Beluga: características, habitat e comportamento
Escrito e verificado por o biólogo Cesar Paul Gonzalez Gonzalez
As baleias beluga —também conhecidas como baleias brancas— são belos animais marinhos que se distinguem por terem uma “cabeça” proeminente. Elas são parentes próximos dos golfinhos, então sua morfologia é bastante semelhante. No entanto, elas se adaptaram totalmente ao frio e vivem em áreas que não são adequadas para outras espécies.
O nome científico dessa “baleia” é Delphinapterus leucas. Ela pertence à infraordem Cetacea, que inclui todos os mamíferos aquáticos. Continue lendo para descobrir tudo o que você precisa saber sobre a beluga.
A taxonomia da beluga
A beluga faz parte dos odontocetos (Odontoceti), um grupo de mamíferos marinhos que se caracterizam por terem dentes na boca. De acordo com um estudo publicado na revista Conservation Genetics Resources, seus parentes mais próximos são os narvais e os golfinhos, com os quais compartilham grande parte de sua morfologia. Mesmo assim, seus aspectos diferem o suficiente para distinguir cada um.
Essa bela espécie é a única de seu gênero (Delphinapterus), embora algumas análises recentes sugiram que existem várias subpopulações que poderiam diversificar sua linhagem. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), são conhecidas pelo menos 21 populações parcialmente isoladas em sua área de distribuição.
Isso significa que, embora haja apenas uma espécie dentro do gênero, as subpopulações podem se tornar subespécies se as condições forem adequadas. Isso ainda é uma suposição, já que no momento não há evidências fortes para apoiá-la. No entanto, é sabido que o isolamento geográfico é um fator decisivo na especiação.
Onde vive esse mamífero marinho?
As baleias beluga vivem em águas das regiões árticas e subárticas. Na verdade, é um dos poucos mamíferos marinhos que permanece nessa área durante todo o ano. Nesse sentido, um estudo da revista Polar Biology sustenta que a espécie está intimamente associada ao gelo marinho.
Essas pequenas “baleias brancas” passam a maior parte do tempo perto de linhas costeiras ou formações de gelo, mas são capazes de mergulhar no oceano ou submergir a profundidades de quase 800 metros.
No entanto, observações da espécie parecem indicar que o frio tem um certo efeito restritivo em seus movimentos, já que, quando as temperaturas caem, a beluga tende a ficar próxima à superfície.
Características físicas da beluga
A beluga é chamada de “baleia branca” porque na idade adulta exibe uma cor branca distinta em todo o corpo. Além disso, mede entre 3 e 7 metros de comprimento, o que rivaliza com o tamanho da baleia-franca-pigmeia.
Esse mamífero marinho também apresenta dimorfismo sexual no que diz respeito ao seu tamanho. Segundo o portal Animal Diversity Web, os machos da espécie são cerca de 25% maiores que as fêmeas.
Visto de outra forma, há uma diferença média de 1,2 metros de comprimento entre os dois sexos.
Embora seja conhecida como “baleia”, sua morfologia é mais parecida com a de um golfinho. É claro que se caracteriza por duas diferenças: não possui nadadeira dorsal e sua cabeça apresenta uma protuberância, devido ao órgão conhecido como “melão”. Esta última estrutura é essencial para a beluga, pois alguns especialistas sugerem que ela serve de suporte para o sistema de ecolocalização.
Em resumo, o corpo da beluga é alongado e curvo, com uma proeminente “corcunda”. Além disso, possui duas nadadeiras peitorais e uma nadadeira caudal. Sua pele é grossa e pode ser lisa ou apresentar uma série de dobras ou rugas. Ela também tem uma boca relativamente “pequena” com uma série de 8 a 9 dentes em cada mandíbula.
Aparência dos filhote
Os filhotes de beluga mantêm as mesmas características físicas dos adultos, com exceção da cor branca típica da espécie. Ao nascer, os filhotes apresentam tons de cinza, marrom ou azul escuro, que vão clareando à medida que crescem até chegar ao branco. No entanto, nesse momento de sua vida, eles podem ser confundidos com seus parentes próximos: os narvais.
Alimentação
A beluga é um animal carnívoro que se alimenta de uma grande variedade de peixes e invertebrados marinhos. Devido à sua distribuição, sua dieta pode variar um pouco por causa da disponibilidade de presas que existe em seu habitat. Mesmo assim, os componentes mais comuns de sua dieta são os seguintes:
- Polvo.
