O que é a paleoecologia?
Escrito e verificado por o biólogo Miguel Mata Gallego
A paleoecologia é uma ciência que se dedica a descobrir a ecologia do passado. Portanto, a sua tarefa é descrever os ambientes e as relações tróficas de animais e plantas que viveram na Terra há centenas, milhares e até mesmo milhões de anos atrás.
Como é possível verificar a vegetação em um lugar específico há milênios de anos? Quais ferramentas essa ciência usa para desvendar os mistérios do passado? Vamos te contar tudo isso e muito mais neste espaço.
Os segredos escondidos sob o lago
Para começar a explorar o mundo da paleoecologia, sugerimos que você, leitor, dê asas à imaginação e se desloque mentalmente para a margem de um pequeno lago.
Podemos imaginar um belo lago de águas de cor turquesa, rodeado por alguns pinheiros jovens. Ou, se preferirmos, podemos pensar em um escuro e profundo lago escocês, cercado por carvalhos centenários cujos galhos balançam ao vento.
Qualquer que seja o corpo de água que vier à sua mente, todos eles têm uma coisa em comum: armazenam informações muito valiosas para os ecologistas em suas profundezas, embora possa não parecer a princípio.
Ao longo dos anos, o pólen excretado pela vegetação que circunda os corpos de águas estagnadas (lagos, reservatórios e pequenas lagoas) acaba caindo na água e, consequentemente, chega ao fundo dos lagos. Esse pólen termina se acumulando nos sedimentos que, ano após ano, vão formando uma camada cada vez mais espessa no fundo dos lagos.
A palinologia, um olhar sobre a vegetação do passado
Através de técnicas sofisticadas de perfuração, os ecologistas extraem núcleos dos sedimentos, de forma semelhante à extração de núcleos de gelo das geleiras ou dos polos. Uma vez extraídos, esses núcleos contêm o pólen fossilizado da vegetação que, em algum momento do passado, circundava o lago.
Portanto, a palinologia, ou análise do pólen fossilizado, é extremamente útil para os pesquisadores. Isso porque ela permite conhecer a evolução da vegetação em um determinado ponto. Assim, os cientistas conseguem vislumbrar, como se houvesse uma janela, o passado das plantas que viveram nos ecossistemas.
Paleontologia: o estudo de fósseis de animais
Como podemos imaginar, a palinologia é uma das ferramentas mais úteis, modernas e baratas que temos para conhecer o estado dos ecossistemas no passado.
Sabendo quais plantas existiam, podemos deduzir quais animais herbívoros as comiam e assim por diante, até que toda a cadeia trófica seja desvendada. No entanto, os primeiros passos na paleoecologia foram dados com o estudo dos fósseis de animais.
O estudo dos fósseis, ou paleontologia, permite conhecer como eram alguns organismos há milhões de anos. Graças ao processo de fossilização, os restos mortais de alguns animais são preservados como rochas nas camadas que constituem a crosta terrestre.
O estudo dos fósseis nos permite descobrir a evolução dos animais até o presente. É o caso dos fósseis que nos mostram o nosso passado como seres humanos. O Australopithecus, os sítios de Atapuerca e o homem de Neandertal são exemplos de fósseis que iluminam nosso passado.
Fósseis de animais extintos
No entanto, provavelmente o aspecto mais impressionante sobre o registro fóssil animal é descobrir espécies ou grupos taxonômicos inteiros de animais que não vivem mais entre nós.
O caso mais conhecido é o dos dinossauros, os “terríveis lagartos” que dominaram a Terra entre 250 e 65 milhões de anos atrás. Seu desaparecimento ocorreu por causa do impacto de um meteorito sobre a Terra e atualmente as aves são o único grupo sobrevivente.
Os paleontólogos foram capazes de analisar os fósseis desses dinossauros detalhadamente e chegaram a conclusões muito interessantes sobre o seu modo de vida.
Um dos estudos mais curiosos que existem sobre esse tema é a análise de crânios fossilizados, os quais fornecem muitas informações sobre as capacidades cerebrais dos dinossauros. Assim, por exemplo, sabe-se que o Velociraptor era um animal extremamente inteligente.
Embora os fósseis de dinossauros sejam o exemplo mais conhecido do público em geral, existem inúmeros grupos de animais que foram extintos e que só conhecemos por causa dos restos fossilizados.
Burgess Shale, um lugar único para a paleoecologia
No sítio dos xistos de Burgess Shale, encontramos aquele que provavelmente é o melhor lugar do mundo para estudar a paleoecologia dos organismos cambrianos. Nesse sítio, localizado no coração das Montanhas Rochosas do Canadá, existem milhares de fósseis de organismos com uma variedade esplêndida.
O que torna esse lugar único é o fato de que ele foi formado por causa de uma avalanche de argila que prendeu milhares de animais marinhos do período Cambriano (trilobitas, moluscos, artrópodes e outros invertebrados antigos) ainda vivos. Portanto, a reconstrução da sua ecologia se torna mais simples.
Assim, os paleoecologistas podem estudar milhares de fósseis que de outra forma não teriam sido encontrados. Um exemplo notório é o Hallucigenia, um onicóforo que ganhou esse nome por causa do seu incrível corpo com espinhos.
Em conclusão, seja através do estudo do pólen fossilizado ou dos fósseis de animais preservados na rocha, podemos perceber como a paleoecologia permite reconstruir com incrível precisão os ambientes e ecossistemas do passado.
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