O que os cães sentem quando mudam de tutor?
Há momentos em que um cachorro que passou a vida inteira em uma casa deve deixá-la. Existem vários motivos legítimos para que isso possa ser uma realidade: uma mudança, uma morte, problemas financeiros ou dificuldades de resolução de divergências com outros animais da casa. Nessas circunstâncias, é comum se perguntar: os cães sofrem ao trocar de tutor?
Da noite para o dia, sua rotina mudará completamente, assim como as pessoas que estarão ao seu redor a partir daquele momento. Ao ir viver com outra família, sua adaptação dependerá de diversos fatores, como raça, idade e ambiente. Descubra todos os detalhes!
Os cães sempre se lembrarão dos seus antigos tutores?
A conexão que os humanos têm com os cães não é novidade. O Canis lupus familiaris é o primeiro cão domesticado da história e está conosco há mais de dez mil anos, por isso as duas espécies aprenderam muito uma com a outra.
Hoje em dia, sabe-se que os cães são capazes de reconhecer emoções nas pessoas e sentir empatia por elas. Isso os ajuda a criar fortes conexões emocionais com seus cuidadores. Então, o que acontece quando o cachorro muda de tutor? Ele se lembra da sua família anterior?
A resposta curta é sim. No entanto, isso não significa que um cão não possa se adaptar à sua nova família ou que passará a vida sentindo falta dos seus tutores anteriores.
Pesquisas nesse sentido descobriram que os cães, como quase todos os animais, exceto os humanos, têm uma memória de curto prazo de apenas dois minutos. Em outras palavras: sua capacidade de reter informações sobre uma ação anterior ao momento imediato é muito reduzida.
Por outro lado, a memória de longo prazo do cão é associativa: ele consegue se lembrar de acontecimentos do passado, caso haja algum estímulo sensorial. Vamos imaginar, por exemplo, que você usa um perfume e tem uma relação muito positiva com seu animal de estimação. Aí o novo tutor do cão compra o mesmo perfume que você usava. É provável que o animal associe esse cheiro a emoções positivas, lembrando-se do conceito que você representava para ele.
Outra pesquisa descobriu que os cães podem ter algumas memórias episódicas. Por exemplo, um estudo da Universidade Eötvös Loránd, em Budapeste, descobriu que os cães se lembram de eventos passados complexos.
O que um cachorro sente quando se separa de seu tutor?
Como animais sociais, os responsáveis se preocupam com o sofrimento que a mudança de cuidador pode causar ao cão. Portanto, as transformações que são geradas em relação ao seu ambiente e às pessoas que veem todos os dias podem afetá-los em maior ou menor grau, dependendo do caso.
Por exemplo, às vezes o cão pode apresentar algum tipo de comportamento problemático no início, até se acostumar com o novo ambiente. No entanto, a tendência é melhorar nas próximas semanas. Algumas das sensações que o cão pode experimentar nesse período são as seguintes:
- Confusão e desorientação: os cães são animais muito territoriais e conhecem muito bem o ambiente em que se movimentam. Se mudarem repentinamente de casa, é muito provável que se sintam perdidos.
- Estresse ou ansiedade: o estresse é um mecanismo de defesa que prepara os cães para situações potencialmente perigosas. Mesmo que não haja risco real, os cães podem sentir ansiedade e expressá-la com latidos, choro ou estereotipias, que são sequências repetitivas que parecem não ter qualquer propósito, como morder o rabo.
- Desconfiança: se for levado para um novo lar com pessoas desconhecidas, não é incomum que o animal sinta desconfiança ou até mesmo apresente algum tipo de comportamento agressivo.
- Depressão: em casos muito graves, se o cão estiver sofrendo com a troca de cuidadores, poderá desenvolver depressão. Isso causaria perda de apetite e, consequentemente, ele perde peso e energia. Ajudar um cão com depressão requer conhecimento multidisciplinar, por isso é importante levá-lo ao veterinário, se for o caso.
- Curiosidade: nem todos os sentimentos são negativos. Às vezes, o cão pode apresentar sinais de excitação ao se deparar com novos cheiros, pessoas e espaços, o que indica uma adaptação positiva.
- Necessidade de reconhecer hierarquias: acima de tudo, se houver outros animais na casa, o cão tentará compreender o seu lugar na nova estrutura familiar. Dependendo do caso, ele pode tentar exercer a liderança ou manter uma atitude mais submissa.
- Felicidade e busca por segurança: por fim, um cão também pode se sentir feliz assim que chega ao seu novo lar e tenta obter o carinho e a companhia de seus cuidadores.
Como um cachorro se adapta a um novo lar?
O processo de adaptação dependerá de vários fatores, como os seguintes:
- Raça: o golden retriever, o cão pastor Shetland ou o collie de pelo curto são raças mais sociáveis, dóceis e adaptáveis. Por outro lado, os chihuahuas, por exemplo, podem ficar mais ansiosos com um novo lar.
- Socialização: animais de estimação que tiveram mais interação com outras pessoas ao longo da vida precisarão de menos tempo para se adaptarem a um novo lar.
- Ambiente: um ambiente seguro e confortável é essencial para a melhor adaptação possível. Isso envolve um local de descanso, comida, água, estímulo e carinho.
- Idade e experiência: é claro que os filhotes ficarão muito mais curiosos sobre um novo lugar. Por outro lado, um cão adulto com uma rotina estabelecida há anos pode demorar mais para se adaptar.
Você pode estar se perguntando: quanto tempo leva para um cachorro se acostumar com seu novo ambiente? Isso, é claro, dependerá dos fatores que acabamos de discutir. No entanto, pode-se dizer, em termos gerais e com base em evidências anedóticas, que leva cerca de 15 dias para um cão se adaptar a um novo lar.
Os cães conseguem seguir em frente!
Se houver um motivo de força maior que o impeça de continuar convivendo com seu companheiro peludo e você teme o sofrimento que a mudança de responsabilidade pode causar, é importante saber que os cães são capazes de seguir em frente. Os cães não sentem tristeza ou abandono da mesma forma que nós os sentimos.
É claro que eles podem se sentir ansiosos e confusos até que as coisas fiquem um pouco mais claras para eles. Então, o ideal é acompanhar esse processo com carinho, estímulo e cuidados adequados no novo lar.
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