- Lula.
- Camarão.
- Salmão.
- Bacalhau ártico.
- Peixe Thaleichthys pacificus.
- Eperlano-arco-íris.
De acordo com um estudo publicado na revista Marine Fisheries Review, a dieta da beluga também muda à medida que o espécime cresce. Os jovens tendem a consumir pequenas presas como caranguejos e camarões, enquanto os adultos buscam presas maiores.
Ao contrário do que se possa pensar, as belugas comem as suas presas inteiras ou em pedaços grandes. Embora tenham dentes, estes não são tão compridos e dificultam a trituração. Essa é a principal razão pela qual esses animais preferem engolir a comida em vez de mastigá-la.
O comportamento da beluga
Essa espécie tem um comportamento calmo e controlado, razão pela qual passa a maior parte da vida nadando lentamente pelo seu habitat. Ao contrário de outras “baleias”, a beluga não costuma pular ou sair da água com frequência.
Porém, de vez em quando ela precisa subir à superfície para respirar. Contudo, basta que tire apenas seu espiráculo —orifício respiratório— para subsidiar sua demanda de oxigênio.
Durante o inverno, algumas populações de belugas optam por migrar para áreas mais quentes, nas regiões subárticas.
Sobre esse deslocamento, um estudo da revista Polar Biology, publicado em 2014, menciona que essa parece ser uma adaptação devido à falta de recursos da época. Da mesma forma, existe alguma fidelidade aos seus criadouros.
Outro aspecto interessante é que a beluga segue a mesma rota migratória de seus ancestrais. Isso significa que seus movimentos podem ser previstos. Diante disso, caçadores e alguns predadores se aproveitam desse traço comportamental para capturá-la.
Esse mamífero marinho é uma espécie social que gosta de viver em grupos de 2 a 10 membros. Em épocas de migração, esse número pode aumentar demais momentaneamente. De qualquer forma, isso depende muito da densidade populacional da área.
Vocalizações
As vocalizações da beluga lembram um pouco as dos golfinhos. No entanto, os padrões e a intensidade são diferentes, tanto que parece regido por uma “linguagem” complexa e desconhecida. De acordo com um estudo publicado no The Journal of the Acoustical Society of America, descobriu-se que as belugas têm pelo menos 34 tipos diferentes de vocalizações.
Embora ainda seja muito cedo para dizer o que cada um desses sons significa, foi demonstrado que eles são usados com certos padrões predeterminados. Conforme mencionado em um estudo divulgado pela revista Marine Biology, as belugas têm vocalizações especiais para comunicação de longa e curta distância.
Reprodução
A reprodução da beluga ocorre antes da migração invernal, portanto tem um intervalo de duração que vai da primavera ao outono. O objetivo é que as fêmeas tenham seus filhos em áreas com águas “quentes” e recursos abundantes.
As belugas são polígamas e tanto os machos quanto as fêmeas acasalam com múltiplos parceiros. De fato, de acordo com um artigo publicado na revista Aquatic Mammals, existe competição espermática na espécie. Isso significa que o macho que fertiliza a fêmea é aquele que produz os espermatozoides “mais aptos” e mais rápidos, o que funciona como uma força de seleção natural.
A gestação da beluga dura aproximadamente 14 meses e dá origem a um único filhote. Assim que nasce, o pequeno fica dependente da mãe por pelo menos 2 anos. Essa é uma das razões pelas quais as belugas têm apenas um filhote a cada 3 anos.
Estado de conservação
A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) classifica a beluga como uma espécie “pouco preocupante”. Isso se deve à falta de informação que existe sobre suas populações. Dessa forma, é impossível atribuir um nível de risco de acordo com a sua situação.
No entanto, diferentes governos locais —como o Alasca— relataram uma redução alarmante no número de belugas perto de suas costas. Consequentemente, alguns países classificam a espécie como “ameaçada” ou “em risco”. Embora não tenha muitos predadores, as belugas enfrenta outros perigos: a caça, a poluição de seu habitat e as mudanças climáticas.
Mamíferos marinhos enigmáticos
Como se vê, as belugas são animais interessantes que guardam várias curiosidades. Embora muitos aspectos deles sejam desconhecidos, é claro que é um animal marcante e de grande importância econômica e biológica.
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