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Caranguejo-ferradura: características e curiosidades

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O caranguejo-ferradura é um artrópode, portanto, para atingir seu tamanho máximo, ele precisa fazer a muda de seu exoesqueleto. Muitas vezes as mudas chegam às praias e são confundidas com espécimes mortos.
Caranguejo-ferradura: características e curiosidades
Cesar Paul Gonzalez Gonzalez

Escrito e verificado por o biólogo Cesar Paul Gonzalez Gonzalez

Última atualização: 21 dezembro, 2022

O caranguejo-ferradura é um artrópode marinho que se caracteriza por ter uma forma achatada e convexa. Além disso, possui uma carapaça extremamente dura, que utiliza como defesa. Apesar do nome, os parentes mais próximos desse caranguejo são do grupo Arachnida – escorpiões e aranhas – portanto não é um caranguejo propriamente dito.

Para o mundo, esse organismo é importante por duas razões: por ser um fóssil vivo e pelas propriedades do seu sangue. Por isso, tornou-se uma espécie com grande potencial nas áreas da medicina e da pesquisa. Continue lendo para descobrir mais sobre esse artrópode de sangue azul.

Características e forma do caranguejo-ferradura

O caranguejo-ferradura, também chamado de ‘límulo’ (Limulus polyphemus), é uma espécie aquática que possui uma impressionante carapaça (exoesqueleto) como defesa. Se você olhar de cima, verá um organismo marrom em forma de ferradura com uma cauda bastante longa, que pode chegar a 60 centímetros de comprimento.

Logo de cara, é possível distinguir 3 sessões em seu corpo: prossoma (cabeça em forma de ferradura), opistossoma (zona intermediária com alguns espinhos) e télson (a cauda). Esse é o plano corporal comum de todas as espécies de merostomado (Xiphosura), os táxons que englobam o caranguejo-ferradura.

Sua carapaça limita muito seus movimentos. As únicas regiões com mobilidade são as áreas onde as 3 partes do corpo estão divididas. Assim como as tartarugas, seu maior inimigo é ficar virado de barriga para cima, pois é muito difícil para eles voltar sozinhos. Para isso, usam a cauda como alavanca e conseguem voltar à posição inicial.

Visto de cima, é possível notar em sua cabeça o formato de uma ferradura ou um U invertido. Nessa área, destacam-se duas protuberâncias, uma em cada canto. Além disso, na segunda metade do corpo há alguns espinhos móveis, terminando com uma cauda muito chamativa, que mais parece um espinho alongado.

Dependendo da espécie, pode ter até 4 olhos, um em cada protuberância, e exatamente no centro, 1 ou 2 ocelos. Embora os caranguejos-ferradura possam enxergar perfeitamente, lembramos que seus olhos são bastante simples, então eles mal conseguem detectar mudanças de luminosidade.

Ao observar um espécime de baixo, será possível notar 6 pares de patas, que são bastante semelhantes às de um caranguejo. A maioria dos membros termina em forma de pinça, o que permite ao animal se mover e segurar sua presa quando se alimenta.

 

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Do que esse animal se alimenta?

Esse organismo se alimenta de crustáceos, vermes, mexilhões, amêijoas e alguns peixes. Suas vítimas são devoradas pela boca que, contudo, não conta com dentes para mastigá-las. Por isso, o processo de digestão deve começar antes de a presa entrar na boca do animal.

Esse mecanismo é acionado por meio de sua pinça, usada para picar seus alimentos. Depois, o caranguejo-ferradura leva o alimento para perto do estômago, onde pode triturá-lo ainda mais, usando espinhos que se projetam de suas patas. Esses espinhos funcionam como dentes externos, por isso também são chamados de gnatobases.

Talvez você considere um pouco complicada essa forma de alimentação, mas para esse artrópode, isso não significa nada. Para evitar problemas, ele possui uma estrutura, logo após a boca, que serve como mecanismo coletor. Então, quando algo sai da boca, fica preso nessa protuberância e o animal pode pegá-lo facilmente.

Como o caranguejo-ferradura respira?

Como é uma espécie marinha, tem guelras para respirar. Essas guelras estão presentes em forma de lâminas na região do opistossoma. Na verdade, estão cobertas pelo que se denomina ‘opérculo genital’, que é a região por onde saem os óvulos e os espermatozoides.

