Os macacos roubam por nossa culpa. Saiba mais!
Escrito e verificado por o veterinário Eugenio Fernández Suárez
Os macacos roubam quando têm a oportunidade: isso parece ter sido gravado no imaginário coletivo. No entanto, o fato é que isso ocorre especialmente nas áreas de turismo totalmente descontrolado, nas quais o ser humano é a principal causa desse comportamento, que pode ter sérias consequências.
Os macacos roubam turistas
Ver macacos e outros primatas na natureza é algo que muitas pessoas acham interessante. Eles são um grupo muito popular de animais, então qualquer um que viaje para certas áreas da América do Sul, África ou Sudeste da Ásia quer interagir com eles.
Esta vontade tem sido aproveitada por muitas pessoas e empresas. Por isso, em muitas áreas turísticas, esse tipo de comportamento é promovido pela venda de comida para os macacos ou pela não regulamentação desse tipo de atividade.
A realidade é que em lugares como Gibraltar ou Tailândia, muitas pessoas levam comida a locais onde os primatas selvagens são usados como atração. Então, é normal que eles acabem associando a comida ao homem.
Nós, animais primatas, somos muito inteligentes e bastante adaptáveis. É por isso que os primatas que vivem em ambientes turísticos costumam gastar muito menos tempo para se alimentar, pois consomem alimentos hipercalóricos fabricados pelo e para o ser humano.
Os perigos das interações descontroladas com primatas
Entre primatas, compartilhamos as bases da linguagem: macacos e pessoas utilizam gestos faciais para se comunicarem de forma muito complexa, algo que dificilmente pode ser visto em outros grupos do reino animal, como aves e répteis.
No entanto, assim como um sueco e um nigeriano dificilmente entenderiam um ao outro, embora utilizem a linguagem falada, o mesmo ocorre entre nós.
Um exemplo claro é o sorriso humano, tão explorado no mundo do cinema. Muitos primatas não-humanos, como o famoso macaco capuchinho, são treinados para fazer este gesto.
O problema é que nesses primatas o sorriso costuma representar uma face de submissão e medo, que geralmente ocorre após uma agressão ou conflito.
Isso significa que muitos animais são treinados a fazer esse gesto por medo, já que o ser humano o associa a algo amigável, quando na verdade não é assim.
É por isso que os ataques de macacos a pessoas são comuns, e representam mais de 20% das mordidas de animais. Muitas vezes pensamos que um macaco manda beijos ou sorrisos para nós e, na realidade, está nos ameaçando. Então, devolver o gesto na ignorância pode custar caro.
Um ataque de um desses animais não representa apenas um risco medido em mordidas, mas também em doenças.
Embora a capacidade de transmissão de muitas doenças virais seja desconhecida, a verdade é que compartilhamos outras doenças com os primatas, como o Ebola, a AIDS, a raiva e alguns vírus do herpes fatais.
Ameaças aos primatas por interações com humanos
Essa atividade se retroalimenta, e quanto mais os turistas vão incomodar esses animais, mais os macacos roubam, a ponto de serem considerados perigosos.
Em Gibraltar, muitos passaram a sacrificar os animais porque eles começaram a entrar nas casas. Este ato é inadmissível especialmente para uma espécie como o macaco de Gibraltar, que está em perigo de extinção.
Além disso, o consumo de alimentos para humanos traz sérias consequências para a saúde desses animais. Um exemplo claro é o que aconteceu com os babuínos, quando um grupo morreu por consumir comida humana.
Vale lembrar que os seres humanos também podem transmitir doenças a esses animais, como é o caso de gripes e resfriados para espécies como o gorila-das-montanhas.
Portanto, quando vamos ver esses animais em seu habitat, devemos fazer isso com cautela e não cair em nosso desejo de interagir com eles.
Assim, devemos ir a reservas responsáveis nas quais estes animais não são explorados, onde podem ser vistos perfeitamente à distância através do uso de binóculos e câmeras.
Desta forma, podemos lutar contra a crença tão difundida de que os macacos roubam, e podemos apreciar seu comportamento natural, ainda que não possamos tirar uma foto com eles.
Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.