Por que algumas mães comem os próprios filhotes no reino animal?

Pensar em comer nossos filhos é algo impossível de assimilar, mas nem todos os animais podem se permitir as perdas que a paternidade acarreta em determinados momentos.
Por que algumas mães comem os próprios filhotes no reino animal?

Última atualização: 23 janeiro, 2021

Conceber que as mães comam os próprios filhos é uma ideia impensável para qualquer ser humano. O tabu do canibalismo está escrito em nossos genes e o infanticídio é um dos piores crimes que podem ocorrer na sociedade atual.

Mas há um objetivo adaptativo para isso na natureza? O mais lógico para um ser humano seria pensar na perpetuação dos genes, pois, se não houver descendência, a espécie se extingue. Portanto, a ideia de comer os nossos filhos nos parece um ato um pouco autodestrutivo, mas o nosso padrão nem sempre é o único pelo qual se vive.

A eficácia evolutiva do canibalismo

Parece lógico pensar que o melhor a fazer para perpetuar uma espécie é ter o maior número possível de descendentes. No entanto, essa reflexão é feita a partir de um contexto mental em que existem recursos suficientes para sustentá-los, bem como um local seguro e um parceiro para ajudar na criação. No caso dos animais, nem sempre é esse o caso.

Enquanto os humanos têm descendentes um a um – às vezes mais, mas não em números absurdamente grandes – outros animais podem ter ninhadas com mais de dez filhotes. Além disso, na natureza, eles precisam se defender de predadores, e às vezes as oportunidades de reprodução são limitadas e o tempo é curto.

Quando ocorre um desses casos, fazer todos os filhotes sobreviverem contra tudo e todos pode levar à morte do progenitor e, portanto, da ninhada. Muitas vezes, o melhor para a sobrevivência da espécie é reduzir ou abandonar uma ninhada para garantir que possam existir outras no futuro.

mães que comem os próprios filhotes

Por que as mães comem os próprios filhotes

Já vimos que para algumas espécies é difícil manter os seus descendentes. Isso foi estudado longamente devido à surpresa que suscita e, como uma amostra desse fascinante fenômeno, vamos apresentar aqui as três principais teorias para explicá-lo, juntamente com alguns exemplos curiosos.

1. Os hamsters e o controle da ninhada

A história de que as mães hamsters e de outras espécies de roedores comem os próprios filhotes é bastante popular. Isso pode parecer um pouco destrutivo, mas devemos refletir sobre o seguinte fato: as fêmeas de hamster podem ter ninhadas de até dez filhotes.

Os recursos de que essa mãe necessita para sustentar dez filhotes – energia, produção de leite e busca de alimento, entre tantos outros – podem comprometer a sua sobrevivência ou a da própria ninhada. Isso não beneficia os dois componentes envolvidos de forma alguma.

De fato, em experimentos feitos em cativeiro, ao modificar o número de filhotes artificialmente, o comportamento das mães mudava. Se os filhotes fossem retirados da mãe, o canibalismo cessava. Pelo contrário, se fossem acrescentados mais filhotes à ninhada, era possível perceber as mães comendo os filhotes.

A explicação que foi dada para isso é que a mãe estava resolvendo dois problemas ao mesmo tempo: por um lado, ela obtinha nutrientes e energia por meio desse canibalismo. Em segundo lugar, a mãe reduzia a ninhada. Isso aumentava as chances de sobrevivência dos filhotes remanescentes.

2. A prole como recurso de emergência

Muitas vezes, ao procurar entender porque as mães comem os próprios filhotes, encontramos uma certa projeção para o futuro. Quando há um ninho que não pode ser abandonado e um predador ataca, muitas vezes a opção mais adaptativa é abandoná-lo e esperar para poder criar outra ninhada no futuro.

Um bom exemplo disso é a mabuya (Lacerta mabouya), um réptil nativo das Antilhas. Quando outro animal ataca o seu ninho tentando predar os seus ovos, a fêmea come os ovos antes do predador. Dessa forma, ao comer os próprios filhotes, as mães evitam que o predador atinja o seu objetivo, aproveitando a energia obtida para se reproduzir novamente.

3. Não são apenas as mães que comem os próprios filhotes

No mundo marinho, também encontramos exemplos de progenitores que comem os próprios filhotes – dessa vez, os pais. Esse é o curioso caso do caboz-de-areia (Pomatoschistus minutus) que, depois de fertilizar os ovos de várias fêmeas, fica responsável pelos seus cuidados até a eclosão.

O problema surge quando um dos ovos demora demais para eclodir. Como o macho não abandona o ninho até que todos os filhotes tenham saído dos ovos, às vezes ele os come para que possa continuar a busca por novos ninhos para fertilizar.

mães que comem os próprios filhotes

Em conclusão, vimos a importância de manter um equilíbrio nos custos da criação, pois, caso contrário, tanto os filhotes quanto os pais podem perder a vida. Mais uma vez, estamos desfazendo concepções que nos afastam da compreensão dos outros seres vivos ao nosso redor.


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