Uma vez que as guelras retiram oxigênio direto da água, elas o transferem para o sistema circulatório. Embora seja um artrópode, o sistema circulatório é bastante complexo, com células que se parecem com linfócitos (amebócitos) e células que se parecem com eritrócitos (cianócitos).

Normalmente, a cor do nosso sangue é vermelha graças ao grupo heme dos eritrócitos, que tem o ferro como átomo central. Por sua vez, o caranguejo-ferradura possui cianócitos que contêm hemocianina, que tem o cobre como átomo central. Essa diferença é o que faz com que seu sangue seja azul.

Reprodução

Nessa espécie, é possível diferenciar entre machos e fêmeas, pelo formato das pinças em seu primeiro par de patas. A pinça masculina não está totalmente desenvolvida, parecendo-se mais com uma luva. Nas fêmeas, a pinça é igual à de outras patas.

Pode parecer não fazer sentido, mas a realidade é que essa simples característica tem muita utilidade para o macho. Graças a essa ‘luva’, o macho pode agarrar a fêmea e ancorar-se a ela nas épocas de reprodução.

A fecundação ocorre externamente, o que significa que a fêmea põe os ovos e depois o macho chega para fertilizá-los. Se o macho se agarrar à fêmea o tempo todo, ele será o primeiro a fertilizar os ovos, e é por isso que os machos precisam desse formato de luva em suas patas, em vez de pinças.

A postura dos ovos ocorre na areia da praia. Normalmente, só tem uma época de acasalamento na primavera, mas algumas espécies do sul podem ter até duas. Ocorre apenas com a maré alta, pois a fêmea precisa fazer um buraco para depositar os ovos e manter o ninho escondido durante a maré baixa.

Quase um trilobita

Talvez em algum momento você tenha ouvido falar de criaturas fósseis chamadas trilobitas. Esses artrópodes apareceram pela primeira vez no Paleozoico, mas diminuíram e desapareceram há cerca de 250 milhões de anos.

Curiosamente, o caranguejo-ferradura tem um estágio larval em forma de trilobita (trilobitiforme), indicando sua relação com esses ancestrais artrópodes.

E as semelhanças não param por aí, já que essa espécie faz parte de um grupo de organismos (Xiphosura), que surgiu há mais de 200 milhões de anos, portanto, existem espécies fósseis quase idênticas ao caranguejo-ferradura, como o Mesolimulus walchii.

Isso significa que a morfologia da espécie não mudou muito ao longo de milhões de anos, por isso ela é conhecida como um fóssil vivo.

Sangue da realeza

Como mencionado, esse caranguejo tem um sistema circulatório bastante complexo, por meio do qual circula sangue azul. Esse sangue é importante, pois coagula na presença de bactérias, possibilitando sua utilização em testes químicos.

Além disso, ele também escurece quando encontra bactérias em meios de cultura, como a salmonela. Por isso, é usado como um método de detecção bacteriana simples, mas eficaz.

Esse sangue azul também parece ter efeitos positivos no combate ao HIV, pois pode ter a capacidade de reduzir a atividade do vírus da imunodeficiência humana, conforme apontam estudos. Isso seria possível por meio de proteínas que estão presentes no sangue, como a polifemusina e a taquiplesina.

Caranguejo-ferradura multiuso

Se já não bastasse, esse artrópode também é usado como isca para a pesca de enguias e moluscos, além de servir como fertilizante na agricultura e como alimento para o gado. Além disso, na natureza, costuma fazer parte da dieta de algumas tartarugas marinhas. Inclusive, seus ovos são a comida preferida de aves e caranguejos.

Perigos e conservação do caranguejo-ferradura

Infelizmente, essa espécie está classificada como vulnerável, com declínios populacionais claros, mas não muito preocupantes. A principal razão pela qual seus números caíram é por causa da pesca acidental.

Por ser uma espécie de vida bastante longa, pode viver cerca de 20 anos, mas leva muito tempo para se reproduzir. Por exemplo, uma fêmea precisa completar 10 ou 11 anos de idade para se tornar fértil. Isso dificulta a manutenção de sua população, além do risco inerente de apresentar uma maturação sexual tardia.

 

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Embora os benefícios que podem ser obtidos com essa espécie sejam bastante bons, se for superexplorada, ela pode desaparecer. Felizmente, foram encontradas várias maneiras de contornar isso, mas apenas por enquanto. Se o sangue desse organismo mostrar capacidade de produzir drogas úteis, posteriormente seu uso terá que ser mais controlado ainda.


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