Por que as preguiças são tão lentas?
Escrito e verificado por o biólogo Cesar Paul Gonzalez Gonzalez
As preguiças são um grupo de animais endêmicos da América do Sul que se caracterizam pela exacerbada lentidão de seus movimentos. Esses organismos passam a maior parte de suas vidas em árvores, onde tudo o que fazem é comer e dormir. Curiosamente, esse comportamento é na verdade um traço adaptativo que lhes permitiu sobreviver até hoje.
Esses mamíferos são agrupados em dois gêneros distintos, diferenciados pelo número de garras em suas mãos: Bradypus (com três) e Choloepus (com duas). Eles também pertencem à ordem dos Xenarthros, por isso são parentes próximos dos tamanduás e tatus. Continue lendo e aprenda mais sobre a incrível lentidão das preguiças.
Como é um bicho-preguiça?
A aparência da preguiça é muito semelhante à de um primata, pois seu corpo é totalmente coberto por pelos. Além disso, algumas espécies apresentam a face arredondada e definida, com focinho reduzido. Além disso, seus membros são modificados para facilitar sua vida arbórea, por isso são excessivamente alongados e possuem grandes garras.
Em geral, as preguiças não ultrapassam 60 centímetros de comprimento, pois sua vida se baseia em passar despercebidas. Por esse motivo, a sua coloração é muito semelhante à cor castanha-acinzentada dos galhos, o que as ajuda a se misturar entre as copas das árvores quando estão deitadas.
Essa característica confere às preguiças uma camuflagem que, junto com seus movimentos, constitui uma das melhores estratégias de sobrevivência.
Algas e fungos na pelagem
O pelo desses organismos tem uma particularidade a mais, pois é tão frondoso que favorece o desenvolvimento de algas, cianobactérias e fungos. De fato, pode-se considerar que o corpo da preguiça cria um miniecossistema onde habitam vários micro-organismos (e até artrópodes).
Embora possa parecer de pouca importância, esse recurso realça a camuflagem da preguiça, fornecendo-lhe os tons esverdeados e amarelados típicos dos galhos das árvores. Além disso, essa colonização não acarreta nenhum risco para o animal, já que seu corpo não é afetado.
Dieta de baixa caloria
A dieta desses mamíferos é baseada no consumo de folhas, flores e frutos, por isso são classificados como folívoros. Na verdade, estima-se que as preguiças podem se alimentar de 28 espécies diferentes de árvores. No entanto, elas tendem a herdar sua preferência alimentar, razão pela qual comem os mesmos tipos de folhas que suas mães e pais.
Apesar de contar com recursos abundantes, as dietas à base de folhas fornecem poucas calorias em termos metabólicos. Mesmo se comerem muito, as preguiças não serão capazes de subsidiar a demanda de energia que seus corpos requerem quando se movem ou se deslocam. Por isso (e para não mudar a forma de se alimentar), elas tiveram que se adaptar para enfrentar essa limitação.
O metabolismo da preguiça
Os problemas desses mamíferos não param por aqui, já que as folhas são um dos alimentos mais difíceis de digerir. Para tirar proveito de todos os nutrientes do recurso vegetal, as preguiças devem processá-los exaustivamente. Para isso, esses mamíferos possuem dentes trituradores e um sistema digestivo adaptado que lhes permite fazer essa digestão sem problemas.
Em última análise, isso faz com que seu metabolismo tenha que se modificar para que as etapas da digestão durem o suficiente e os alimentos ingeridos possam ser bem processados. Dessa forma, estima-se que leve pelo menos uma semana para a preguiça digerir os alimentos.
Graças a esse período, o intestino desse mamífero é capaz de realizar uma fermentação que lhe permite liberar e absorver todos os nutrientes da folha. Assim, as preguiças conseguem viver à base de folhas.
Por que as preguiças são tão lentas?
Tudo isso nos ajuda a explicar o comportamento típico desse mamífero, já que seu metabolismo lento e sua fonte limitada de energia o forçaram a manter sua característica definidora. A lentidão das preguiças permite que elas garantam que não gastarão energia em excesso e que sua digestão lenta será capaz de dar conta de seus movimentos.
Visto de outra forma, as preguiças se movem lentamente para que a digestão reponha suas energias progressivamente (quase ao mesmo tempo em que as usa). Graças a esse método, elas garantem a vitalidade necessária para a realização de suas atividades. Contudo, os diferentes espécimes costumam optar por dormir cerca de 18 horas por dia para evitar conflitos.
Esse modo de vida pode parecer contraproducente, mas a realidade é que acaba sendo uma vantagem para o mamífero. Por se mover tão lentamente, seus predadores não conseguem identificá-lo facilmente e, portanto, a preguiça está segura em seu habitat. Nesse sentido, tanto o comportamento quanto a pelagem são fatores que se somam para resultar em uma capacidade de sobrevivência impressionante.
Regulação térmica
A preguiça parece uma máquina bastante econômica em termos biológicos, já que inclusive desistiu de usar seus mecanismos endotérmicos. Isso significa que esse animal limitou a capacidade evolutiva que lhe permitia controlar sua temperatura a fim de economizar um pouco mais de energia.
Por esse motivo, as preguiças precisam exibir comportamentos semelhantes aos dos animais ectotérmicos e buscar o sol para regular sua temperatura.
Isso também se reflete na velocidade da sua digestão. Como alguns répteis, as preguiças consomem mais comida quando a temperatura está alta. No final das contas, essa característica não afeta tanto esses mamíferos, pois, como moram perto do equador, têm a garantia de um ambiente úmido, temperado e com muita alimentação.
O comportamento das espécies representa um traço adaptativo que auxilia na sobrevivência dos organismos. As preguiças não são uma exceção: embora pareçam desajeitadas, sua lentidão é produto de um processo natural conhecido como evolução. A maioria das características de um animal tem o objetivo de lhe conceder diferentes benefícios dentro de seu ambiente.
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