioria dos seus parentes.
Os exemplares mais jovens apresentam um padrão listrado característico, que ocasionalmente é preservado quando se tornam adultos.
Este animal possui cauda musculosa e afiada lateralmente, além de uma pele praticamente impermeável. Isso o torna um nadador perfeitamente adaptado a locais com rica vegetação. Além disso, graças aos seus olhos e narinas localizados na parte posterior da cabeça, pode se esconder na vegetação rasteira e passar despercebido.
Habitat do jacaré-de-papo-amarelo
Essa espécie habita todos os tipos de pântanos e lagos da América do Sul. Está distribuído principalmente na Bolívia, no Brasil, na Argentina, no Paraguai e no Uruguai, em bacias hidrográficas como a do Amazonas.
O jacaré-de-papo-amarelo prefere terras com vegetação densa e clima quente e úmido. Isso facilita a caça, a reprodução e a posterior criação, visto que nesses ecossistemas a presença de competidores é limitada. Apesar disso, ele também pode sobreviver em climas mais quentes e mais secos.
Ao contrário de outros parentes, os crocodilos não são fáceis de localizar em grandes cursos de água limpa. Eles preferem ambientes aquáticos rasos e cobertos por vegetação. São locais muito abundantes em recursos e de difícil acesso para predadores.
Alimentação
Como o restante dos componentes da família Alligatoridae, a dieta do jacaré é exclusivamente carnívora. Alimenta-se de moluscos e crustáceos que encontra nas terras que circundam o canal de água.
Entretanto, esse animal também come todos os tipos de répteis e pequenos mamíferos. Portanto, não é um caçador particularmente prejudicial ou perigoso do ponto de vista da predação.
O que levou o jacaré-de-papo-amarelo a se tornar uma espécie ameaçada?
Em primeiro lugar, na natureza, os jacarés jovens têm uma alta taxa de mortalidade. Seus principais predadores são as aves de rapina que sobrevoam seu território, assim como garças, cegonhas, raposas e todos os tipos de carnívoros do pantanal. No entanto, foi o ser humano que levou essa espécie à beira da extinção.
A caça ao jacaré-de-papo-amarelo visa usar sua pele para a confecção de artigos de couro. Aparentemente, esse material é mais delicado e menos coriáceo do que o de outras espécies de crocodilo. A caça também tem como objetivo sua carne e seus ovos, embora em menor escala.
Por tudo isso, os alarmes foram acionados e inúmeros projetos de conservação dessa espécie foram lançados nos países de origem. Graças a eles – e à proteção da CITES – os jacarés-de-papo-amarelo são, hoje, uma espécie classificada como “pouco preocupante”.
O interesse em conservar o jacaré-de-papo-amarelo
Para conseguir um aproveitamento responsável e sustentável da espécie, vários países desenvolveram fazendas de jacarés. É o caso, por exemplo, do Brasil e da Argentina. Nessas fazendas, uma porcentagem dos animais é criada e liberada, a fim de repovoar os habitats naturais tão afetados pela caça.
Os demais animais são mantidos na fazenda para atender à demanda do mercado, como seria feito com qualquer outro tipo de criadouro. Dessa forma, atendendo às necessidades humanas, o tráfico de indivíduos e a caça excessiva e ilegal são reduzidos.
Vale ressaltar que os conservacionistas encontraram algumas dificuldades com a sua criação em cativeiro. Em primeiro lugar, a reprodução em fazendas mostrou-se inútil, pois, ao liberar os filhotes, a mortalidade era de 90%.
Por esse motivo importante, a técnica de “fazenda” foi introduzida. Consiste em colher ovos silvestres para eclodir e criá-los artificialmente durante o primeiro inverno. Só assim se conseguiu que a taxa de sobrevivência fosse de 92%.
Conservar uma espécie para salvar um ecossistema
A verdade é que a preservação dessa espécie teve vários impactos positivos. O sucesso da criação do jacaré-de-papo-amarelo em cativeiro e seu posterior retorno à natureza tem estimulado o interesse pela conservação dos pântanos onde eles vivem, fato que desencoraja práticas maliciosas.
Dessa forma, a proteção de uma espécie significou a conservação de todo um ecossistema, com tudo o que isso implica. A história do jacaré-de-papo-amarelo é uma lição para os humanos: com os meios e esforços adequados, as espécies podem ser salvas da extinção.
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