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Os corpos brilhantes dos besouros-espelho não agem como camuflagem

4 minutos
A camuflagem é uma estratégia antipredatória que altera a aparência da espécie para passar despercebida por seus predadores.
Os corpos brilhantes dos besouros-espelho não agem como camuflagem
Cesar Paul Gonzalez Gonzalez

Escrito e verificado por o biólogo Cesar Paul Gonzalez Gonzalez

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A camuflagem é uma estratégia antipredatória bastante comum em insetos, pois permite que eles passem despercebidos simplesmente permanecendo estáticos. No entanto, existem algumas espécies, como os besouros-espelho, que se caracterizam por terem corpos brilhantes, que se pensava agirem como camuflagem.

Inicialmente, pensava-se que os besouros-espelho eram capazes de usar seu corpo como um espelho refletindo seus arredores. Dessa forma, eles conseguiriam passar despercebidos por seus predadores. No entanto, um estudo recente parece indicar que esses insetos não usam seus corpos brilhantes como camuflagem. Continue lendo e descubra para que serve esse curioso recurso.

Quem são os besouros espelho?

Os besouros-espelho pertencem à ordem Coleoptera, que inclui outros animais bem conhecidos, como gorgulhos e joaninhas. Seu corpo tem uma forma oval e uma textura lisa, que permite refletir a luz como se fosse um espelho. Isso, aliado às cores vivas que costuma apresentar (verde, vermelho, azul, entre outras), faz com que seu corpo seja visto com tons metálicos.

O corpo desses insetos é composto de três regiões: a cabeça, o tórax e o abdômen. Ao contrário da crença popular, a única região visível é a cabeça, enquanto o tórax e o abdômen geralmente são cobertos por asas endurecidas chamadas élitros. Na verdade, a coloração metálica brilhante só é vista na cabeça e nos  élitros, já que o resto do corpo tem outras tonalidades.

Embora compartilhem a mesma característica de refletir a luz, os besouros-espelho não pertencem à mesma espécie. Além disso, eles nem sequer fazem parte das mesmas famílias. Portanto, há uma grande variação de tamanhos e formas neste grupo.

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Por que os besouros-espelho brilham?

No início, acreditava-se que o brilho dos besouros-espelho era uma espécie de camuflagem que permitia que refletisse seus arredores para se esconder. Visto de outra forma, os predadores não conseguiriam encontrar os besouros porque veriam apenas um “espelho” que refletiria a natureza. No entanto, não existia nenhum estudo que confirmasse ou negasse essa capacidade.

Em 2021, um grupo de pesquisadores da Universidade de Melbourne decidiu confirmar essa teoria. Para isso, usaram réplicas de besouros com a mesma capacidade de refletir a luz dos besouros-espelho, além de outras réplicas que tinham uma coloração mais opaca. Essas cópias ficaram escondidas em uma floresta e várias pessoas foram convidadas a tentar encontrá-las.

O experimento assumiu que, se a hipótese da camuflagem fosse verdadeira, os participantes levariam mais tempo para encontrar as réplicas que se assemelhassem a besouros-espelho. Enquanto as réplicas com colorações opacas deverim ser mais fáceis de encontrar.

Um resultado inesperado

Os resultados do experimento surpreenderam os cientistas, pois os participantes levaram o mesmo tempo para encontrar os dois tipos de réplicas. Isso significava que os corpos brilhantes dos besouros-espelho não tinham nenhuma função especial como camuflagem.

Embora esse resultado fosse bastante evidente, os humanos não têm a mesma visão que os predadores de besouros. Por esse motivo, ainda havia a possibilidade de a camuflagem funcionar apenas naqueles animais que costumavam comer besouros.

Para tirar dúvidas, os pesquisadores realizaram um segundo experimento com a mesma metodologia, mas agora, em vez de pessoas, usaram pássaros. Como esperado, o resultado deste novo teste foi exatamente o mesmo do anterior. As aves se alimentaram igualmente dos dois tipos de réplicas, confirmando que o corpo brilhante dos besouros-espelho não servia de camuflagem.

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Para que serve o corpo brilhante dos besouros?

Apesar dos resultados obtidos neste estudo, fica claro que o corpo brilhante dos besouros-espelho tem uma função ainda desconhecida. Pode-se afirmar isso porque a natureza só favorece aquelas características que são vantajosas para a espécie.

De fato, um artigo de 2017 publicado na Scientific Reports mencionou que o brilho de alguns besouros poderia servir como um sinal aposemático. Em outras palavras, ajuda a alertar os predadores de que a espécie tem um gosto ruim e não deve ser comida.

Esse efeito já é visível em outras espécies como as cobras-corais, que possuem a pele colorida alertando os predadores sobre sua toxicidade. O objetivo dos sinais aposemáticos é reduzir a predação por meio de avisos coloridos, que se encaixam perfeitamente com a aparência brilhante do besouro-espelho.

Embora os corpos brilhantes dos besouros-espelho não sirvam de camuflagem, isso não significa que não tenham funcionalidade. É necessário enfatizar que o processo evolutivo se encarrega de alterar as características físicas da espécie, de modo que a maioria das características oferece vantagens ao organismo. A aparência física dos animais não é aleatória, mas está bem adaptada ao ambiente para sua sobrevivência.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Waldron, S. J., Endler, J. A., Valkonen, J. K., Honma, A., Dobler, S., & Mappes, J. (2017). Experimental evidence suggests that specular reflectance and glossy appearance help amplify warning signals. Scientific reports, 7(1), 1-10.
  • Franklin, A. M., Rankin, K. J., Ospina Rozo, L., Medina, I., Garcia, J. E., Ng, L., … & Stuart‐Fox, D. (2022). Cracks in the mirror hypothesis: high specularity does not reduce detection or predation risk. Functional Ecology, 36(1), 239-248.
  • Dakari, A., Triantafillou-Rundell, M., Papadopoulos, A., Skoulas, E., Stratakis, E. & Trichas, A. (2019). Elytral UV, visible and infrared reflectivity and absorbance on mountaintop beetles: the case of Dendarus spp. (Coleoptera: Tenebrionidae) of lowland and high elevations of Crete. Conference: 14th ICZEGAR – International Congress on the Zoogeography and Ecology of Greece and Adjacent Regions, 27-30.

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