Nectocaris pteryx: o avô dos cefalópodes há 500 milhões de anos

Por mais surpreendente que possa parecer, os cefalópodes - polvos, lulas, sépias e náutilos - são parentes próximos de caracóis e amêijoas. Todos eles são moluscos.
Nectocaris pteryx: o avô dos cefalópodes há 500 milhões de anos
Francisco Morata Carramolino

Escrito e verificado por o biólogo Francisco Morata Carramolino.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A história evolutiva dos moluscos – e especificamente a origem dos cefalópodes – ainda guarda muitos mistérios. A reclassificação de um antigo fóssil animal, chamado Nectocaris pteryx, lançou alguma luz sobre essas questões.

Este animal foi descoberto em 1976 a partir de um único espécime que fazia parte da formação de Burgess Shale, um dos depósitos fósseis mais excepcionais já encontrados. Sua aparência estranha e o mau estado impediram que fosse devidamente classificado.

No entanto, 91 novos espécimes fósseis nos permitiram descobrir a verdade sobre esse animal e tirar conclusões sobre os primeiros cefalópodes que habitaram a Terra. Continue lendo se quiser aprender mais sobre isso.

A história do Nectocaris pteryx

O primeiro espécime de Nectocaris pteryx estava bastante degradado, o que dificultou extremamente a sua identificação. Por esse motivo, essa antiga criatura foi classificada como um artrópode ancestral, grupo ao qual pertencem os crustáceos e os insetos. Também foi incluído nos cordados, o filo que contém mamíferos e répteis.

No entanto, um artigo publicado em 2010 na revista Nature foi capaz de examinar os muitos novos espécimes descobertos. Graças a isso, pesquisadores esclareceram as características e o habitat – temporal e espacial – desse animal na história dos seres vivos.

Tal estudo revelou que esse animal é na verdade o cefalópode mais antigo já encontrado. Isso o torna um possível ancestral dos polvos e das lulas existentes hoje em dia.

O Nectocaris existiu há cerca de 500 milhões de anos, por isso esticou a data estimada de origem dos cefalópodes em mais 30 milhões de anos antes. Isso indica que os cefalópodes surgiram logo no início da evolução dos organismos multicelulares e, portanto, são um dos grupos de animais mais antigos do mundo.

Um fóssil belemnita.

Características do Nectocaris pteryx

Esses cefalópodes remotos eram muito pequenos. Os exemplares encontrados variam em tamanho, mas medem cerca de 3,7 centímetros em média. O tamanho reduzido era uma característica comum dos cefalópodes da época.

O corpo desse animal era achatado, macio e em forma romboidal. Ele tinha uma barbatana que descia de cada lado do corpo e era maior perto da cabeça. Ao contrário de outros cefalópodes antigos, o Nectocaris pteryx não tinha concha.

Sua pequena cabeça aparecia no final de um pescoço curto. Nele era possível encontrar 2 longos tentáculos, que são flexíveis e vão afinando até a ponta. A cabeça também tinha 2 olhos, separados por pequenas hastes ou pedúnculos. É possível que esses olhos fossem complexos, com uma estrutura semelhante a de uma câmera, como nos polvos atuais.

Por fim, um dos aspectos mais importantes era a presença de um sifão. Essa estrutura flexível surgia na parte ventral do pescoço, alargando-se ao se afastar dele e conectada a uma cavidade interna, onde ficavam as brânquias.

O sifão foi um dos aspectos cruciais para identificar o Nectocaris como um cefalópode. Não estava bem preservado no primeiro espécime encontrado, o que causou muita confusão.

Ecologia do cefalópode arcaico

Esse molusco era capaz de nadar ativamente – graças às suas nadadeiras laterais – e podia dar grandes acelerações, expelindo água pelo sifão. Provavelmente vivia perto do fundo do mar, nadando em busca de comida.

Além disso, o Nectocaris pteryx tinha hábitos predatórios ou necrófagos. Alimentava-se de pequenos animais moles no fundo do mar, que capturava e manipulava com seus longos tentáculos.

Ainda não se sabe exatamente como consumia sua presa, uma vez que o aparelho bucal desse animal não foi preservado. O restante dos cefalópodes tem um bico afiado e a rádula – uma língua serrilhada com a qual raspam os alimentos. Essas estruturas podem não ter fossilizado ou não estavam presentes no Nectocaris.

Alguns mistérios evolutivos

Além do aparelho bucal, a existência desse animal levanta outras questões sobre a evolução dos moluscos, que precisam de mais fósseis para serem resolvidas.

Um deles tem relação com os tentáculos. O Nectocaris tem apenas 2, o que pode significar que os cefalópodes começaram com um número reduzido de tentáculos que aumentou com o passar dos anos. Outra possibilidade é que os ancestrais do Nectocaris tivessem mais tentáculos, mas esse animal os tenha perdido ou fundido.

Outro dos problemas mais intrigantes é a ausência de uma concha. Acredita-se que o ancestral desses animais fosse semelhante a um monoplacóforo, cuja concha teria sofrido modificações para abrigar gás e atingir a flutuação.

Nectocaris não tinha uma concha, mas podia flutuar e nadar livremente. Portanto, os cefalópodes podem não descender de um ancestral com proteção externa. É possível que a concha de náutilos, amonites e outros parentes tenha sido uma adaptação posterior.

Um fóssil de amonite.
A existência do Nectocaris põe à prova a ideia de que a concha era um traço ancestral nos cefalópodes.

Como foi possível observar, esse antigo cefalópode trouxe respostas para várias perguntas sobre a evolução dos moluscos, mas também gerou outras. As relações desses animais ainda são amplamente desconhecidas, então mais pesquisas são necessárias.


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