Como é a reprodução das raias?
Escrito e verificado por o biólogo Samuel Sanchez
As raias ou batoídeos são um enigma para a população em geral. Não se sabe muito sobre elas e, além disso, é muito difícil encontrá-las naturalmente, visto que habitam o fundo do mar e raramente se aventuram visivelmente em praias e costas. Por tudo isso, é normal não saber como é a reprodução das raias e outras de suas peculiaridades.
Nesta ocasião, faremos uma breve revisão da superordem Batoidea e suas estratégias reprodutivas. Se você deseja saber como as raias trazem vida a este mundo, recomendamos esta leitura.
O que são as raias?
Antes de entrarmos totalmente em seu método de reprodução, achamos interessante situar taxonomicamente as raias na árvore da vida. Em primeiro lugar, deve-se observar que todas elas são peixes cartilaginosos (elasmobrânquios), por isso compartilham um grupo superior com seus parentes mais próximos e famosos: os tubarões. Muitas são marinhas, mas também existem espécies de rios.
As raias (superordem Batoidea) são o maior grupo de peixes cartilaginosos, com mais de 600 espécies divididas em 26 famílias diferentes. Todas elas têm algumas características corporais comuns: esqueleto maleável composto de cartilagem (daí o nome de seu táxon), corpo achatado, fendas branquiais ventrais e formato discoidal.
A maioria dos batoídeos tem uma boca localizada ventralmente com dentes poderosos que são usados para quebrar as conchas de invertebrados no fundo do mar, como mariscos, caranguejos e caracóis. As raias do gênero Mobula representam a exceção à regra, pois se alimentam do plâncton que filtram à medida que a água passa por suas bocas.
As raias são parentes próximos dos tubarões. Ambos são peixes cartilaginosos com esqueleto maleável.
Como é a reprodução das raias?
Agora que você sabe um pouco mais sobre os batoídeos e seu modo de vida, estamos prontos para contar como as raias se reproduzem. Em primeiro lugar, é necessário enfatizar que todas apresentam um sistema de fecundação interna, ou seja, que ocorre dentro do corpo da fêmea. Essa estratégia é muito diferente da dos peixes ósseos marinhos.
A maioria dos animais aquáticos opta por liberar seus óvulos para o meio ambiente e fertilizá-los na água, uma vez que é um ambiente pelo qual os espermatozoides podem viajar sem muitos problemas (ao contrário da terra). Com a fertilização interna, as raias conseguem o seguinte:
- A fêmea é capaz de manter o esperma dentro de si. Isso permite que às vezes haja mais de um pai em um único evento de gestação, o que varia a carga genética da prole e evita a endogamia.
- Os ovos não são expostos prematuramente aos predadores e às inclemências do ambiente.
- Toda a energia investida na produção de espermatozoides e óvulos se traduz em descendência e não se dispersa pelo ecossistema aquático, como ocorre em muitos casos na fertilização externa.
Um mecanismo intrincado
Para fertilizar a fêmea, os machos têm um par de estruturas chamadas claspers ou pterigopódios. Esses órgãos são modificações das nadadeiras pélvicas ventrais e, em espécimes adultos, são reforçados com sais de cálcio. Curiosamente, os claspers estão conectados a um sifão, cuja função é se encher com água para misturá-la com o esperma e propulsá-la.
Quando as raias vão se reproduzir, o macho “infla” um de seus pterigopódios com a ajuda do sifão e o introduz na cloaca da fêmea. Nesse ponto, o órgão sexual do macho se abre como um guarda-chuva dentro de sua parceira e há uma evidente ejaculação da mistura água-esperma produzida graças ao sifão. Sem dúvida, essa fertilização é tão arcaica quanto surpreendente.
Agora, o que acontece quando o esperma do macho atinge os ovários da fêmea? A partir daqui, ocorrem algumas estratégias de gestação específicas. Vamos descobri-las nas seguintes linhas.
Raias ovíparas
A oviparidade é a estratégia escolhida por 30% das raias e tubarões do mundo, conforme indicado pelo portal Ocean Adventures. Nesses casos, a fêmea bota os ovos no fundo do mar ou entre as algas, mas como o esperma do macho já os fecundou, eles podem ter uma casca dura e maior proteção do meio ambiente.
Um exemplo muito interessante de oviparidade nas raias é a espécie Leucoraja erinacea. As fêmeas botam 2 vezes ao ano (outubro-dezembro e abril-maio) e podem produzir até 35 ovos por ano. Esses ovos são depositados em profundidades rasas (não mais que 27 metros) e são de cor preta, com “chifres” ocos e pegajosos em cada extremidade.
Cada envoltório contém um único embrião, e os chifres nas pontas fixam o ovo ao substrato, evitando que seja arrastado pela maré.
Raias ovovíparas
Após a reprodução nas raias ovovivíparas, as fêmeas não põem ovos. Nessa estratégia, elas dão à luz indivíduos juvenis já formados, mas não há conexão direta entre mãe e filho por meio de uma placenta (como ocorre nos humanos). Simplificando, o feto se alimenta da gema do seu ovo, mas se desenvolve no corpo da mãe.
Um exemplo claro dessa estratégia é a raia-pintada (Aetobatus narinari). Ao contrário do caso anterior, a fêmea fertilizada mantém os ovos dentro de seu corpo, onde eles eclodem, então os filhotes devem se alimentar das reservas nutricionais até saírem. Na hora do parto, medem de 16 a 35 centímetros, e sua morfologia é semelhante à adulta.
Essa estratégia tem uma clara vantagem e uma clara desvantagem em relação à modalidade ovípara. Podemos resumi-las em 2 pontos:
- A raia-pintada só pode dar à luz 4 filhotes por evento reprodutivo, em comparação com os 10-35 ovos das espécies ovíparas. Manter a prole dentro do corpo da mãe implica um grande sacrifício no que diz respeito ao número de descendentes.
- A probabilidade de sobrevivência da prole é muito maior na estratégia ovovivípara. Um ovo sempre será mais frágil e sujeito à predação do que um indivíduo jovem já formado.
A reprodução das raias depende das espécies analisadas.
Notas finais sobre a reprodução das raias
Como você pode ver, a reprodução desses peixes cartilaginosos é muito mais sofisticada do que se poderia imaginar. Em qualquer caso, tudo o que foi dito acima pode ser resumido em uma ideia: a oviparidade prioriza a quantidade, enquanto ovoviviparidade promove a “qualidade” da prole. Cada uma dessas estratégias tem seus prós e contras.
Em última análise, deve-se notar que em espécies de raias ovovivíparas é muito comum que ocorram abortos espontâneos após a pesca (até 12% das espécies). Esse é um grande problema, pois os batoídeos são animais que demoram muito para amadurecer sexualmente e a reprodução custa muito caro para eles.
Perder um filho é prejudicial para as populações de raias que já se encontram em situação vulnerável. Por isso, é necessário refinar as técnicas de pesca e acabar com as práticas de arrasto que levam consigo tudo o que está em seu caminho, seja comercialmente relevante ou não. As raias merecem ser conhecidas, mas sua preservação também é necessária para continuar a desfrutar de sua existência.
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